Guimarães também é fado

Promover, divulgar o fado, como Canção de Coimbra ou o Fado de Lisboa e a Guitarra Portuguesa em Portugal e no Mundo, respeitando e enfatizando as particularidades que distinguem estes dois géneros musicais, são objetivos da Associação Guimarães Fado, sediada em Guimarães.

© Associação Guimarães Fado

Fundada a 08 de Junho de 2019, a associação conta atualmente com mais de uma centena de sócios oriundos de diversas cidades da zona norte de Portugal mas também da Galiza.

Estimular a parceria e o diálogo entre as diversas gerações do Fado, a solidariedade entre os diferentes estratos sociais e a aprendizagem ao longo da vida, sob o domínio da arte, da música e da cultura, tem sido o trabalho desenvolvido pela Guimarães Fado, para além da produção e apresentação de espetáculos musicais e artes performativas relacionadas com este género musical tão português.

Entre as atividades da associação, destacam-se a “Escola do Fado” onde se leciona o canto para o Fado, a guitarra portuguesa e a viola de Fado, e o “Amantes do Fado”, programa emitido todas as quintas-feiras no Famalicão Canal. Em agosto, nas Festas da Cidade e Gualterianas, a associação é responsável pela organização da noite de fados.

A Associação Guimarães Fado dá voz aos mais relevantes cantores e instrumentistas da região

A associação promove também Ensaios Abertos em ambiente informal e com caráter gratuito, um convívio musical onde músicos, artistas, turismo e público em geral, celebram o espírito do Fado.

Luís Teixeira de Campos é o presidente da associação Guimarães Fado. Chegou a Guimarães há 15 anos. É natural de Porto, mais concretamente de Serralves, e leva uma vida ligada ao Fado. A sua aventura pelo berço arrancou em Serzedelo, com um grupo de fados de Coimbra.

© Associação Guimarães Fado

“Começamos a tocar aqui na cidade e depois, juntamente com outros músicos, abrimos uma casa, a Fado 1111, que era uma
galeria e tinha um espaço também cultural e servia de residência artística de um grupo com o mesmo nome”, conta à Mais Guimarães.

A determinada altura, “começou a tornar-se uma coisa mais séria, com convites regulares para espetáculos e fez sentido
transformá-la num projeto coletivo”. Assim nasceu, há cinco anos, a Associação Guimarães Fado, que ocupou, nos primeiros anos, a capela da Sra. da Guia, na entrada do centro histórico, com umas tertúlias e ensaios abertos.

O que é que fizeram ao longo destes cinco anos?

Transformamos esta plataforma, esta associação numa base de apoio ao artista amador e profissional. Somos uma associação normal, que tem sempre por base o Fado, e sobre o Fado organizamos convívios, passeios, tertúlias, ensaios abertos, etc…

Temos o informalismo de uma associação, mas na medida em que alguns sócios são artistas, porque temos sócios que participam apenas nas nossas atividades, outros são artistas e, pelo nosso percurso e solicitações para espetáculos, alguns quiseram profissionalizar-se e levar isto mais a sério. Nesse sentido, criamos uma plataforma de apoio ao artista profissional, e já temos pessoas que se dedicaram ao Fado a 100% e com muito sucesso.

Há espaço para se crescer no Fado?

Há uma grande demanda do fado. O fado está muito ligado ao turismo cultural, com muito significado aqui no norte. As pessoas vêm ver o que é nosso, tradicional, querem conhecer o que é tipicamente português, a fundação da portugalidade, e o Fado
tornou se o “espelho” do que é a cultura portuguesa.

Qualquer turista que venha jantar quer ouvir Fado, e então há muita procura, especialmente no Porto, onde hoje há umas vinte casas de Fado, umas com Fado à tarde, outras à noite, e há os restaurantes e os hotéis. Mesmo aqui, em Guimarães, tocamos com alguma regularidade, e em Braga, o turismo religioso também procura muito o Fado.

A Associação Guimarães Fado foi pensada no sentido de ser financeiramente autónoma, recusamos andar de mão estendida, seja com o poder político, poder autárquico ou poder corporativo.”

© Associação Guimarães Fado

Em Guimarães há essa oferta de Fado aos turistas?

Nós tocamos regularmente em alguns sítios, e depois temos iniciativas próprias. Temos os ensaios abertos com participação
livre e muitos turistas vêm ver. Nesses ensaios livres quem quiser pode vir cantar ou tocar. Estão dois músicos residentes ali e as pessoas chegam, entram, tocam, assistem, fazem como entenderem, é uma oferta turística.

Não há de facto, até porque o Fado não é uma tradição típica do Minho, não há essa atenção, mas se formos a Famalicão já há, Braga dá essa relevância, nós aqui ainda estamos a construir esse caminho. Por isso é que nós aparecemos muito fora, menos aqui em Guimarães.

Valorizava haver uma casa de fado em Guimarães onde todas as noites fosse possível ouvir Fado?

