Domingos Bragança: 10 anos na presidência da câmara municipal de Guimarães
Natural da freguesia de Abação, Domingos Bragança Salgado foi eleito presidente da câmara municipal de Guimarães em 2013, depois de ter sido vice-presidente de António Magalhães.
O “homem das contas”, desde há “muitos anos” no município, devido à limitação de mandatos terá de deixar o cargo em 2025, doze anos depois. Consciente de que “há ainda tanto por fazer”, Domingos Bragança afirma sentir-se tranquilo, considerando ter contribuído, durante a última década, para o desenvolvimento de Guimarães a vários níveis.
A entrevista decorreu no recuperado Teatro Jordão, o mítico espaço vimaranense, uma das obras dos mandatos de Domingos Bragança.
Qual é o sentimento depois de 10 anos à frente da presidência da câmara municipal?
É um sentimento de tranquilidade, de quem se entregou completamente a cumprir os compromissos que assumiu nos diversos programas eleitorais que levou a serem sufragados pelo eleitorado. Fiz tudo com a visão que apresentei para o desenvolvimento de Guimarães, tentei e penso que consegui mobilizar os vimaranenses nos grandes projetos e nas grandes causas. Grande parte do programa foi concretizado ou está a ser concretizado. Só tenho que, do ponto de vista pessoal, sentir-me bem.
Quais são as marcas que acredita ter deixado neste tempo?
Uma delas é a coesão territorial, que é cada sítio do concelho, cada freguesia, contar. E toda a freguesia merece e tem que ter investimento que promova o seu desenvolvimento. Toda a freguesia tem o seu património, quer natural, quer edificado que é a sua identidade,
e deve ter o mesmo investimento de qualidade que nós fazemos no centro da cidade. Convido-os a percorrerem um pouco o conjunto das freguesias de Guimarães e ficarão orgulhosos com que vêem, no sentido da reabilitação dos seus espaços emblemáticos.
Por falar em património, o recente alargamento da área classificada de Guimarães a Couros foi uma das suas grandes vitórias…
Uma marca que fica nesta minha passagem pela presidência da câmara é a expansão para o dobro da área classificada como Património Mundial. E de certa forma caracteriza o meu modo de ser e trabalhar: a insistência, a resiliência, e o nunca desistir. Define-se o projeto, as ambições, e por muito difíceis que essas ambições sejam, eu faço tudo para mobilizar a comunidade, as pessoas.
Começamos em 2014 a definir que queríamos que Couros fosse também classificada e, na altura, poucos acreditaram que isso fosse possível. A parte alta da cidade é um centro monumental, percebe-se a importância de cada um dos edifícios, mas a parte baixa, a área do trabalho, do povo, não tinha esta monumentalidade, mas nós conseguimos e isso é muito importante. E depois temos uma marca indelével, que é a marca ambiental…
É outro dos projetos de que não desiste… Prova disso é ter avançado com uma nova candidatura a capital verde Europeia, a terceira, mesmo que, se a vencer, já não seja na altura presidente da câmara. É um presente que quer deixar ao próximo presidente?
É um presente que deixo essencialmente aos vimaranenses. Guimarães entra sempre em grandes objetivos que, à partida, considerando a cidade média que somos, poderíamos considerar que não estariam ao nosso alcance, mas estão. Quem ler o relatório do júri desta última candidatura, se não soubesse o resultado, diria que foi Guimarães que ganhou, porque o elogio é rasgado ao que Guimarães está a fazer. Acrescentam até que Guimarães é uma cidade inspiradora, para a Europa e para o mundo.
Sente que o comportamento dos cidadãos já mudou também, que estão mais conscientes dos cuidados a ter com o ambiente?
Estão muito mais conscientes. Agora mudar a consciência ambiental é algo muito difícil, é um processo. É preciso mudar comportamentos, e muitas vezes isso põe a vida um pouco mais desconfortável, pelo menos no padrão de vida a que estamos habituados.
Nos particulares e também nas empresas, onde exige, muitas vezes, fortes investimentos.
