Hélder Trigo: “Não tenham medo de vir ao hospital quando for mesmo necessário”

Hélder Trigo, diretor Clinico do Hospital Senhora da Oliveira foi […]

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Hélder Trigo, diretor Clinico do Hospital Senhora da Oliveira foi o convidado do passado sábado, dia 23, do Consultório Aberto, programa do Mais Guimarães que conta regularmente com a colaboração de Emanuela Lopes, psicóloga naquela unidade de saúde. No próximo sábado, dia 30, pelas 18h00, o convidado do programa apresentado por Eliseu Sampaio, diretor deste jornal, será Miguel Guimarães, o bastonário da Ordem dos Médicos.

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Reproduzimos parte da entrevista que poderá ser visualizada aqui: https://youtu.be/STLINYbxM1g

Como está, neste momento, a resposta do hospital de Guimarães à covid-19?

Até há poucos dias, o hospital de Guimarães estava um pouco melhor do que outros hospitais, se compararmos sobretudo com os da região de Lisboa. Mas sabemos que as coisas vão piorar. De há uns dias para cá começaram a subir os números e estamos a ficar outra vez sob uma grande pressão. Esta situação está a exigir de nós um esforço enorme, quer para tratar os doentes covid mas também os doentes não covid. Felizmente ainda não atingimos os números de novembro, mas estamos convencidos que iremos atingi-los, mas oxalá que eu me engane. Mas estamos com a mesma preparação, com a mesma determinação de conseguirmos dar saída a todas as necessidades que nos vão aparecer.

Falamos agora de mais de 100 internados quando, em novembro, o hospital chegou a acolher mais de 200…

Estamos aquém daquilo que tivemos em novembro, mas a preparar-nos, e receamos vir a atingir os mesmos números dessa altura, ou pior.

Como é que explica que, perante evidências destas, ainda haja quem questione a perigosidade deste vírus e da situação que vivemos?

As pessoas que não trabalham aqui, ou que não têm nenhum familiar, parente, ou amigo próximo internado, estão longe da realidade e pensam que isto se passa noutro mundo. Pensam que isto acontece só aos velhinhos e continuam normalmente as suas vidas, alheados desta realidade. Quando, nos meus contactos, digo que a realidade é mesmo esta, as pessoas ficam um bocado admiradas.

“O que me preocupa é não sabermos quando isto acaba”

Como estão os profissionais do Hospital Senhora da Oliveira depois de praticamente um ano na luta contra a covid-19?

Os profissionais do hospital estão naturalmente cansados, essa é a primeira constatação que podemos fazer e que é fácil de verificar. Cansados mas animicamente bem para continuarem a suportar os encargos que lhes são pedidos. Mas temos de ter atenção que não tiveram férias, nem folgas, e continuando a pedir-lhes todo este trabalho, a alguns que têm ficado longe dos filhos, dos pais ou dos avós, e terem de continuar a trabalhar mais horas do que aquelas que fazem parte dos seus horários, noites e fins-de-semana e em condições desagradáveis, como são os equipamentos individuais de proteção, que são pesados, e quentes, fica tudo muito cansativo. Um dos problemas desta pandemia é o facto de ser tudo novo e nós não estamos a ver o fim. Se disséssemos que íamos trabalhar arduamente, mais do que é normal, durante um mês e depois íamos descansar, tudo bem.

Depois de novembro com mais de 200 doentes internados e os cuidados intensivos cheios, em que foi uma carga de trabalhos, as coisas melhoraram antes do natal, e ficamos um bocadinho mais contentes, a respirar melhor, e de repente cai-nos o natal em cima e agora as coisas estão mal outra vez. Mas o que me preocupa é não sabermos quando isto acaba.




E a questão da vacinação, vai trazer alguma tranquilidade aos serviços, ao hospital?

Mais de metade dos profissionais do hospital já estão vacinados e isso poderá ser uma lufada de ar fresco que permita às pessoas terem outro ânimo para estas semanas ou meses mais difíceis. Mas vamos ter de continuar a proteger-nos. Com a vacina, pelo menos nós não teremos umas dezenas de pessoas permanentemente em casa por estarem infetadas ou por terem contactos com infetados. Estamos a contar que isso nos venha a beneficiar também.

Relativamente à saúde mental dos profissionais, há algum programa de apoio que estejam a implementar?

Nós temos os nossos serviços de saúde mental, de psicologia e psiquiatria que estão, naturalmente, ao dispor dos profissionais para o que for necessário. E entretanto, temos também uma linha de urgência dedicada a esse tipo de apoios.

