GUALTERIANAS EM TEMPO DE NICOLINAS
Por José da Rocha e Costa

Por José da Rocha e Costa,
Gestor de empresasComo todos sabem, começam esta semana as muito aguardadas festas em honra de São Nicolau. Mas, apesar dos bombos afinados a preceito e das vestes tradicionais aprontadas, é de outras festas que vamos falar. Como diz o outro: “o corpo de verão começa-se a preparar no inverno”. E pelos vistos não sou o único a pensar desta forma, pois decorreu na passada quarta-feira, dia 14, no Centro Internacional das Artes José Guimarães, uma jornada de reflexão sobre as “Festas Gualterianas e da Cidade”, iniciativa esta, promovida pela Câmara Municipal de Guimarães, que contou com a participação de algumas dezenas de representantes de várias instituições da nossa cidade. O objectivo principal focou-se, sobretudo, em encontrar a melhor solução para o programa das festas, seus eventos e locais de realização nos tempos de hoje.
Esta discussão tem a ver sobretudo com o facto de as barracas, tendas e equipamentos de divertimento terem sido, nos últimos anos, progressivamente empurrados para fora do centro da cidade – Alameda, Campo da Feira e Hortas – centrando-se na zona da estação inferior do teleférico.
Esse foi, de resto, um dos pontos de destaque da referida jornada, havendo vários intervenientes a defender que os equipamentos relacionados com as festas deveriam ser deslocados para lugares mais privilegiadas como o Toural, a Alameda de São Dâmaso, o Campo da Feira, ou mesmo espaços do centro histórico como, por exemplo, a “Feira do Pão”.
Perante isto, gostaria de dizer antes de mais, que nada tenho contra as festas Gualterianas, e que o facto de habitualmente evitar certas zonas da cidade enquanto estas decorrem, trata-se de mera coincidência. Ainda assim, e não querendo ir contra a opinião de alguns dos ilustres palestrantes que referi, a verdade é que roulottes de farturas no meio da Alameda e banquinhas a vender bugigangas no meio do Toural, é uma visão que não me entusiasma particularmente. E as pessoas poderão dizer: “E então a tradição? A tradição não é levar a festa para o meio da rua? Para o meio do povo?”
É, no fundo é, mas na altura em que as festas foram criadas, não havia roulottes com geradores barulhentos, nem carrosséis com 10 metros de altura a disparar raios laser para tudo quanto é sítio. Se fosse para fazer umas corridas de cavalos ou umas touradas (que certamente contariam com o apoio do grande poeta Manuel Alegre), ou outra coisa qualquer que nos transportasse às origens das festas Gualterianas, eu seria o primeiro a apoiar. Agora, roulottes no meio do centro histórico, dispenso. Aliás, para isso já existe a feira afonsina, que não tem roulottes, mas tem barracas, onde nunca falta o tradicional pão com chouriço tipicamente medieval.
Porém, esta discussão prende-se sobretudo com os equipamentos de diversão, já que uma boa parte dos eventos que compõem o programa das Festas Gualterianas continuam a decorrer no centro da cidade: o Cortejo do Linho, a Batalha das Flores, a Procissão de São Gualter e, acima de tudo, a Marcha Gualteriana que se mantém viva e de boa saúde até aos dias de hoje.
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