Entre o dever cumprido e o apelo à cidadania: a despedida de José João Torrinha da AM
O Grande Auditório Francisca Abreu, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, recebeu este sábado a cerimónia de tomada de posse dos novos membros dos órgãos autárquicos municipais, marcando o início de um novo ciclo político no concelho. O momento, ficou também assinalado pelo discurso de despedida de José João Torrinha, que cessou funções como presidente da Assembleia Municipal de Guimarães.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães
A sessão decorreu na sequência das eleições autárquicas de 12 de outubro, nas quais a lista encabeçada por Rui Armindo Freitas, da coligação Juntos por Guimarães, foi a mais votada, embora sem alcançar maioria no órgão autárquico.
Na sua intervenção final, José João Torrinha começou por fazer um balanço do seu percurso à frente do órgão deliberativo municipal, recordando os anos em que teve “a suprema honra” de presidir à Assembleia. “Cumpriu fielmente o seu papel enquanto o fórum maior de debate político no nosso concelho. Esse mérito, é bom que se diga, não se atingiu graças ao seu presidente, mas muito mais a muitos outros”, reconheceu.
Num tom simultaneamente reflexivo e agradecido, Torrinha defendeu a importância da política local e da elevação do debate democrático, lamentando que, nos tempos atuais, a palavra “político” seja muitas vezes tratada como um palavrão.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães
“É justo reconhecer o trabalho, a dedicação e a postura de todos os deputados municipais que deram o melhor de si em defesa daquilo em que acreditam. A maioria das pessoas escapará à angústia de preparar uma intervenção naquele fórum, de se expor publicamente, de dar o peito às balas no contraditório. E, no entanto, os deputados municipais de Guimarães souberam fazê-lo com elevação e respeito por quem discorda.”
O ex-presidente sublinhou o clima de civilidade que, na sua opinião, caracterizou o mandato, destacando que a Assembleia vimaranense “pede meças ao Parlamento Nacional” quanto ao respeito institucional e à qualidade do debate.
Elogio à proximidade e aos heróis da democracia local
José João Torrinha reservou parte significativa do discurso para enaltecer o trabalho dos presidentes de junta, a quem chamou de “heróis poucas vezes reconhecidos na democracia local”. “São eles a primeiríssima linha de apoio aos cidadãos que representam. Dedicar horas a fio, tantas vezes em condições precárias, é um ato de verdadeiro serviço público. A esses homens e mulheres, a minha homenagem.”
Dirigiu também palavras de gratidão ao executivo camarário, liderado por Domingos Bragança, salientando a colaboração institucional exemplar entre Câmara e Assembleia. “Sem uma única falha. Sem negar nada do que a Assembleia precisou. Sem intromissões indevidas nas competências alheias. Muito obrigado, Dr. Domingos Bragança.”
Torrinha destacou ainda o empenho dos funcionários municipais, frequentemente “gratuitamente desprezados”, elogiando a competência e dedicação das equipas técnicas que apoiam o funcionamento da Assembleia Municipal.
“A democracia não é só bonita quando se ganha”
Perante o novo cenário político resultante das eleições de outubro, Torrinha deixou uma mensagem de respeito pela vontade popular e de humildade democrática: “O contexto de mudança política não é pequeno, mas reconheço nele apenas o sistema democrático a funcionar. A democracia não é só bonita quando se ganha; também o é quando se perde. É normal que quem vê as suas propostas derrotadas se entristeça, e que quem vence se sinta reconfortado. Saibam todos aceitar com humildade a vontade soberana do povo.”

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães
O ex-presidente endereçou votos de sucesso ao novo executivo municipal e aos deputados que agora iniciam mandato, desejando-lhes “as maiores felicidades” e “o mesmo espírito de serviço público” que diz ter procurado manter ao longo dos anos.
Um apelo final à cidadania vimaranense
José João Torrinha terminou a sua intervenção com um apelo à participação cívica dos cidadãos: “Participem na vida do vosso concelho. Nas instituições, nas escolas, nos partidos, nas assembleias de freguesia e na Assembleia Municipal. A vida é demasiado curta e preciosa para não deixarmos a nossa marca e o nosso contributo para o bem de todos.”
Numa nota de despedida, concluiu: “Foi isso que tentei fazer antes de vir para a política partidária. Foi isso que fiz enquanto por lá andei. E é isso que pretendo continuar a fazer até ao fim dos meus dias.”