De todos. Eu começo pelo cidadão. Temos que, no dia a dia, ver como podemos reduzir a nossa pegada ecológica, e se possível torná-la inferior a um. E isso significa muitas vezes gestos muito simples, no consumo e nas opções de consumo, na alimentação, nas embalagens, etc…. No município tentamos criar condições para que as pessoas estejam confortáveis a caminhar a pé, utilizem a bicicleta e o transporte público.
Já quanto às empresas, têm que mudar o seu modelo de utilização de matéria prima, e a principal matéria deveria ser o reaproveitamento de tudo. As empresas estão nesse caminho, sabem que esse conceito ecológico tem uma importância e um valor reputacional enorme para a preferência dos seus produtos no mercado global.
Isto tem de ser feito com todos, e um dos programas mais elogiados é o “Pegadas”, o programa ambiental nas escolas, considerado pioneiro.
“Sinto que consegui uma governação da câmara municipal inclusiva, humilde e de serviço.”
Em que outras áreas é que Guimarães está bem, também devido ao trabalho que desenvolveu nestes 10 anos?
Guimarães está muito bem no investimento e desenvolvimento da ciência. Quando falo dos pilares de desenvolvimento de Guimarães,
na educação, ciência e cultura, os grandes investimentos têm ido, em particular, para a ciência.
Um exemplo é este, onde estamos, o Teatro Jordão, que foi reabilitado para aqui instalar a Escola de Teatro, as Artes Performativas, a Sociedade Musical de Guimarães. Mas temos a Universidade das Nações Unidas, a Escola Hotel do IPCA, o Instituto Cidade de Guimarães, também os investimentos na antiga fábrica do Arquinho, para a instalação da Escola de Engenharia Aeroespacial e para a ciência dos dados. E ainda em Pevidém, cujo projeto está a ser terminado, da Escola do Alto para aí colocar a Academia de Transformação Digital. São alguns exemplos do investimento enorme na ciência, na Universidade, nos Politécnicos, como fator decisivo para a transformação da sociedade.
Na câmara percebemos claramente que estas parcerias têm um valor extraordinário e transformador, que podem muitas vezes não se ver num curto prazo, mas a médio e a longo prazo terá uma importância excecional. Guimarães, como cidade industrial, como território industrial, precisa dessas sinergias, de uma ligação fortíssima com a ciência e a investigação.
As marcas que penso estar a deixar são marcas que promovem a sociedade como um todo, porque temos que incidir em várias perspetivas e em várias dimensões, e o todo é a elevação do desenvolvimento do território.
Percebe-se que em termos de futuro as coisas possam ficar melhores, mas Guimarães não é um concelho em que as pessoas ganhem bem no exercício da sua atividade, estando o rendimento aquém de alguns concelhos vizinhos. É a partir daí que este cenário poderá mudar?
É exatamente para isso. Através de melhores qualificações e também das empresas, que ao introduzirem inovação e conhecimento, e novos processos, tenham maior complexidade nos produtos e serviços, e sejam, obviamente, muito melhor pagos para, por essa via, remunerarem bem a mão de obra qualificada. É o caminho para mudar de patamar. Nós estamos acima da média nacional no rendimento per capita, ou pelo menos na média.
Mas gostava de referir que há um ponto que conta para essa classificação. Guimarães é uma cidade com uma forte presença da Universidade e do Politécnico, com para cima de um milhar de professores. Temos a maior escola da Uminho em Guimarães, de Engenharia,
mas os professores, como a sede fiscal é Braga, e a sede fiscal do IPCA é Barcelos, o rendimento deles conta para a estatística desses concelhos. Isso adultera a estatística, porque são profissionais remunerados acima da média.
Mas é verdade que é preciso requalificar recursos humanos, termos mais competências, mais habilitações e empresas que transfiram ciência para a sua produção. E com isso elevamos claramente o valor do que fazemos.
Nós vamos continuar a ter têxteis e calçado, mas empresas têxteis de base tecnológica. A têxtil de hoje não tem nada a ver com a têxtil
de há seis ou sete anos. A base tecnológica está lá, a digitalização, a robótica, os novos materiais, a sensorização, a automação, está
tudo lá.
