CANTAM BEM, MAS NÃO ALEGRAM

A opinião de António Rocha e Costa.

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Por António Rocha e Costa, Analista Clínico Longe vão os tempos em que, no velho campo pelado da Amorosa, os jogadores vitorianos, alguns deles cá da Terra, sujavam os calções na lama e deixavam tudo em campo, como se diz na gíria futebolística. Os tempos evoluíram entretanto e a realidade mudou radicalmente. Hoje em dia, os jogadores constituem “activos” transacionáveis, leiloados pelo melhor preço nos ditos mercados de Verão e de Inverno. Os horários dos jogos, também eles, são cada vez mais determinados em função dos interesses das televisões, as quais, a par com a venda de jogadores, representam a principal fonte de financiamento dos clubes, sendo as quotas dos associados uma fatia diminuta do bolo orçamental. A continuar assim, e com bancadas cada vez mais vazias, qualquer dia ainda havemos de ver os clubes a pagar aos sócios para estes servirem de figurantes, de modo a assegurarem uma moldura humana nos estádios, só para telespectador ver. O Vitória, pela sua história, pelas infraestruturas de que dispõe e pelo entusiasmo e adesão quase incondicional da sua massa associativa, tem sido, logo a seguir aos chamados clubes grandes, uma referência do futebol nacional e, como tal, admirado e respeitado pelos amantes da bola. Porém, tal como a maioria dos clubes, não resistiu aos ditames do chamado capitalismo da bola e lá constituiu também a sua SAD, para melhor gerir o negócio. Só que negócio, romantismo e fervor clubístico não são lá muito compatíveis, sendo que, para quem tem que garantir os pagamentos no final do mês, o negócio é a prioridade, enquanto para os adeptos o que interessa são os resultados desportivos e a consequente posição na tabela. Nos clubes grandes, cada vez mais transformados em plataforma de compra e venda de jogadores, ainda vai sendo possível compatibilizar os lucros com os resultados desportivos. Nos pequenos, obviamente, isso torna-se extremamente difícil, até porque carecem da tal “montra” proporcionada pelas competições europeias. Apesar disso, o Vitória, segundo os entendidos, até tem feito boas exibições, faltando-lhe apenas concretizar, isto é, marcar golos. Mas se o futebol vive dos resultados, de que serve a uma equipa promover festivais de bola, com lances de encher o olho, se no final nem um ponto?… Os românticos da bola, que defendem o desporto pelo desporto, dirão sempre que ganhar e perder faz parte do jogo. Os pragmáticos dirão que a sustentabilidade do clube é o mais importante e, nessa óptica, o clube já salvou a época ao vender um jogador por 18 milhões de euros. Por fim, os adeptos ferrenhos e fanáticos continuarão a exigir o céu, não querendo saber dos meios para lá chegar. Estes estarão sempre prontos para agitar lenços brancos, enquanto as pombas esvoaçam do andor e o clube se afunda na tabela classificativa. Nos entretantos, lá vamos cantando e rindo, assistindo nos estádios e na televisão a “concertos” de bola, interpretados por uma orquestra bem afinada, mas que só toca música de embalar, nunca ousando uma ou outra passagem mais explosiva ou apoteótica. Como diria um conhecido melómano da minha aldeia, quando alguém tentava “dar-lhe música”: cantas bem, mas não me alegras.

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