TENHO EM MIM TODOS OS SONHOS DESTE MUNDO

CARLOS RIBEIRO Diretor Executivo no Laboratório da Paisagem

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por CARLOS RIBEIRO

Diretor Executivo no Laboratório da Paisagem 

Escrever o que me vai na alma é o desafio deste espaço; esta alma vitoriana que nos inquina o pensamento, que nos torna mais emocionais do que racionais e que carrega as nossas análises de subjetividade. A mesma alma que dota cada frase da paixão que nunca temos pejo em revelar. Somos todos assim. Invariavelmente loucos, não raras vezes presidentes/treinadores/médicos/fisioterapeutas. “Queria ver-vos cá dentro, a ter de decidir”, dirão uns. “Queria ver-vos cá fora, a ter de sofrer” dirão outros. A verdade é que todos, sem exceção, ambicionamos festejar a “meio do caminho”, num qualquer estádio deste país.

Regressemos ao título desta crónica. Há uns meses, numa entrevista que realizei a Júlio Mendes, vi-o enredado num discurso demasiado castrador de sonhos. É verdade que ousar sonhar pode ter custos, mas acredito que não sonhar terá custos ainda maiores. Como diria Pessoa “Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma”. Contudo, pelo meio, admito que muitas vezes nos devam recordar os passos que hoje damos, após tanto tempo “ligados às máquinas”, tentando sobreviver. Incoerências? Não. Parece-me que ter a perfeita noção de onde viemos e de todo o trajeto difícil que fizemos nos tornará mais capazes de sonhar sem esquecer erros de outrora, “…à parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” Ora, precisamente esta semana ouvi discursos bem mais ousados. Quer de Pedro Martins, quer mesmo de Júlio Mendes em AG. Foi dele, aliás, a frase que quase nos “obriga” a sonhar: “temos uma das melhores equipas da história do clube” – mesmo que contrariada por uma história que se faz de 94 anos e repleta de contextos vários e jogadores geniais. Prefiro, contudo, esta segunda versão de discurso. Não quero que nos castrem os sonhos e quero que sejamos capazes de acreditar que vamos voltar a ser constantes no sucesso, sem que isso nos desligue da nossa realidade e obrigações.

Uma nota também para a repreensão de que fomos alvo. Não vou comentar a sanção que, – sem matéria criminal – acabaria sempre entre a “proibição” de E. M. Silva pagar quotas (i.e. expulsão de sócio) ou a possibilidade de as poder continuar a pagar (i.e. repreensão). Mas entendamos esta como uma repreensão para todos. Para os que percebendo que caminhávamos para o abismo não tiveram força para evitar o grassar da incompetência. Para os que lhe prolongaram o mandato. Para os que por omissão tudo permitiram. Para todos. Para que nunca voltemos a cometer os erros que tornavam tão atual o verso de Pessoa “Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado, sem pagar”. Felizmente muito mudou, e muito mérito deve ser dado a este elenco diretivo. Hoje podemos, de novo, “ter em nós todos os sonhos deste mundo”.

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