Festival de Canto Lírico de Guimarães anuncia tetralogia operática até 2026
O projeto “O Corpo e o Poder” reúne quatro novas óperas.

© Eliseu Sampaio / Mais Guimarães
O Centro Cultural Vila Flor foi palco da apresentação oficial de uma ambiciosa tetralogia operática que integrará o Festival de Canto Lírico de Guimarães até dezembro de 2026. Sob o título “O Corpo e o Poder – O Artifício Operático como Processo Analítico”, o ciclo reúne quatro óperas que prometem explorar a relação entre expressão corporal, estruturas de poder e o papel da arte como instrumento de análise social. Na apresentação do cartaz marcaram presença os responsáveis pelas entidades envolvidas no projeto como Paulo Lopes Silva do Município de Guimarães, Francisco Teixeira da ASMAV, Jorge Salgueiro da Setúbal Voz, Fernando Marinho da Orquestra do Norte.
O projeto resulta de uma colaboração entre diversas entidades culturais e institucionais, nomeadamente a ASMAV – Associação Artística Vimaranense -, a Associação Setúbal Voz, as Câmaras Municipais de Guimarães e Setúbal, a Orquestra do Norte e A Oficina. Esta parceria intermunicipal “visa reforçar a descentralização da criação operática em Portugal, apostando numa programação que cruza a tradição do canto lírico com uma abordagem crítica e contemporânea da sociedade”.
Francisco Teixeira, diretor artístico da iniciativa, sublinhou a importância do ciclo: “São quatro novas óperas, com tema transversal do corpo e do poder, que mais uma vez acrescentam à cultura portuguesa quatro novos textos musicais, originais, compostos por portugueses, quatro novas encenações, e que afirmam Guimarães como um lugar de referência estruturada da apresentação da ópera contemporânea em Portugal”.
O responsável destacou ainda o papel da arte na compreensão do mundo atual: “A ópera nem sempre é uma coisa fácil, é uma coisa exigente, é uma coisa complexa, e essa exigência é algo bom. As pessoas precisam de exigência de complexidade para compreenderem o mundo e os desafios que ele coloca”. O ciclo abordará temas de grande relevância histórica e política: o antissemitismo com uma ópera sobre o massacre dos judeus em Lisboa no século XVI, a obra da escritora Agustina Bessa-Luís, o genocídio em Gaza e uma figura mítica do nordeste português, ligada à origem do país. Além destas quatro criações principais, o programa inclui ainda uma vertente inédita, nomeadamente óperas para bebés.
“Na verdade, são oito óperas, porque a seguir a cada uma das principais haverá uma versão para bebés no espaço da Associação Artística Vimaranense, para que os pais possam levar os filhos muito pequenos a assistir a estas experiências musicais em miniatura”, explicou Francisco Teixeira.
Paulo Lopes Silva, ainda na qualidade de vereador da Cultura da Câmara Municipal de Guimarães, realçou “o crescimento sustentado do festival ao longo dos últimos sete anos”: “Tem vindo a crescer de forma consistente, com uma preocupação em ir ao encontro de públicos diferentes e em ganhar regularidade. Passámos de concertos únicos a temporadas bienais de música lírica, o que consolida o programa cultural da cidade”.
O autarca também não deixou de criticar a pouca aposta do país na ópera fora da capital: “É uma boa notícia para nós, e uma má notícia para o país, porque significa que o resto do território tem negligenciado esta expressão artística. Guimarães está a assumir um papel que deveria ser partilhado mais amplamente”.