Mas a indústria têxtil está a passar, agora, por um momento difícil…
A têxtil tem passado ciclos difíceis, e eu continuo a dizer que é necessário dotarmos as nossas empresas dos setores tradicionais como o têxtil, calçado, cutelarias ou metalomecânica, e mesmo a embalagem, de uma base tecnológica forte, mas também procurarmos diversificar o nosso setor industrial para áreas biotecnológicas, tecnológicas puras, com apostas na medicina ou na ciência de farmácia.
E é por isso que o investimento no instituto Cidade de Guimarães é estratégico, no Avepark, porque aí poderemos construir um Hub, uma plataforma de desenvolvimento de novas indústrias e novos setores. Mas quero reafirmar que temos empresários e empresas
excecionais nos setores tradicionais.
“A mudança estrutural da economia não se faz sequer em 10 anos, as transformações são lentas, não são revoluções.”
São transformações como esta que, convictamente, penso que estamos a fazer. Percebemos que a parceria com a Universidade e o Politécnico é excecional e será transformadora nos próximos 10 anos. É bom que se perceba que não se transforma uma empresa de um dia para o outro, porque se pensou e no dia seguinte está feito. Não é assim, muito menos numa economia regional ou concelhia.
Uma das críticas que lhe é apontada tem a ver com a atração de investimento, de empresas de valor acrescentado que possam pagar melhores salários no concelho. Guimarães está com esse problema?
Tudo o que pudermos melhorar, fazer melhor, devemos fazer. A economia de Guimarães é uma das melhores da região e do país, porque estamos entre os 10 primeiros do país. Então em valor acrescentado estamos muito bem classificados.
A diversificação industrial, novos setores, obviamente são bem-vindos e está a acontecer. Eu surpreendo-me com empresas que visito, de áreas novas. Não são empresas como a Bosch ou a Mabor, ou outras, mas são empresas muito importantes e estão a promover a diversificação do setor industrial no concelho. Todos nós gostamos que grandes empresas se fixem no nosso território, mas, pela proximidade, também beneficiamos do emprego e do desenvolvimento desta região.
Nós estamos a trabalhar também para a atração de investimento externo, nós fazemo-lo todos os dias. A Engenharia Aeroespacial é
uma das possibilidades de alavanca de atração desta área, e poderá ser um farol para tentarmos atrair grandes investimentos.
Quanto às áreas de acolhimento empresarial, Guimarães tem de criar novas áreas? A criação da área empresarial em Moreira de Cónegos, por exemplo, que anunciou a intenção de criar, quando estará pronta?
Estamos a trabalhar nisso. Com sinceridade, eu gostava de ter uma área de acolhimento empresarial que não tivesse 150 ou 200 hectares, que tivesse 500 ou 600, essa seria uma grande área de acolhimento empresarial, mas em Guimarães isso não é possível. Seria anular as reservas Agrícolas ou Ecológicas em qualquer sítio.
Somos um vale, fértil e agrícola essencialmente. A montanha é sagrada, e ninguém vai instalar empresas na montanha da Penha ou Citânia de Briteiros, nem no Sabroso. Estamos a definir novos parques para a zona sul do concelho, que é um parque linear que está a ser trabalhado no Plano Diretor Municipal (PDM), e abrange Lordelo, Moreira, Gandarela e Serzedelo com as ligações necessárias.
E temos a questão das acessibilidades…
Na ligação às Taipas, por exemplo, que é fundamental para a mobilidade urbana sustentável que estamos a construir, teremos um tramo dedicado que continuo a defender para metro ligeiro de superfície. O projeto que está a ser elaborado é plano por isso mesmo, não é para vencer altitude, agora para o metrobus mas quando quisermos colocar a ferrovia ligeira está lá tudo.
Mas não vai andar nos campos, onde não existem pessoas, mas simnonde as pessoas moram e trabalham. Por isso vai ocupar a nacional 101, de Fermentões às Taipas, que é uma estrada congestionada.
