DE GUIMARÃES A FRANKFURT, ENTRE A CRISE NUM SETOR E A CELEBRAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE

Para a dirigente do Sindicato do Vestuário, Confeção e Têxtil da Região Norte, o atraso no pagamento nas empresas do setor têxtil “não é anormal”.

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Da roupa de cama que mistura algodão com poliéster reciclado ou cânhamo, até técnicas de acabamento que reduzem o consumo de água, os produtos apresentados pelas empresas vimaraneses presentes na Heimtextil tiveram, nesta edição, uma audiência mais reduzida. Em Guimarães, o cenário é menos animador , com as exportações em trajetória descendente

Esta edição da Heimtextil decorreu numa altura em que a indústria têxtil e do vestuário vive dias menos positivos. © Direitos Reservados

Ao Mais Guimarães, Paulo Coelho Lima, CEO da Lameirinho, conta que “a feira recebeu menos visitantes que nos anos anteriores”,. No entanto, assegura que estiveram “sempre ocupados com reuniões com parceiros de negócio”. “Fomos também abordados por novos e potenciais clientes”, assegura.

Já segundo Carlos Carvalho, sócio da Coton Coleur, esta edição da Heimtextil “foi pior do que todos os outros anos anteriores”. “Basicamente estava menos gente. Já vou à feira há cerca de 30 anos e, infelizmente, de ano para ano, as coisas têm vindo a degradar-se”, defende.

Por sua vez, Paulo Pacheco, diretor comercial da Mi Casa Es Tu Casa, empresa irmã da J. F. Almeida, explica que “o balanço é muito idêntico ao de anos anteriores”. “De uma maneira geral, foi uma edição mais calma, tranquila e com menos visitantes. Seja como for, temos novos contactos, que não são tantos quanto isso, mas que têm potencial”, esclarece o responsável, que diz ter recebido visitas de empresários de países como Espanha, EUA, Colômbia, Coreia do Sul ou Rússia.

Na comitiva portuguesa estava também o vereador responsável pela pasta do Desenvolvimento Económico, Ricardo Costa, que garante ter sentido “bastante entusiasmo” por parte dos empresários portugueses. “Quando fui para a Heimtextil ia com sentimento de intranquilidade. O facto de algumas empresas terem deslocado as suas produções para outros pontos do globo era um sinal menos positivo. Quando cheguei a Alemanha, o sentimento era completamente diferente”, recorda. “Venho de lá muito satisfeito”, acrescenta.

© Direitos Reservados

Do cânhamo ao bambu, a Heimtextil pintou-se de verde

Este ano, a Heimtextil debruçou-se sobre o tema “Be Sustainable”, convidando as empresas a apresentarem inovações que promovam a economia circular. A Lameirinho apresentou o projeto Ecolam, que visa a reconversão dos seus próprios desperdícios em nova matéria-prima, que é reintegrada no processo produtivo.

À semelhança do ano passado, a Coton Coleur criou um espaço dedicado apenas a produtos de cama mais sustentáveis, nomeadamente com misturas de algodão com poliéster reciclado, cânhamo e a utilização de fio de algas.

Por sua vez, a Mi Casa Es Tu Casa apostou em tingimentos com cores naturais, em fibras como o linho, o cânhamo ou o bambu e num tipo de acabamento que reduz o consumo de água em 70%.

De Frankfurt para Portugal, onde o cenário é mais negro

Esta edição da Heimtextil decorreu numa altura em que a indústria têxtil e do vestuário vive dias menos positivos. Prova disso é que as exportações portuguesas de têxteis e vestuário caíram 4,3% em novembro de 2019, comparativamente ao mesmo mês do ano anterior, divulgou na passada quinta-feira a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP). Recentemente, os trabalhadores da fiação da Somelos, uma das maiores empresas têxteis do concelho, convocaram uma greve, devido a salários em atraso.

