ÁGUA NÃO SE INVENTA
Por Carlos Guimarães

Por Carlos Guimarães
MédicoO aquecimento global é um facto. Podemos ignorá-lo, mas é um facto. O inverno, a neve e a geada não o podem fazer esquecer. A escassez de água pode parecer irreal mas será realidade.
Os verões serão mais longos, mais secos e mais quentes. Digo eu que o sinto, confirma quem entende do assunto. A água não se inventa. Não nascerão novos rios e os que temos não verão novas nascentes nem irão ostentar obesos caudais. O mundo progride a uma velocidade vertiginosa, a humanidade caminha no sentido da imortalidade que os ricos poderão alcançar dentro de um século, serão fabricados órgãos e tecidos para substituir os danificados, haverá cada vez mais tecnologia incorporada no nosso corpo, os melhoramentos no organismo vão preceder a patologia, mas nada disto nos trará mais água.
Se continuarmos a olhar para o lado não veremos o que se passa à nossa frente, mas se olharmos em frente, o que é importante não nos passa ao lado. Gastamos e desperdiçamos água de forma pouco consciente. Os relvados proliferam e só existem porque consomem imensa água, água potável. Os nossos automóveis deixaram de ser lavados com balde e tomam banho de mangueira aberta com água potável. Os autoclismos empurram os dejetos com água potável, e essa mesma água potável hidrata obrigatoriamente os nossos corpos. A mesma água potável que empurra dejetos é a que bebemos, a que nos lava o corpo, o carro e rega jardins. Produzir água potável tem custos, gastá-la de forma pouco apropriada é esbanjar dinheiro. O sistema está montado desta forma e não vejo estratégias para o mudar. Não se regam campos de milho com água potável porque é economicamente insustentável para o agricultor, mas o pior cenário é não haver água suficiente para os regar. Um relvado outrora verdejante e bem tratado que se vai convertendo em prado de sequeiro é entendido como uma mostra de decadência económica do seu proprietário, mas deve ser entendido como uma sobre elevação da consciência coletiva de quem o possui, um ato voluntário de quem se preocupa com o futuro e com o ambiente. Por muito curtos que sejam os invernos, os prados de sequeiro voltarão a ficar verdejantes sob a batuta da mãe natureza. A industria da moda tem de refletir sobre a forma como influencia os hábitos dos consumidores. Quanto pior for o aspeto dos jeans, envelhecidos, coçados, rasgados e perfurados mais água se gastou para os produzir assim. São milhões de litros que se desperdiçam para desfazer o que estava feito! Contudo, em última análise, cabe sempre a nós fazer o juízo final e determinar as nossas opções.
É óbvio que os custos com a potabilidade e captação da água vão subir e assolar as carteiras dos consumidores. É óbvio que as consciências também podem ser esculpidas à chicotada e o chicote é muitas vezes o preço a pagar através de coimas e de proibições. Temos a obrigação de estar atentos e interventivos para evitar as chicotadas. O estado, as autarquias e os cidadãos não podem continuar a pensar a curto prazo, não se podem demitir de olhar mais adiante. Grandes problemas não se solucionam de um dia para o outro, requerem tempo, ponderação, inteligência, estratégia. Sabendo que a escassez de água será uma realidade, não implementar medidas hoje é pedir o chicote amanhã. O futuro pode-nos mostrar a gasolina como uma nostálgica recordação e a água com custos semelhantes aos da saudosa gasolina.
É óbvio que não nos faltará águas para lavar os dentes e limpar os sovacos. É óbvio que estes factos e desabafos me pertencem e se replicam em muitas outras consciências. É óbvio que os círculos do poder já deveriam ter implementado medidas restritivas, mas a água também é um negocio. Apesar disso, é óbvio que todos nós podemos tomar medidas a partir de hoje.
PUBLICIDADE
Partilhar
PUBLICIDADE
JORNAL
MAIS EM GUIMARÃES
Maio 12, 2025
Associados com quotas em atraso devem fazer a regularização até ao dia 31 de maio de 2025 para manter antiguidade. Está disponível uma plataforma para consulta da situação das quotas e para atualização de dados.
Maio 12, 2025
O treinador do Moreirense, Cristiano Bacci, considerou que a sua equipa merecia mais do que o empate a duas bolas frente ao Estoril, no domingo, em jogo da penúltima jornada da I Liga. Apesar de ter desperdiçado uma vantagem de dois golos, o técnico sublinhou o controlo exercido pela sua equipa ao longo do encontro.
Maio 12, 2025
O Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG), em Guimarães, inaugura no próximo sábado, às 18h00, uma nova exposição individual do artista Alexandre Estrela e apresenta uma filmagem da dupla Mariana Caló e Francisco Queimadela, no âmbito das comemorações do Dia Internacional dos Museus.