Sim, a Câmara Municipal, e em particular o vereador Paulo Lopes Silva, vereador da Cultura e Turismo, apoia de forma determinante a Associação e o Fado. Perceberam que é uma mais valia para toda a gente e o turista procura.

Há talentos que estavam escondidos e que, entretanto, se revelaram?

Nós temos artistas dos 08 aos 80, literalmente. Como a associação começou a ter convites que exigiam produções mais profissionais e mais exigentes, criamos ao “Fadistas do Minho”, até porque, quando fazíamos produções fora de Guimarães, o nome “Associação Guimarães Fado” era entrave. Com os “Fadistas do Minho” produzimos espetáculos para outras câmaras, para outras juntas, emprestas e etc.

Temos um festival que se chama “Festival Fanfe”, que é um concurso dedicado às crianças, cuja gala final se realiza no Teatro Cinema de Fafe. A vencedora, por acaso, é nossa sócia, tem sete anos, é a nossa sócia mais nova e já faz espetáculos. O mais velho é o Magina Pedro que é uma pessoa dedicada ao fado de Coimbra, tem 82 anos, que ainda está no ativo.

Fado Canção de Coimbra ou Fado de Lisboa?

Enquanto associação retratamos os dois géneros possíveis do Fado na sua forma autêntica. São dois géneros musicais diferentes, e as pessoas por vezes não têm muito essa perceção. A guitarra e a viola são diferentes, têm afinações diferentes, a estética e mensagem são ímpares, e nós retratamos de forma autêntica um e outro género.

© Associação Guimarães Fado

O fado, desde que foi tornado património imaterial da humanidade, caiu no cinema, no teatro, na rádio, na imprensa escrita e tornou-se na grande expressão da cultura portuguesa.

Quais são os próximos objetivos da Associação?

É sempre criar oportunidades para todos, seja numa perspetiva amadora ou seja profissional. Faço questão de dizer que, quem
vier por bem será bem recebido, bem acolhido e ter espaço. Há pessoas que querem vir para o Fado numa perspetiva meramente lúdica, festiva, de convívio, e esses têm que ter espaço, não podemos tornar-nos numa agência de espetáculos meramente para engalanar e criar coisas muito pomposas.

Temos que ter os nossos convívios, os ensaios abertos, o informalismo, no fundo o associativismo no seu vigor, e em simultâneo, e na mesma força, criamos as oportunidades para quem quiser levar isto mais a serio, também ter aqui uma alavancagem. Por isso é que criamos espetáculos, temos uma escola de música, com a docência da guitarra portuguesa, do canto, da viola, instrumentos tradicionais, entre outros.

Em Guimarães o que gostavam de fazer?

Nós temos um festival aqui, chama se Fado ao Berço, mas nos últimos dois anos não o realizamos. Fizemos o primeiro festival e gostaríamos de voltar a fazê-lo. Porque não queríamos fazer igual, queríamos fazer melhor, e não conseguimos reunir condições, decidimos não o fazer nestes dois anos.

Precisam de mais apoios para isso?

A Associação Guimarães Fado foi pensada no sentido de ser financeiramente autónoma, recusamos andar de mão estendida, seja o poder político, poder autárquico ou poder corporativo. Nós conseguimos reunir os nossos capitais financeiros através de eventos, espetáculos, e com isso criamos as nossas produções, organizações, espetáculos, festivais etc. A nossa relação com câmaras, a de Guimarães ou outras, são relações de cooperação que podem dar-nos escala para fazermos as coisas maiores.

© Associação Guimarães Fado

O Fado está na moda?

O Fado, desde que foi tornado Património Imaterial da Humanidade, caiu no cinema, no teatro, na rádio, na imprensa escrita, e tornou-se a grande expressão da cultura portuguesa. Esta promoção que Lisboa fez, e muito bem, com os meios de comunicação, da importância do Fado e da sua relevância cultural, do Museu de Fado e a sua associação ao turismo e toda esta escalada, fez com que o fado esteja hoje presente nos restaurantes, nas festas, na televisão, na rádio.

Todos querem estar associados ao Fado porque é popular, é bonito é tradicional, tem a música, tem a nossa poesia, tem as vestes, tem a parte cénica, porque o Fado é muito cénico, é muito visual.

Como presidente da associação, como é que vê a novas sonoridades associadas ao Fado?

Eu acho bem.

Mas pode perder-se a essência ou não está em risco?

Não está em risco porque a base do Fado é a Casa do Fado, que continua a existir e todos têm de passar por aqui. A interpretação do fado é quase como um sotaque que se apanha, e aquilo aprende-se na base e se a partir daí passarmos para a inovação, perfeito. Se formos ver, a Carminho, Ana Moura e outras, quem não conhece abre a cortina e aquilo não é Fado, pode chegar-se a essa conclusão. Contudo, ao longo do espetáculo elas têm momentos de fado tradicional, e quando isso é feito aceito perfeitamente.

 

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