Bois do Minho já não puxam ao carro mas são procurados pela carne

Os compradores espanhóis vêm a Guimarães procurar os melhores exemplares.

© Quinta do Souto (Zeus é reconhecido como o expoente máximo da raça Minhota não só pelo peso, mas também pelas caracteristicas morfológicas)

Comerciantes de carne e proprietários de restaurantes espanhóis, desde há alguns anos, descobriram a qualidade das raças autóctones portuguesas, incluindo a Minhota, e fazem fila para comprar os melhores exemplares, muitos deles criados nas quintas em redor de Guimarães. No país vizinho, os cruzamentos com raças exóticas para aumentar a produção de carne deterioraram a raça que ali se chama Galega. Em Portugal, um trabalho de apuramento cuidadoso que vem a ser feito pela Associação Portuguesa dos Criadores de Bovinos de Raça Minhota (APACRA), desde 1996, deu frutos e a prova disso é o Zeus, um boi castrado com mais de dois mil quilos, considerado o expoente máximo da raça.

Um corte das partes mais nobres de um bovino de raça Minhota, num restaurante como o El Capricho, em Jimenez de Jamus, a 70 quilómetros de Leon, pode chegar aos 120 euros por quilo. Segundo a revista “Time” e o jornal “The Guardian”, neste restaurante  serve-se o melhor bife do mundo. Esta casa é uma das clientes da Quinta do Souto, em Ronfe, onde Domingos e Carlos Barroso (pai e filho) guardam com estima o Zeus. O animal já podia ter sido vendido, “mas ainda não foi porque é um gosto olhar para ele”, regozija-se Carlos Barroso.

© Quinta do Souto ( Carlos e Domingos Barroso exibem o Hermes e o Apolo, dois exemplares vendidos para Espanha)

A Quinta de Souto é um viveiro de animais únicos. Ainda há pouco tempo saíram desta exploração dois bois igualmente impressionantes, o Hermes e o Apolo, que acabaram por ir parar à vitrine do Salão Gourmet, em Madrid. Os dois animais foram adquiridos pelo restaurante basco Gesalada Okelan, muito conhecido pela qualidade da sua carne. Na página de abertura do site deste restaurante, brilha o Titán, o maior exemplar de raça Minhota criado em Espanha, com 1.279 quilos. No Gesalada Okelan, a costeleta de boi de raça Minhota é vendida a 57,90 euros a unidade. “Os espanhóis, mas também os italianos e os povos do norte da Europa procuram animais com alguma idade que tenham incorporado gordura intramuscular. São carnes que suportam bem a maturação”, esclarece Carlos Barroso.

Animais vendidos com cinco ou mais anos

Recentemente uma junta de bois foi vendida, numa feira em Ponte de Lima, também para um restaurante espanhol, por 25 mil euros, um preço impressionante, mas Carlos Barroso sublinha o tempo, o cuidado e o risco que são necessários para se chegar a este resultado. Para os criadores é um investimento a longo prazo, já que os animais só são vendidos com cinco anos ou mais. “A Minhota é a única raça autóctone que tem ganhos de peso que permitem ter rentabilidade”, afirma Carlos Barroso, embora na Quinta de Souto também haja exemplares de raça Barrosã. O veterinário Nuno Vieira e Brito, co-autor do livro “A Raça Bovina Minhota”, explica que o elevado desempenho na produção de carne está relacionado com a qualidade do leite das vacas desta raça. “Quando em comparação com o leite de fêmeas de raça Frísia [a típica vaca leiteira, branca com malhas pretas], produzido nas mesmas condições, o da Minhota apresenta uma qualidade nutricional superior, com níveis de vitaminas mais elevados… e menor colesterol”, dizem os autores do livro sobre a raça.

Nuno Vieira e Brito destaca o facto de esta ser a única raça autóctone com tripla aptidão: trabalho, produção de leite e de carne. Se na vertente de tração, há muito que a Minhota foi substituída pelos tratores, a produção de leite manteve-se até há poucos anos, em algumas freguesias dos concelhos de Ponte de Lima e Viana do Castelo, zona que é considerada o “solar da raça”. Na primeira década do século XXI, ainda existiam Salas de Ordenha Coletiva nesta região, onde era recolhido o leite das vacas de pequenos produtores, muitos deles com apenas dois animais.

O leite que tornou famoso o queijo Limiano

O leite das vacas Minhotas foi durante muitos anos o mais utilizado para o fabrico do queijo Limiano, assim chamado porque foi criado em Ponte de Lima, em 1959. Com a venda da marca a um grupo francês, em 1996, a produção foi deslocalizada para Vale de Cambra. “O queijo nunca mais foi a mesma coisa, de limiano só tem o nome”, afirma Teresa Moreira, presidente da APACRA. Em 2000, o deputado do CDS, Manuel Campelo,  à revelia do seu partido, ainda viabilizou dois orçamentos do PS (2001 e 2002) com o seu voto de abstenção, em troca de algumas contrapartidas para a sua terra, nomeadamente uma nova fábrica de queijo que nunca chegou a ser construída.

Raça está em expansão

A procura de carnes de alta qualidade relançou a raça Minhota, “que agora tem exemplares de maiores dimensões porque vão sendo geneticamente apurados para essa função”, explica Nuno Vieira e Brito. No virar do século havia apenas 61 fémeas ativas registadas no livro genealógico da raça, atualmente há mais de seis mil. Embora o número de criadores tenha diminuído – há cerca de 1.900 – “isso deve-se ao desaparecimento de pequenos lavradores, normalmente de idade avançada, que tinham dois ou três animais”, aponta Teresa Moreira.

Atualmente, estão registadas no livro genealógico da raça mais de seis mil fémeas ativas, no ano 2000, eram apenas 61. Teresa Moreira reconhece que o número de criadores diminuiu – ronda os 1.900 -, mas afirma que isso se deve ao desaparecimento de pequenos lavradores, normalmente muito idosos, com dois ou três animais. O efetivo da raça está a aumentar, há 7.500 animais registados, em 2014 eram 4.701.

Pelo jornalista Rui Dias.

 

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