ESTE COLETIVO QUER QUE A PALAVRA VOE, LIVRE E INFORMAL
Um olhar para “prestar atenção no que nos une e não na diferença do que nos separa”. Porque “o que nos une é sempre maior”.
Coletivo Palavra Voa organizou um festival com o mesmo nome no Bar da Ramada. De índole antifascista e com os olhos postos na integração, o grupo pretende organizar mais festivais pelo norte do país — e fixar as tertúlias de poesia na agenda vimaranense.
Um olhar para “prestar atenção no que nos une e não na diferença do que nos separa”. Porque “o que nos une é sempre maior”. A escritora Manuella Bezerra de Melo, a viver em Guimarães há três anos, não tem dúvidas acerca da importância da integração multicultural e, por isso, avançou com o festival Palavra Voa, que decorreu no sábado, dia 25, no Bar da Ramada. Mas não o fez sozinha: o coletivo do qual faz parte, que partilha o nome do evento referido, reúne artistas brasileiros e portugueses, atua no norte de Portugal e pretende abrir um espaço para novas produções artísticas na região. Do grupo também fazem parte a artista visual Cleo do Vale e a bailarina Isabella Maia.
E as três mulheres brasileiras e “um pouquinho corajosas”, como carateriza Manuella, apresentaram uma performance que juntou poesia sobre o poder da palavra, a dança e a música (com a participação de Darlan Lima). No festival participaram, também, a galega Silvia Penas Estévez e os portugueses Pedro Godinho, Pedro Tavares, Marta Calejo e Natália Macedo (artista vimaranense). “A ideia inicial foi juntar artistas que estão a buscar espaços para se apresentarem. Metade das pessoas que se apresentaram hoje são de outros países. Temos brasileiros, galelos, russos e portugueses”, explica a escritora.
O objetivo, diz, “é promover a integração destes artistas, no sentido de trabalharmos em coletivo para trabalharmos novos espaços que sejam de iniciativa independente”. Ou seja: o Palavra Voa é um coletivo multicultural, inclusivo e independente. Para além disso, também se assume como antifascista: “Queremos promover essa integração e desenvolver um olhar antifascista para a produção artística”, afirma. “O fascismo interfere no direito de existir do outro. Quando tu sentes o teu direito de existir ferido, automaticamente reages” — e, por isso, o coletivo quer estimular a criação artística através da integração.
Atuando no norte do país, o coletivo Palavra Voa tem ideias de realizar eventos semelhantes no Porto ou em Braga “até agosto”, com um regresso ao Bar da Ramada no horizonte. “Lá no Brasil é muito frequente fazer este tipo de eventos. Nós viemos para ‘informalizar’ Portugal”, atira, com uma gargalhada. Quanto ao futuro, há projetos em mente: “Outra ideia é desenvolver uma tertúlia fixa aqui”, afiança Manuella. E o festival abriu exatamente com uma, para “quebrar o gelo e estimular os participantes a soltarem sua veia poética com a leitura de textos autorais ou canónicos que lhes apeteça partilhar”. É que a poesia parece, muitas vezes, “intocável, fantasmagórica” e de difícil abordagem. “O que nós procuramos é democratizar o acesso à produção poética, mas também à contemplação poética. Há poucos espaços para se integrar a poesia”, opina.
Se no Brasil a criação cultural efervesce dado o panorama político atual, em Portugal a realidade é um pouco diferente. “Lá existe produção artística muito forte do ponto de vista antifascista, a poesia tornou-se mais política, tal como a produção literária. Infelizmente, porque é necessário”, diz. Por cá, o processo é diferente, mas Manuella vê a integração a acontecer. E também “muitas coisas bonitas”. O coletivo Palavra Voa continuará a fazer por isso — e sempre de forma independente e com uma forte vertente comunitária.
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