Por isso precisamos de uma variante à estrada nacional que é esta via do Avepark, para permitir a instalação do metro ligeiro de superfície na nacional 101. A via do Avepark é uma circular à zona norte do concelho. E é uma via para ligar à alta velocidade. E esta é a minha solução, pode haver quem tenha alternativas, mas esta é a que me foi apresentada do ponto de vista técnico pela câmara municipal e por outros técnicos.
Mas, mesmo assim, está parado o processo…
Porque ocupa a reserva agrícola e houve uma queixa que seguiu para o Ministério Público, e devido aos direitos difusos do Estado, está no Tribunal Administrativo.
Até ao final do seu mandato, conseguirá avançar com esse projeto?
Eu quero, porque considero fundamental esse projeto. Já estão aprovados 37,5 milhões de euros no âmbito do PRR – Plano de Recuperação e Resiliência, que tem como prazo 2026. Se a decisão do Tribunal Administrativo demorar, pode pôr em causa esta via. Ao discutir a desafetação da reserva agrícola, também se discute para os parques industriais. Se queremos ampliar o parque industrial de Ponte, por exemplo, vai também ocupar reserva agrícola.
É a questão do equilíbrio ecológico, equilíbrio do sistema, equilíbrio sustentável e ocupação industrial. É uma dificuldade e um problema que temos de resolver, porque põe em causa o desenvolvimento económico do concelho. Quando, em concelhos vizinhos, dizem que aumentaram parques industriais é porque não têm este problema de Guimarães.
“As empresas querem estar e querem vir para Guimarães, o problema é a dificuldade de expansão.”
Eu sou o primeiro a defender o equilíbrio ecológico, o património natural, mas sei que isso só é defendido numa comunidade urbana como a nossa, e industrial, se o equilíbrio entre as atividades económicas e a defesa do património existir. Temos, neste momento, cerca de 30 propostas de contrato de planeamento para ocupar zonas urbanas e vazios urbanos, e o crescimento das zonas industriais.
Na mobilidade, Guimarães apresenta alguns problemas. Relativamente ao nó de Silvares, quando serão resolvidas definitivamente as dificuldades e feita a ligação à nacional 206 antes do acesso à rotunda?
A passagem da entrada e saída de Guimarães para a autoestrada ficou bem e o problema foi resolvido. Temos agora esse projeto pronto e está a ser validado, que é uma nova ligação na zona do Laboratório da Paisagem, uma saída para a 206 logo a seguir à Pisca. Também estamos a trabalhar no alargamento e na criação do novo tramo na rotunda, onde foi feito o desnivelamento.
E quando será realizada a obra?
Eu gostava de lançar o concurso no em 2024 e gostava de a terminar.
Há outros projetos, na mobilidade, que gostava de implementar antes de 2025?
Na circular urbana temos pontos críticos que temos que resolver, mas há pontos em que é muito difícil fazer alguma intervenção. No Salgueiral também estamos a trabalhar num projeto, da construção de um túnel na rotunda do Mc Donalds, numa situação difícil até pela largura da estrada.
Há a entrada para o hospital, que faz todo o sentido que se faça pela circular urbana, mas tem havido alguma resistência da Infraestruturas de Portugal. Está também em fase de adjudicação a obra da saída da Cidade Desportiva, junto à Pista de Atletismo Gémeos Castro e ao hospital privado para a rotunda do Reboto.
Mas a mobilidade fundamental, que tem de ser trabalhada senão perdemos o futuro, é a ligação dos sistemas de mobilidade urbana à alta velocidade. A via do Avepark, o metrobus ou o metro ligeiro de superfície, que nos faça ligar às cidades do Quadrilátero, essa é que não podemos perder.
É um investimento, para Guimarães, na ordem dos 300 ou 400 milhões de euros. Somado com os outros concelhos poderá ir para os mil milhões, mas nós fazemos a nossa parte, Braga faz a dela, bem como Famalicão e Barcelos. Nós construímos uma realidade regional à qual precisamos de nos ligar.
Um acesso à autoestrada na zona de Caldas das Taipas não lhe parece solução para resolver alguns dos problemas na vila termal?
