CACHORRÃO – INDÚSTRIA CRIATIVA

MARIA DO CÉU MARTINS Economista

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por MARIA DO CÉU MARTINS
Economista

Sempre que surge a oportunidade de atravessar a Plataforma das Artes sinto uma certa nostalgia, saudades do tempo em que aquilo foi o Mercado Municipal. Parte das atividades mais interessantes da minha infância faziam-se das idas àquele mercado – com a minha mãe ou até sozinha, já que, dada a proximidade, muito cedo me deixaram ir comprar peixe ou alface para o almoço. Quando criei bichinhos da seda, numa caixa de sapatos, ia lá todos os dias buscar folhas das árvores para os alimentar. A forma de arrumação dos negócios e a dinâmica do regateio davam àquele espaço um especial encanto. O homem do talho, a peixeira ou a mulher da fruta eram praticamente da família.

Mas especialmente interessante era o movimento que o mercado induzia na envolvente – atraía muita gente à cidade e motivava um vaivém diário que alimentava grande parte do comércio de todo o centro urbano.

Um dia, um qualquer político, pressupostamente iluminado, resolveu deslocalizar o mercado. Na altura barafustei e participei em grande parte das iniciativas populares que se constituíram contra a decisão. Mas de nada serviu. Desde então nunca mais tivemos um mercado digno desse nome e a centralidade e borburinho daquele espaço foi substituído por um enorme vazio – de negócios e de pessoas.

Nunca concordei com a ideia da deslocalização, não sou especialmente fã da arrumação arquitetónica que lhe deram – preferia o primeiro projeto – não me agrada o desperdício de recursos que o espaço implica mas, sobretudo, não suporto aquele abandono, estratégico!? As lojas estão quase todas devolutas e, Gualterianas à parte, ali não circula quase ninguém.

Depois da Capital da Cultura de 2012 sei, de conversas contadas, que havia gente interessada em algumas daquelas lojas. Algumas pareceram-me, até, promotoras de projetos interessantes, alguns de valorização turística. Mas a abordagem institucional conduzia, sempre, a uma resposta negativa com a repetida justificação de que os espaços estavam reservados a “indústrias criativas”- seja lá o que isso for!

Depois veio o anúncio de que na plataforma das artes cabia uma livraria e um restaurante. A livraria já lá está e bem (falta saber se tem a quem vender). O restaurante ganhador era o “cachorrão”. Bem ou mal orientado, pelo menos fazia-se alguma coisa para ocupar o espaço. Não obstante, e apesar de ter a maior admiração por alguns chefes de cozinha, não conseguia deslumbrar onde estava a indústria criativa. Erro meu, admito.

Recentemente fui experimentar o dito cujo Cachorrão que tem a melhor esplanada do Concelho. Os preços, os produtos, o atendimento e todo o lay-out de menus é igualzinho ao Macdonalds, e até se excede – depois de ter feito o pedido ao balcão deram-me um comando que me avisou quando a comida ficou pronta, permitindo-me estar refastelada na esplanada enquanto esperava. Acabou por ser uma experiência muito agradável e até bastante divertida.

Mais …descobri onde estava a indústria criativa. Do tempo de faculdade recordo de se ter falado que inovar pode simplesmente ser “copiar” uma boa ideia e trazê-la para um sítio onde ela não exista – não conheço nenhum projeto totalmente português (e vimaranense) que tenha copiado tão bem a lógica do “fast-food” do Mac com a vantagem de ao típico hambúrguer acrescentar menus com a designação genérica de “Soft”, com ingredientes e confeção muito mais nossos.

Tivéssemos nós dimensão, visão e capacidade para investir e estaríamos seguramente capazes de exportar um Franchising Vimaranense que tem tudo para superar a concorrência americana.

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