Temos mais de 1000 profissionais a lidar diretamente com doentes, e de tudo um pouco: aqueles que estão a dar o litro e continuam bem, temos pessoas que, de vez em quando, têm que meter uns dias de atestado ou baixa para recuperarem a animosidade. E temos também, mas felizmente poucos, que quando veem a casa a arder, fogem. Mas isso há em todo o lado. De uma maneira geral as pessoas estão cansadas, ansiosas pelo momento de verem passar esta pandemia, mas muito compenetradas no que tem que ser.

“Nós não podemos falhar, não podemos fugir, não podemos abandonar o barco nesta situação”

E os profissionais, sentem reconhecida essa dedicação?

Com o que tem acontecido atualmente ficaram um bocadinho incomodados, quando veem que as pessoas não respeitam as normas que deviam respeitar, e com isso aumentam a pressão nos hospitais. Receamos que, se não houver cuidado, possamos ter de deixar outros doentes não covid para tratar os doentes covid. As instalações, como os recursos humanos, não são infinitos. Por mais horas extraordinárias que façamos, por mais que se façam turnos de dia e de noite, por mais que estiquemos as camas e mandemos para casa os doentes que não são urgentes, isto acaba, e nós temos esse receio.

E o hospital é um lugar seguro?

Sem dúvida que o hospital é um lugar seguro, dentro das contingências que estamos a atravessar. Mas continuamos a dizer que as pessoas que não necessitem de cuidados urgentes para não se devem dirigir ao hospital. Neste momento não são permitidas as visitas, só em casos muito específicos. Isto para que não aconteça de apanharem o vírus cá no hospital mas também para não o trazerem.

© João Bastos

As pessoas estão a recorrer menos às urgências do hospital?

Nós sabemos que cerca de 45 a 50% dos doentes que recorrem às urgências têm normalmente pulseiras de cor verde ou azul, que são cores atribuídas a doentes considerados não urgentes, doentes que não tinham motivos clínicos que justificassem virem a uma urgência hospitalar. Necessitam de cuidados médicos do seu centro de saúde, do médico de família e não de um hospital de agudos como é o nosso.

Por esta percentagem já conseguimos perceber a quantidade de trabalho que temos no serviço de urgência e que prejudica todos aqueles que necessitam claramente do serviço. Toda esta organização precisará de ser revista. O hospital é a única unidade de saúde que está aberta 24 horas por dia. Só isso já nos compromete.




E de que modo estão comprometidos outros serviços pelo aumento do numero de internados por covid-19?

Em relação às operações, e foram instruções que chegaram do Ministério da Saúde, estamos apenas a fazer cirurgias no internamento, que ocupam camas, a doentes oncológicos ou urgentes. Estamos ainda a operar doentes em ambulatório, que são doentes que não têm de ficar internados. Porque necessitamos das camas para doentes covid e de anestesistas para darem apoio aos cuidados intensivos. Estamos ainda a alocar camas, do espaço do bloco operatório, para cuidados intensivos.

Quanto às consultas externas, neste momento, continuamos a fazer consultas e não temos nenhuma indicação de que as coisas venham a mudar. Para já, as consultas continuam, com os constrangimentos normais desta altura.

Relativamente a este novo confinamento geral, qual é a sua opinião?

Há o tempo da política e o tempo da ciência. O que me interessa a mim como diretor clinico é que conseguissem confinar as pessoas o mais possível. Acho que para nos defendermos e para que a pressão nos hospitais diminua tem que haver confinamento.

Preocupa-o que haja agora mais infetados jovens? Como se pode isto contornar?

É preciso demonstrar-lhes que esta situação é perigosa. O que não é fácil. Apesar de estarem a morrer alguns jovens e de alguns estarem internados e nos cuidados intensivos, a proporção é muito menor. A maior das pessoas dessa idade nem precisa de vir ao hospital.

Há muita gente nova e saudável que, não se percebendo ainda muito bem porquê, a doença os afeta de modo muito grave. Há qualquer característica neste vírus que faz com que algumas pessoas fiquem mais sensíveis.

Que mensagem quer deixar o diretor clinico do hospital as vimaranenses, nesta fase da pandemia?

Primeiro, que respeitem as regras da Direção Geral da Saúde. Respeitem-nas para que não tenham de vir para cá, para que não fiquem doentes e para que o hospital não fique numa situação em que não possamos tratar as pessoas como devem ser tratadas.

Gostava também de dizer às pessoas que fiquem tranquilas, porque ainda estamos em tempo de, se precisarem do hospital, nós temos capacidade para os tratar. Os doentes oncológicos podem continuar aqui os seus tratamentos, para os que têm sintomas de enfarte ou avc`s nós temos a nossa via verde a funcionar a 100%. Não estejam a adiar situações que, se vierem no dia seguinte, podem ser irreversíveis. Não tenham medo de vir ao hospital quando for mesmo necessário e façam tudo para este vírus não continue a galopar como está, porque podemos depois não o conseguir controlar.

© João Bastos

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