Polopiqué: Tribunal nomeou o mesmo administrador para as insolvências e para o PER
Há trabalhadores que consideram que as duas posições são incompatíveis e que dizem que os seus interesses vão sair lesados.

© Rui Dias / Mais Guimarães
O administrador de insolvência da Cottonsmile e da Polopiqué Tecidos, chamou, esta terça-feira, os 274 trabalhadores, à sede do grupo, em Vilarinho, Santo Tirso, para lhes dizer que vai ser tudo feito legalmente, mas que não vão, para já, receber o que lhes é devido pelas empresas. Estão em atraso o subsídio de férias, o mês de agosto e, agora, os dias de setembro e direitos por cessação do contrato de trabalho. Os trabalhadores tiveram acesso aos documentos que lhes permitem requerer o Fundo de Desemprego.
O facto de o administrador da insolvência das duas sociedades ser a mesma pessoa que está a gerir o Plano Especial de Revitalização (PER) de outras duas empresas do grupo, deixou vários trabalhadores desconfiados quanto à possibilidade de ele poder zelar pelos seus interesses e pelos da sobrevivência do grupo têxtil que tem mais de 66 milhões de euros de dívidas.
Depois de terem sido dispensados, por correio eletrónico, em agosto, os funcionários da Cottonsmile e da Polopiqué Tecidos ficaram sem salário, sem acesso à empresa e sem possibilidade de poderem pedir o Fundo de Desemprego ou aceitar outro posto de trabalho. Alguns estavam numa situação aflitiva e hoje, com a formalização da cessação do contrato de trabalho, ficaram mais tranquilos. “A vida pode seguir”, dizia um trabalhador à saída da reunião, esta tarde.

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Ao mesmo tempo que apresentou a Cottonsmile e a Polopiqué Tecidos à insolvência, o grupo apresentou um Plano Especial de Revitalização (PER) para a Polopiqué Confeção e para a Polopiqué Acabamentos, anunciando a intenção de reduzir o número de trabalhadores dos atuais 800, para metade. A empresa terá pedido ao tribunal que nomeasse para o PER e para as duas insolvências o mesmo administrador e a solicitação foi atendida.
“Como é que ele pode estar a defender o interesse da empresa e ao mesmo tempo o nosso?”
Os trabalhadores é que não estão conformados com o facto de a administração da insolvência e do PER serem desempenhadas pela mesma pessoa. “Como é que ele pode estar a defender o interesse da empresa e ao mesmo tempo o nosso?” – pergunta Maria José Costa, uma das funcionárias. “Como administrador do PER ele vai querer pagar o menos possível, porque é o melhor para a sobrevivência do grupo. Mas, como administrador da insolvência, devia estar preocupado em pagar aos credores, como nós. Parece-nos que são duas posições incompatíveis e o tribunal aceitou que fosse assim a pedido da Polopiqué”, lastima.
Só vai haver dinheiro na conta no fim de outubro
Com o despedimento concretizado, os trabalhadores, agora, já podem pedir o Fundo de Desemprego, mas a Segurança Social só lhes vai pagar a primeira prestação no final do mês de outubro. Até lá, os mais necessitados vão recebendo ajuda dos colegas, que fizeram uma angariação de bens alimentares para esse efeito. Os funcionários da produção, como as costureiras, ao que parece não terão dificuldade em arranjar novas colocações, já que, durante os dias em que fizeram piquete em frente à sede da Polopique passaram por lá vários empresários a fazer ofertas de trabalho. “Para os que forem mais velhos, pode ser mais complicado”, sinaliza Maria José.
O grupo Polopiqué é detido pelo seu fundador Luís Guimarães e pela ex-mulher Filipa Guimarães e tem uma dívida de 66,5 milhões de euros, a 420 credores, entre os quais se destacam os bancos e a Inditex.
Pelo jornalista Rui Dias.