O que eu penso é que a coesão territorial de Guimarães, numa ideia de cidade e nove vilas, 48 freguesias, faz-se em que tenha como polo central a cidade de Guimarães, e só depois da cidade de Guimarães a outras cidades. Mas neste momento é difícil chegar a Caldas das Taipas a determinadas horas do dia, e isso tem afastado pessoas daquela vila da cidade. Atribui-se também à dificuldade de acesso à cidade, a perda,
no passado, de freguesias para a criação do concelho de Vizela.
Nós estamos a trabalhar essa mobilidade, e não a que pensávamos há 20, 30 ou 40 anos. Nós estamos a pensar na ligação da cidade às Taipas, e depois das Taipas à ferrovia, por metrobus ou metro ligeiro de superfície, e com a via do Avepark, a construção de uma variante à zona norte do concelho. Estamos a trabalhar nisso tudo.
Temos de ter uma ideia de desenvolvimento do território. Os grandes projetos de mobilidade que a câmara apresenta ao Governo são exatamente as que passam pela vila das Taipas e esse é o desenvolvimento certo. Se nós fizermos isto, a vila das Taipas e todo aquele território fica a cinco minutos da autoestrada e a cinco minutos da cidade.
Mas também, convém referir, para a zona sul temos mobilidade lenta. Na nacional 105 há muitos constrangimentos, e por isso está previsto um investimento na ferrovia para a tornar numa zona de metro ligeiro de superfície, recuperando o que foi abandonado pelo tempo. A ferrovia Guimarães – Porto foi abandonada e temos de repensar os apeadeiros e ocupá-la a 100%. No tempo em que a via não está a ser utilizada pelas ligações ao Porto, circular um metro que transporta as pessoas.
Para implementar até 2025?
Não é possível. Se dependesse só da câmara era, mas não é. O grande problema é que as entidades que têm a responsabilidade,
quer ferroviária quer das autoestradas, ou outras entidades, nomeadamente das reservas, não têm a mesma urgência e a mesma diligência para resolver os assuntos. A câmara pouco lhes diz e trabalham ao ritmo que entendem e para o país inteiro.
Relativamente a Vizela, o que precisava, na altura, não era de uma ligação à autoestrada, mas de uma avenida à cidade de Guimarães, e não podemos voltar a cometer o erro. A avenida que nós estamos a fazer é de ligação de Fermentões às Taipas.
Quanto ao centro da cidade, a câmara tem a intenção de requalificar a Avenida D. João IV e aumentar a pedonalização. Como imagina a cidade depois dessas intervenções?
A avenida D. João IV é a entrada/saída da cidade que está menos bonita, e precisa de uma intervenção profunda. Tem que ser uma
obra muito bem planeada porque vai provocar grande transtorno. Eu proponho-me a fazê-la. Quanto ao completar da pedonalização do centro da cidade, o comércio pode dizer o que quiser, e eu quero que os comerciantes estejam com a câmara, e que todos os moradores estejam com a câmara, mas se nós não alterarmos o paradigma, não teremos melhores resultados ou não teremos resultados diferentes.
Para a rua de Santo António eu defendo a instalação de uma pérgola, embora os serviços técnicos da câmara não. A atual faixa de circulação da rua, que ficará ao mesmo nível dos passeios, passará a ficar coberta. E defendo que o largo do Toural, na parte norte, e quem me dera dos dois lados, e também a parte superior da Alameda, ficarão para utilização preferencial dos peões.
Foi para isto que construímos o Parque de Camões também. Esta obra é muito importante, e queremos ter os comerciantes e a restauração connosco. O pior que pode acontecer é ter uns contra os outros, porque o negócio de uns puxa o dos outros. Quantas mais pessoas vierem para a restauração em Guimarães, mais irão comprar nas lojas. E nós nem estamos a ser pioneiros em nada.
Há outras cidades que já avançaram há muito tempo com isso e sentem-se confortáveis, e o comércio deu um salto enorme. Já me pediram outra vez até, mas é para pensar e já não é para mim, no novo parque de estacionamento no subsolo no Largo República do Brasil, que estava no Plano de Mobilidade Sustentável que apresentamos há uns quatro ou cinco anos.