Ricardo Costa garante não estar alheio ao cenário no seu todo e defende que, para vencer “os desafios do futuro”, os empresários devem “construir projetos económicos assentes na investigação”. “Precisamos que os centros de investigação estejam imbuídos neste espírito de empreendedorismo constante. Precisamos de criar marcas e não ser constantemente meros prestadores de serviços”, defende.

© Câmara Municipal de Guimarães

O CEO da Lameirinho recorda que a saúde do setor, especialmente para as empresas exportadoras “é posta em causa, sempre que há situações geopolíticas, questões macroeconómicas que desfavoreçam o setor”. “Faremos o que estiver ao nosso alcance no sentido de ultrapassar as adversidades”, assegura.

Por sua vez, o responsável da Coton Coleur defende que, apesar de todas as dificuldades, no têxtil lar existe “uma forte adesão de alguns mercados, não só pela qualidade, design e flexibilidade oferecida”, mas também porque Portugal está “num ponto estratégico”.

O diretor comercial da Mi Casa es Su Casa adianta que existem, com frequência” “picos”, que afetam tanto o vestuário, como o calçado ou o têxtil em geral. “Se vivemos uma fase super animada? Não propriamente. Estamos em busca de novos mercados, porque a verdade é que a Europa está um bocadinho cansada. Mas é nestes períodos que as empresas mais se aplicam”, recorda.

Greves e fechos no concelho

Em novembro último, a empresa Dobraconfex fechou portas. A trabalhar em regime de subcontratação, a empresa encerrou devido à falta de encomendas. As dificuldades já se faziam sentir em abril de 2019: “Desde o mês de abril que não recebemos horas. Depois, deixou-nos 100 euros do mês anterior [outubro] em atraso. E agora [em novembro] estivemos 15 dias em casa em que não tínhamos trabalho”, disse, na altura, uma trabalhadora que tinha ficado sem emprego. Houve seis credores a reclamar os seus créditos: “Destacam-se a Autoridade Tributária e Aduaneira [AT] e a Segurança Social”, indicava, ao Mais Guimarães, o sindicalista.

© Direitos Reservados

Mais recentemente, e já em 2020, os trabalhadores da fiação da Somelos, empresa têxtil sediada em Ronfe, fizeram greve entre 09 e 11 de janeiro. Ao que o Mais Guimarães apurou, a greve foi suspensa no sábado passado. Os trabalhadores poderão voltar a entrar em greve esta quarta-feira, dia 15, caso o pagamento do salário do mês de dezembro não seja efetuado. Esse foi, de resto, o motivo para a paralisação. Caso não se concretizasse até às 23h59 de terça-feira, dai 14, os trabalhadores voltariam à greve no dia seguinte. Até ao fecho da edição desta semana não foi possível saber se o pagamento teria sido realizado. A situação também não é nova: os trabalhadores da fiação daquela empresa já tinham comunicado um pré-aviso de greve em outubro passado. É que a Somelos “vem atrasando o pagamento dos salários já desde o final do ano 2018”, refere Elisabete Gonçalves, dirigente do Sindicato do Vestuário, Confeção e Têxtil da Região Norte. “Durante 2019, tem pagado os salários com significativo atraso e de forma faseada”, acrescenta.

Por isso, os trabalhadores “concederam um prazo para pagamento dos salários” — ao dia 08 de cada mês — e a empresa cumpriu até outubro. Nesse mês, terão recebido o salário no dia 14; caso a Somelos não o fizesse até esse dia, os trabalhadores entrariam em greve no dia seguinte. “É uma empresa com debilidades e tem dificuldade em pagar o salário. Já não contamos com as faltas de comissões. É uma situação que se arrasta há um ano e há famílias inteiras, casais, mães e pais a trabalhar na Somelos. Foi como uma bola de neve e os trabalhadores estão numa situação complicada”, acrescenta Elisabete Gonçalves.

Para a dirigente do Sindicato do Vestuário, Confeção e Têxtil da Região Norte, o atraso no pagamento nas empresas do setor têxtil “não é anormal”. “Há empresas em que é rotineiro o pagamento tardio dos salários. A situação não é de agora”, conclui.

Com Nuno Rafael Gomes

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