A Política e a Cosmética

Por César Teixeira.

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Por César Teixeira.

Sempre que o atual Governo passa por uma situação apertada, muito convenientemente surge uma manobra de diversão. Uma polémica. De imediato, toda a opinião publicada descentra a sua atenção da situação que colocava o Governo sob pressão. Impulsionado pela voracidade de um tsunami mediático o País dos políticos, dos jornais e das figuras publicas entra em ebulição. Emociona-se. Indigna-se.

Ato contínuo aquele que outrora era um problema relevante e sobre o qual todos os entendidos e os entendidos sobre tudo se iam pronunciando fica oculto. Sob uma cortina de fumo. Que confunde. Que esconde o verdadeiro problema. Que desconcentra a atenção e foca o debate num caso. Que tem tanto de polémico, como de instantâneo. A cosmética impera na ação política.

O Governo estava sob pressão em virtude da nomeação de José Guerra para a Procuradoria Europeia. Um órgão europeu que tem como objetivo principal a investigação de crimes financeiros, tais como fraudes na obtenção de subsídios e outros apoios financeiros. Posição relevante atendendo à dimensão do projetado investimento europeu. A célebre “bazuca”. Assim se compreende bem a relevância do cargo e os cuidados a ter com a indicação do seu titular.

Recordo que no meu artigo de opinião do passado mês de agosto de 2020 escrevi “A União Europeia criou uma Procuradoria que tem por objetivo a investigação de infrações financeiras. Um júri internacional escolheu a Procuradora Ana Almeida. Governo nomeia o segundo classificado. Esta ingerência passou sem reparo político. O Poder pecou por ação. A Oposição por omissão. Sendo esta decisão sintomática da forma como se exerce o poder.”

Quatro meses depois o País tinha acordado para o problema. Tarde. Entretanto o assalto ocorreu. Primeiro não se reconduziu Joana Marques Vidal no cargo de Procuradora Geral. Depois afastou-se o Presidente do Tribunal de Contas. Agora fez-se guerra pela nomeação do Procurador Europeu. Tudo à vista de todos. Com a cumplicidade ativa de Belém. Perante uma oposição em isolamento preventivo.

Num momento em que o tema visivelmente chamusca a Ministra, nada melhor do que um batom vermelho para distrair a Nação. E o facto é que da opinião publicada, o tema passou para a opinião publica. O batom ganhou brilho e passou a ter densidade política. E assim se camuflam as impurezas de um Governo que, entretanto, ganha tempo para mais uma esfoliação.

Mas o batom vermelho permite mais. Esconde os números da pandemia. Das infeções. Dos internados. Das mortes. Infelizmente estamos no pódio nos novos casos diários por um milhão de habitantes em todo o mundo. No pódio do número de mortes diárias por um milhão de habitantes em todo o mundo. Trump, Bolsonaro e Costa são alguns dos dirigentes de topo para o surto de Covid 19. E perante este drama, nada melhor do que esta cortina de fumo. Compatriotas nossos morrem às centenas. Mas são centenas as fotos nas redes sociais de rostos com batom vermelho que, por momentos, quase parecem querer ofuscar a luz das ambulâncias à porta dos Hospitais.

Enquanto se discute o vermelho do batom, lá vai passando ao lado a situação crítica. Em que quase todos são responsáveis. O Governo porque não planeou e não exerceu autoridade. A oposição porqueque foi complacente e não apontou antecipadamente o dedo às opções erradas, condicionando as decisões governamentais. Aos portugueses que, tendo a liberdade, não tiveram a responsabilidade.

Enquanto se discute o batom vermelho, passa ao lado um outro dado relevante. Há mais de 10 dias seguidos que, neste mês de janeiro, morrem em Portugal mais de 500 pessoas por dia. Mortes por todas as causas. Sobre esta matéria estrutural nada se diz. No poder ou na oposição. Porque estamos com este índice de mortalidade? Quais as causas? Um silencio efetivamente sepulcral!

Entretanto, a corte mediática e política entretém-se na bolha. Com uma deficiente adesão à realidade. O batom vermelho, e outros cosméticos políticos, é como fogo-fátuo. Irá tão depressa como veio. Desaparece, sem vestígio. Os verdadeiros problemas ficam aparentemente escondidos sob a cortina de fumo. Mas não ficam resolvidos. Vão-se acumulando sem solução.

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