GUILHERME DUARTE SOBRE GUIMARÃES: “É UM PÚBLICO GENEROSO E CALOROSO”

O humorista português Guilherme Duarte está de regresso a Guimarães, desta vez "Só de Passagem", o seu novo espetáculo a solo.

guilherme duarte barra

O humorista português Guilherme Duarte está de regresso a Guimarães, desta vez “Só de Passagem”, o seu novo espetáculo a solo. A tour arrancou no início deste mês e já esgotou três salas.

Na cidade-berço, o espetáculo terá lugar no São Mamede CAE e está agendado para este sábado, dia 23 de março, pelas 22h00. Guilherme Duarte, o autor do blogue “Por Falar Noutra Coisa”, esteve à conversa com o Mais Guimarães, sobre o “Só de Passagem”, sobre o seu trabalho como humorista e sobre Guimarães. Garantindo que não estava “a dar graxa”, o comediante admitiu que os vimaranenses foram o melhor público do seu último espetáculo a solo. Para além disso, garantiu que o espetáculo de sábado valerá bem a pena.

“Só de Passagem” é o segundo solo, que sucede a “Por Falar Noutra Coisa”, um grande sucesso. O que podemos esperar deste novo espetáculo? Vai haver rap novamente?

Tentei que fosse um upgrade do anterior. Existem alguns pontos em comum na estrutura em capítulos com one liners no meio, mas com um twist diferente do espectáculo anterior. Chamar-lhe rap é um bocado ofender os rappers a sério, mas obrigado! Mas, sim, vou dizer frases que rimam ao som de uma batida com um flow de branco da Buraca, isso vai acontecer. Não será tanto num registo de intervenção como no outro, mas uma coisa que tem a ver com a comédia e com os ofendidos da internet. O resto, será uma surpresa, posso adiantar que o início é totalmente diferente e acho que vai surpreender quem for ver. Deu-me muito, muito trabalho a intro, por isso espero que pelo menos valorizem isso.

Como foi o processo criativo para o “Só de Passagem”? De onde retiras a inspiração?

É sempre um processo constante, normalmente durante o ano vou escrevendo algumas coisas, algumas piadas ou temas que gostaria de abordar no espectáculo futuro. Depois, é ir testando algumas coisas em bares e eventos de stand-up, para perceber se pode funcionar ou não e limar ao máximo até à estreia. Há um grande processo de reescrita e de tentar definir os momentos diferentes que gosto que os meus espetáculos tenham e não sejam apenas stand-up comedy no estado puro. Normalmente, ali a dois meses da estreia, fecho-me uma semana algures, sozinho com a minha cadela, e monto as peças todas do puzzle para aquilo no fim parecer uma coisa com pés e cabeça e fazer sentido como um todo. A inspiração vem de todo o lado, mas especialmente da minha vida pessoal e da forma de ver o mundo. Neste espetáculo vou contar algumas histórias pessoais, o porquê de eu não querer ter filhos e como lido com a questão da morte, entre muitas outras coisas, umas mais “sérias”, outras mais parvas. Tento deixar a atualidade de fora dos meus solos, para que quem veja mais tarde continue a fazer sentido, mas às vezes podem ter algumas referências a questões incontornáveis que estão a acontecer ou marcaram o ano.

O título “Só de Passagem”, tem algum significado?

Acaba por ter dois significados, um mais prático, no sentido em que estou só de passagem pelas cidades onde vou com o espetáculo, mas, acima de tudo, tem o significado que estamos todos só de passagem nesta vida curta e que nos resta rir disso, da nossa própria finitude, para tornar as coisas mais leves.

É a tua segunda passagem por Guimarães. O que pensas da cidade-berço?

Em trabalho é a terceira, além do espectáculo anterior estive aí em janeiro do ano passado com outros humoristas para uma noite de comédia também. Infelizmente, tem sido sempre pouco tempo, já não tiro uns dias para aproveitar Guimarães há algum tempo, mas sou sempre muito bem tratado aí, acho que na tour passada posso dizer que foi o melhor público que tive. Pode ser graxa porque sei que isto vai ser lido por pessoal de Guimarães, mas também pode ser a verdade, nunca saberemos. A verdade é que senti o público mesmo muito generoso e caloroso e é sempre um prazer. Em relação à cidade, sou capaz de não me lembrar de tudo porque me ofereceram muitos finos, mas é sem dúvida uma cidade bonita e, acima de tudo, com pessoas genuínas e simpáticas. Podia ser a pior cidade do mundo que eu iria sempre dizer bem nesta entrevista, mas acreditem que até estou a ser sincero.