Guimarães tem vindo a perder população e, segundo o presidente, é um território muito apetecível. As pessoas querem vir para cá e isso tem provocado até um aumento dos preços da habitação. O que o município pode fazer nesta área?
Se atentarmos bem à evolução demográfica de Guimarães, o grande problema não foi de 2011 a 2021. Guimarães é muito atrativo, as pessoas querem muito vir e viver em Guimarães. Mas a situação atual tem afastado vimaranenses da área mais central. Tem a ver com duas questões. Nós temos terrenos para construção, disponíveis, e muitos investidores entendem que o que importa é ter o terreno apto para construção, e até o projeto pronto, para garantir a viabilidade. Mas depois veem como um tesouro e que têm tempo para construir, o que não é bom.
E a outra questão é, de facto, que a cidade de Guimarães não é propriamente uma cidade que tenha muitos terrenos disponíveis para construção. Em muitas cidades podem construir 10, 12, 15 andares, e numa cidade Património Mundial, que protege a zona classificada e a zona de proteção, não. Aos 40 hectares temos de somar outros 40. E 80 hectares de cidade é muita coisa.
E há ainda outra questão importante: É que na zona histórica e de proteção, a câmara não manda só, tem de ter o parecer vinculativo
da direção de Cultura, regional e nacional. Muitas vezes temos a aprovação da câmara, nomeadamente em reabilitações, e a reprovação da Direção do Património Nacional.
E há mais alguma coisa que a câmara possa fazer nesta área?
Nós estamos a fazer, até no âmbito do PRR, que tem um programa para o parque habitacional público. Nós passamos de 12,5 milhões
na Estratégia Local de habitação, para 35 milhões já ao abrigo do PRR, e agora estamos a tentar 115 milhões para o parque habitacional e apoio à habitação. Depois também temos o plano complementar ao + Habitação nacional em que nós daremos um conjunto de incentivos de apoio à habitação e muitos deles em taxas nas licenças e na baixa do IMI, com isenções parciais ou mesmo totais.
Temos que fazer a nossa parte da habitação pública, porque o parque habitacional público é deficitário em todo o país, relativamente à Europa. A Noruega e a Suécia, que são exemplos, têm cerca de 15% de parque público, para lá chegarmos temos de andar muito.
Além de 172 casas, se formos financiados, estamos a trabalhar para construir mais 100 junto às oficinas de S. José.
Construção a custos controlados?
E este é mesmo virado para os jovens. Estas que vamos fazer foram na prorrogativa da habitação indigna, e agora será direcionada para habitações a custos controlados, preços moderados e para habitação dos mais jovens.
É tido como um homem das contas. Criticam-no por alguma demora na conclusão de alguns projetos, e por esperar garantir financiamento?
Eu sou muito defensor do equilíbrio financeiro. Em casa que não há dinheiro, todos ralham e ninguém tem razão. Facilmente se resvala para situações destas quando se cometem imprudências.
Mas compreende a impaciência das pessoas?
O que nos tem permitido captar muitos fundos comunitários é o facto de nós termos equilíbrio financeiro, alguma possibilidade financeira, de avançar na elaboração dos projetos, que não são baratos, e até iniciar obras. Se não tivéssemos essa disponibilidade financeira não o poderíamos fazer. Quem não tem dinheiro, não se candidata a coisa nenhuma.
Avançamos, por exemplo, com a reabilitação da Escola EB 2-3 de S. Torcato porque temos dinheiro para adiantar. A Escola Hotel ou do
Arquinho a mesma coisa, entre outros investimentos. Nós avançamos com os projetos e há um compasso de espera, muitas vezes, para termos a aprovação ou a possibilidade forte de sermos financiados. Eu não avanço numa obra de 10 ou 12 milhões de euros se não tiver financiamento, senão estamos a destruir um pouco a nossa capacidade de financiamento para outras coisas. Essa moderação e prudência, eu tenho-a, e tem possibilitado que possamos avançar para projetos ambiciosos.
