A PROPÓSITO DO SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE EMPRESAS FAMILIARES REALIZADO EM GUIMARÃES

Por ESSER JORGE SILVA SociólogoUma empresa, a certo momento constituída […]

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Por ESSER JORGE SILVA

SociólogoUma empresa, a certo momento constituída sob traços de participação familiar, não tem de ser, forçosamente, um empreendimento familiar à partida. A empresa familiar é, de todo em todo, o resultado da manifestação de laços fortes que amarram as pessoas umas às outras. Por esse motivo, a natureza da empresa familiar interliga-se com o encontro entre vidas que geram outras vidas, num sucessório de dinâmicas. A experiência do empreendimento a partir da célula familiar é uma característica fundamental vertida nas sociedades no seu todo.
Tome-se o exemplo do empreendimento português: este nasce da entrega de uma porção de território pelo rei de Castela a um dos seus ativos elemento nas campanhas de expulsão dos árabes da Península Ibérica e, em simultâneo, ao casamento da filha de Afonso com esse guerreiro chamado D. Henrique. Se presidisse a estática, o Condado Portucalense ficaria por aqui. Mas, tal como acontece em quase todas as empresas familiares, vigora a iniciativa e o arrojo. Neste caso introduzem-se, inclusive, dissensões, por vezes dramáticas. Deve ter sido muito difícil ao filho do Conde D. Henrique ter enfrentado a mãe quando esta quis guiar o empreendimento para um fim menos empreendedor.
A circunstância do ato fundador da nação portuguesa estar atravessada pelas várias vertentes da perspetiva familiar, e o facto do tecido empresarial vimaranense se constituir, maioritariamente sob esta égide, levou a que o Seminário Internacional das Empresas Familiares se realizasse em Guimarães. Disso se apercebeu, imediatamente, a Câmara de Guimarães que, além de receber o evento, prestou inexcedível apoio na sua divulgação. Este apoio tem de ser compreendido dada a declarada predisposição política de Domingos Bragança em provocar o envolvimento do tecido social vimaranense com a vertente universitária.
Mas, apesar da ampla participação e da resposta genérica dos empresários nortenhos, as empresas familiares vimaranenses tendem para o desvalorizar do aprofundamento da natureza das suas empresas. É sintomática a resposta de várias empresas ao convite que lhes foi efetuado: “a essa hora estamos a trabalhar”. Ora não perceber que um estudo desta dimensão deve ser inserido na valorização do setor, é também não perceber a força social que representa o próprio empreendimento familiar. A empresa pode continuar a laborar ao mesmo tempo que se empresta o tempo empresarial a
Manuel Bermejo, especialista da dimensão familiar nas empresas espanholas, explicou como a importância deste tipo de empresas levou à criação do Instituto das Empresas Familiares Espanholas. Seguem agora o princípio das empresas familiares italianas que, estando contabilizadas à volta dos 98% das unidades locais, conseguem ter força para impor vantagens fiscais quando a empresa é familiar. E perseguem, deste modo, orientações da Comunidade Europeia que vê nas Empresas Familiares, algo mais do que simples organizações económicas. A contribuição dada para a coesão social pelas Empresas Familiares tem merecido uma atenção redobrada que releva a sua importância.
Ora, este estudo, realizado pelo Centro Interdisciplinar em Ciências Sociais, representa o efetivo e desejado envolvimento, sempre apregoado como necessário, entre a Universidade e a Cidade. Trata-se de avançar para além dos discursos e dar lugar à prática. O número de eventos que a Universidade do Minho realiza durante um ano, que são manifestamente dirigidas à sociedade civil, impõe que a mesma sociedade civil se predisponha a participar. É espectável que a própria sociedade civil perceba que, nestes casos, se trata de um serviço da Universidade à comunidade, Tal serviço terá então mais razão de ser, será mais útil e dará, por si, frutos que por vezes são, à partida, inimagináveis.
Mas este tipo de transferência do conhecimento académico dificilmente poderá ter utilidade se os empresários continuarem olhar para a Universidade apenas como a instituição cuja função é preparar a mão-de-obra esclarecida que engrossará as suas fileiras profissionais. Conhecimento é, neste caso, também descobrir e, a partir daí agir. Olvidando, ativamente, a sua natureza diferenciada, as empresas familiares em Portugal não se distinguem das outras. Provavelmente por falta de consciencialização do seu valor, das suas idiossincrasias e da sua especificidade.

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