As inaugurações das exposições “Interminável”, de Artur Barrio, com curadoria de Luiz Camillo Osorio e Marta Mestre, e “Fabriqueta”, de Eduardo Matos, com curadoria de Inês Moreira, mergulham no Centro Internacional das Artes José de Guimarães numa ideia de “ficções de lugares”, convidando a todos para uma imersão coletiva a partir das 18h00 de 25 de março.

As novas exposições do Centro Internacional das Artes José de Guimarães (CIAJG) investigam os modos como artistas de diferentes gerações imaginam espaços de invenção, lugares que sobrepõem várias camadas de significado, escapando ao racional. Os próximos meses renovam, assim, a aura do espaço.
Nascido no Porto, em 1945 (viajando com a família para Angola em 1952 e para o Brasil em 1955), Artur Barrio ocupa um lugar central na história da arte brasileira e portuguesa. Os seus primeiros trabalhos, no final dos anos 1960, realizados no contexto da ditadura militar no Brasil, comportam uma crítica implícita ao sistema político e artístico e ao processo de circulação e valoração da arte. Como artista, passa longas temporadas na Europa a partir dos anos 1970, visitando Portugal em 1974 para assistir de perto à Revolução dos Cravos. Hoje, Artur Barrio vive na Baía de Guanabara no seu barco “Pélagos”.
A exposição “Interminável”, que apresenta no CIAJG, constitui-se ao redor da instalação com o mesmo título que pertence à coleção do museu S.M.A.K. (Gante, Bélgica). Juntamente com a instalação, e ocupando várias salas do museu, apresenta-se uma seleção de trabalhos provenientes do arquivo do artista e de coleções institucionais e privadas de Portugal. Exibida pela primeira vez em Portugal, a instalação evoca, segundo os curadores, “o princípio e o fim da arte”. À semelhança do restante trabalho do artista, “Interminável” desafia os protocolos museológicos e a objetualidade da arte, envolvendo materiais perecíveis e interferindo na arquitetura do museu, deixando praticamente cobertas todas as paredes do espaço expositivo.
Já a “Fabriqueta”, exposição individual do artista Eduardo Matos que inaugura simultaneamente no CIAJG, incide sobre o território fabril do norte do país, em particular as memórias do trabalho e os elementos físicos que projetam tanto a melancolia quanto a força coletiva e laboral do Ave e do Minho. Com curadoria de Inês Moreira, a exposição é uma apresentação de fôlego do trabalho de Matos, artista que, nos últimos anos, tem vivido fora do país.
No centro da exposição apresenta-se, em escala real, uma “fabriqueta” – expressão corriqueira para as oficinas que existem na região, e onde uma grande parte da população realizava, e ainda realiza, a continuação da jornada de trabalho, através das encomendas excedentes das principais fábricas da região -. As palavras de Inês Moreira descrevem este espaço como “um fóssil humano que passou a integrar a paisagem, a par dos milenares penedos e das centenárias habitações de granito. Onde a produção do Ave e do Minho se viu pujante, restam, por entre lugares maiores, inúmeros destes sítios oficinais, rústicos e inacabados”.
O corpo de trabalhos da exposição distribuem-se no espaço como “achados arqueológicos” provenientes de um mergulho do artista pelo inconsciente e pelas memórias da sua infância passada na região. A “grade”, a “janela”, o “poço”, o “poste” ou o “banco” são elementos de um extenso vocabulário, de “uma paisagem bucólica e inerte sobre as águas e as margens do Ave, que se envolve com a vida, o corpo, a voz e o movimento”, descreve a curadora.
Às 19h00 de dia 25 de março, dia de inaugurações, “Shedding an iron skin” surge no CIAJG com a Deputada (Francisca Marques) a protagonizar uma performance-música em diálogo com uma “serpente” dos povos Baga (República da Guiné). No piso inferior do museu, será possível aceder a um lugar trêmulo, onde a presença de corpos e ruídos se torna indefinida.