Ninguém me peça para, por querer fazer mais uma obra, ou duas ou três, desiquilibrar as contas do município, muito mais numa fase em que termino em 2025. Eu quero deixar as contas do município bem. A marca financeira, que já vem anterior à minha presidência, e eu fui o responsável financeiro do município por muitos anos.
“Para o município, para o país e para qualquer sociedade, as contas equilibradas são fundamentais.”
Relativamente aos impostos, os vimaranenses podem esperar algum presente no final deste último mandato? Contrariamente ao que possa passar, nós não temos nenhuma folga orçamental. Para o compromisso que temos para o conjunto de obras estruturantes no âmbito da União Europeia, e do PRR, com a Educação e a área da Saúde, nós não temos muita folga.
Mas um ou outro imposto nós poderemos. Subir impostos de todo não, mas por exemplo, para o próximo ano teremos uma baixa do IMI, que diz respeito a todos, de 0.33 para 0.32. O limite máximo é 0.45 e o limite mínimo 0.30. Há uma baixa aqui, e nós, se estivéssemos a cobrar o máximo, arrecadaríamos mais cerca de 10 milhões de euros. Esta décima significará menos cerca de um milhão de euros de receita para o município.
Se descer agora a derrama, ou o IRS, teria efeitos essencialmente em 2025 e 2026. Seria simpático dizer aos vimaranenses que vou
baixar o IRS na parte que pertence ao município, cortar para metade as taxas e licenças, mas isso era dizer a quem venha a seguir para suportar a baixa que estou a fazer, e isso não é prudente nem é correto. O nível de impostos diria que é equilibrado. No IMI seremos, nos municípios do Quadrilátero, o que tem a taxa mais baixa. Se fosse para baixar impostos teria baixado há dois ou três anos, se o pudesse fazer na altura.
Mas poderá ser pressionado pelo partido para o fazer.
Eu não o farei. Respeito todos os partidos, nomeadamente o partido pelo qual fui candidato, o partido socialista, mas não farei nada que seja demagógico e que seja para prejudicar Guimarães, no sentido de perder o equilíbrio financeiro nas contas do município.
Sente que ainda lhe faltam dois anos ou só lhe faltam dois anos?
Isto é como o conhecimento, quanto mais sabemos, mais sabemos que falta tanto conhecer. Neste ciclo, que para mim já é longo, como
presidente e até como vice-presidente, eu direi que há sempre tanto a fazer.
Há uma certeza, foi muita obra feita, muito desenvolvimento promovido, há tanta coisa boa que fizemos, uma boa visão da cidade, que é referência na Europa. Estamos nas dimensões certas das cidades contemporâneas e de futuro. Na mobilidade, eu gostava de fazer a ligação à alta velocidade, a grande avenida de ligação de Fermentões às Taipas, da ferrovia estreita com os apeadeiros e estações na ligação ao Porto.
Gostava de fazer o canal de ligação da Avenida D. João IV ao teleférico. Há sempre muito a fazer, embora tenha sido muita coisa feita.
Não estou a dizer isto para elogiar o meu trabalho. Mas não foi por acaso que os vimaranenses me elegeram pacificamente com maiorias absolutas. Gostei muito de, nos meus mandatos, nunca mudar como sou, sobretudo na proximidade com as pessoas.
Um presidente próximo, natural. Sinto-me em pleno, sinto-me bem, nesta proximidade, nesta forma de estar, não soberba, não arrogante, sempre disposto a ouvir e a escutar. Uma pessoa com cultura democrática que tenta aperfeiçoar todos os dias. É nessa forma de estar na presidência que eu acho que me sinto tranquilo e acho que contribui para o reforço de uma sociedade vimaranense que está alinhada com o poder municipal. Sinto que consegui uma governação da câmara municipal inclusiva, humilde e de serviço.
PUBLICIDADE
Partilhar
PUBLICIDADE
JORNAL
MAIS EM GUIMARÃES
Setembro 14, 2024
Cónegos estiveram a vencer mas perderam por 1-3 em Rio Maior.
Setembro 14, 2024
Declarações do treinador do Vitória na antevisão ao dérbi do Minho deste domingo, dia 15 de setembro, disputado em Braga.