O público vimaranense é um público difícil? Adequas algum pormenor do teu espetáculo consoante as cidades onde atuas?

Acho que não. Apesar de ser um público exigente, acho que é generoso. Em algumas cidades o público demora mais a aquecer ou é mais fácil de perder se alguma piada for ao lado. Em Guimarães senti que o público está lá para rir e que mesmo que falhem algumas, sabem que isso faz parte e continuam do lado do humorista. Em relação a adaptar algumas coisas consoante as cidades, é muito raro, não tenho referências muito específicas neste, mas às vezes pode acontecer. Se referir alguma discoteca, em vez de falar do Lux ou do Urban de Lisboa, tento fazer referência à discoteca mais conhecida da cidade e alguns pequenos ajustes desse género.

Este é apenas o segundo espetáculo a solo, em que a tour começou este mês. Como foi ter duas datas esgotadas logo desde início?

Foram as três primeiras, duas no Porto e a uma em Lisboa, todas lotadas. Foi um prazer, é sempre uma surpresa, eu acho sempre que o público já está farto de mim, gosto de ter expectativas baixas para não me desiludir. Mesmo quando os bilhetes estão todos vendidos, penso sempre que as pessoas se vão esquecer e ficar em casa ou que foram os meus pais que decidiram hipotecar a casa para comprar os bilhetes todos e me fazerem sentir feliz. Não podia pedir melhor começo de tour, percebi que muita gente foi que não tinha ido ao primeiro o que é bom sinal, que tenho angariado público novo, mas ver também muita gente que foi ao outro e não ficou desiludido com este é gratificante saber que se piorei não foi muito. Espero que Guimarães me dê o prazer de ter a casa esgotada também, no primeiro espetáculo foi quase quase, neste gostava de encher aquilo! Quem está a ler isto, já sabe o que tem a fazer.

Para além do blogue e do stand-up, és ainda um dos protagonistas do “Falta de Chá”, que passa agora na Sic Radical. Em qual destes formatos te sentes melhor? É difícil escolher um?

Sim, cada vez é mais difícil escolher. Diria que a escrita continua a ser a minha base, seja para o blogue, para o stand-up ou para os sketches. No entanto, dá-me um prazer imenso gravar os sketches com o Ricardo, divertimos-nos muito e o stand-up começa a ser cada vez mais um gosto. Sempre com alguma angústia antes de entrar em palco, mas cada vez mais me consigo divertir lá em cima e tirar prazer. Estar em casa de pijama a escrever um texto atrás do computador acaba por ser sempre mais confortável e mais fácil, vá.

Embora esta tour tenha começado há pouco, pretendes continuar a escrever e a preparar mais solos?

Acho que sim. Enquanto isto me der prazer e o público me quiser continuar a ver, conto produzir mais espetáculos. Acho que de ano e meio em ano e meio é o ideal para mim. Com tantos outros projetos onde quero continuar a investir, torna-se difícil ter uma tour por ano, em que tenha tempo para a preparar e ter a mesma qualidade. Mas, se tudo correr bem, se eu não morrer e o público não se fartar de mim, lá para final de 2020 ou inícios de 2021 haverá novo espectáculo na estrada.

Ser humorista em Portugal: fácil ou difícil?

Nem sei bem como é ser noutros países, mas não me posso queixar. Acho que no digital há muito espaço para o humor. As marcas começam a apostar e os media tradicionais voltam a querer apostar no humor. Acho que estamos numa época dourada da comédia, com novos talentos a surgir no digital e a esgotar salas em todo o país e a mostrar que, afinal, os portugueses até gostam de rir, ao contrário do que nos foram tentando convencer. Ainda existe um longo caminho a percorrer, é preciso mais comedy clubs, uma maior cultura de stand-up, para haver mais espaço para novos talentos e para que todos possamos ter mais palco e melhorar. Que o público também perceba melhor a evolução que há desde a ideia e primeiros testes num bar, até chegar a um solo e apresentar o espetáculo em grandes auditórios. De resto, vivemos tempos mais complicados em termos do politicamente correcto e de algumas tentativas de censura. Mas acho que estamos bem, acho que há espaço para o humor e a maioria das pessoas valoriza o que se tem feito. Os ofendidos da Internet acabam por ajudar a ter visibilidade e trato-os com muito carinho que até tenho sempre um espaço reservado para eles nos meus espectáculos.

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