Catarina Peixoto: “Só desenhar bem é que está correto é a maior falácia de sempre”
Artigo publicado na edição de fevereiro da revista Mais Guimarães.
Estudou design gráfico e publicidade na licenciatura e focou-se na ilustração no mestrado. Ainda sente que é “muito pequenina”, quer crescer, “mas a realidade é outra”. Recentemente, Catarina Peixoto venceu o primeiro prémio na Mostra Nacional de Jovens Criadores com 20 postais ilustrados sobre Guimarães, o seu “primeiro projeto pessoal”, com o objetivo de se mostrar.
Catarina passou um mês em Bristol, onde ainda se vive a cultura dos postais. Quando voltou, enquanto passeava por Guimarães, apercebeu-se que vive numa cidade “muito turística”, mas que “não tinha grande oferta de coisas diferentes”. Escolheu, assim, ilustrar a sua cidade em postais, por acreditar que o seu trabalho se “encaixa muito bem nessa vertente cultural”. Numa cidade com “imenso potencial”, considera que os postais são algo para “eternizar” e confessa que, quando vai viajar, tenta “sempre perceber o máximo daquela cultura”. É isso que quer transmitir com esta coleção: “Quando viajas, o teu objetivo é levar um bocadinho daquela cidade e percebê-la um bocadinho mais”.
Apesar de ter já feito outros projetos, este é aquele que a vimaranense considera o seu “primeiro projeto pessoal”. Na faculdade “ninguém te ensina como te hás de promover, como é que podes crescer, onde é que o teu trabalho, se é muito característico, se pode encaixar” e Catarina está precisamente a procurar a resposta a essas questões. Considera este o lado mais “chato” de ter um negócio. “A produção são dois dias por semana e o resto é divulgação, falar com pessoas, networking. Isso é super cansativo, mas é bom!”, garante.
Ganhar este prémio ajudou, de alguma forma, a chegar mais gente, mas desabafa sobre o quão difícil é querer fazer diferente em Guimarães. “Tento sempre fazer os meus projetos para integrar, de alguma forma, o mercado. Tentei falar com museus locais, mas não respondem a emails, vais lá presencialmente e dificilmente te atendem”, conta mostrando que, apesar disso, acabou por falar com lojistas e ter “uma experiência interessante” que a permite agora conhecer melhor a realidade do comércio local.
As ilustrações levam-nos a viajar. No tempo, no espaço, na imaginação.
Quando estava a terminar a licenciatura, foi-lhe proposto fazer um trabalho com o tema “Diário de um Homem Morto”. Decidiu fazer um livro de artista sobre António Variações, grande e com materiais muito diferentes. Não está à venda, porque “o texto tem direitos de autor”, mas a ideia já lhe passou pela cabeça.
Sempre gostou de “fazer coisas muito diferentes e manuais” e durante o seu percurso nunca sentiu que se “encaixasse em algum sítio”. Pegou nessa sua maneira de ser e juntou-a à de António Variações tentando, assim, transmitir “Variações, uma pessoa excêntrica, completamente fora”.
Mas este não foi o único livro que nos mostrou e do qual falou com o maior sorriso no rosto. Tem muitos livros, “alguns deles foram usados, outros são novos, outros são inspirações”. Gosta de papel e de poder sentir as texturas, por exemplo. “Há coisas que não dá para passar para o online. Isso é o que complementa quando vendes um produto, é a diferença de um produto de dois euros ou de um produto mais caro”, argumenta Catarina.
Ainda durante a universidade conseguiu chegar às crianças através da ilustração de livros. Diz que quando está a ilustrar um texto, tenta sempre “passar alguma coisa mais do que o texto tem”. Se o texto diz que uma criança está a chorar, Catarina vai fazer algo mais para “complementar a ideia de alguma forma”. Trabalhou com a escritora Luísa Ducla Soares e testou o livro nas escolas para perceber se realmente funcionava. “Eles começaram logo a desenhar as coisas que eu tinha feito, copiar as personagens, tentam compreender aquilo que tu tens”, conta.
“A ilustração não é uma coisa certa e concreta”
Catarina Peixoto
Para Catarina não há dúvidas, “toda as pessoas têm uma vertente criativa e toda a gente deve testar tudo o que tem, porque toda a gente tem esse potencial”. Acredita que “isso deve ser explorado, independentemente se é comercial, se é para ser vendido ou não”. O problema, contudo, começa na escola. Vivemos num mundo ainda “muito fechado, onde nos põem com uma série de medos e depois parece que não somos capazes de pegar numa tesoura e cortar um papel, um pedaço de papel aleatório”.
A verdade é que “não tem de haver sempre um propósito” para se fazer alguma coisa e esta jovem ilustradora teve a sorte de ter uma professora que lhe mostrou que “só desenhar bem é que está correto é a maior falácia de sempre”. Essa professora, conta Catarina, “aceitava e conseguia explorar o melhor de ti”. Foi quando começou “a perceber que tinha potencial”.
“Não tens de desenhar a cara de uma pessoa precisamente como a vês”, explica acrescentando que “a ilustração não é uma coisa certa e concreta”. Deixa, por isso, alguns conselhos para quem tem medo de arriscar, nomeadamente “cadernos que permitem trabalhar a criatividade, com desafios constantes que se pode ou não levar à letra. Nós temos de testar coisas diferentes e levar-nos ao limite. E se estamos habituados a fazer uma coisa, tentar fazermos outra completamente diferente”.
PUBLICIDADE
Partilhar
PUBLICIDADE
JORNAL
MAIS EM GUIMARÃES
Abril 18, 2024
O Agrupamento de Escolas Santos Simões realiza, no próximo dia 22 de abril, uma marcha pela cidade de Guimarães sobre o tema da sustentabilidade.
Abril 18, 2024
“Ficou a sensação de que também podíamos ter conseguido. Infelizmente a vida faz-se assim. Hoje estamos tristes, mas agora temos de nos focar no que podemos fazer nos últimos cinco jogos do campeonato. Há muita coisa para conquistar ainda”, disse Álvaro Pacheco no final da partida desta quarta-feira, no estádio do dragão.
Abril 17, 2024
O Vitória foi derrotado esta noite por 3-1 no estádio do Dragão, no jogo da segunda mão da Taça de Portugal