Por Sílvia Lemos “Até as árvores são sonhos. Março é um mês para trazer Raul Brandão às Inadiáveis Leituras. Nestes dias, à espera da Primavera, teremos boas razões para querer conhecer ou aprofundar os livros de Raul Brandão, um escritor cujos lugares de inspiração nos são tão próximos. Nascido a 12 de março de 1867, no Porto, a sua ligação a Guimarães vem de ter sido aqui colocado em maio de 1896, como alferes no Regimento Infantaria n.º20. Entretanto conhece Maria Angelina, vimaranense, com quem viria a casar a 11 de março de 1897. Em 1912 passa a residir permanentemente na Casa do Alto, em Nespereira. É justamente nesse ano, quase cem anos após a invasão de Portugal pelos exércitos francês e espanhol, que edita El-Rei Junot. Raul Brandão não sabia que dali a dois anos se assistiria à Primeira Guerra Mundial. Vale muito a pena ler este livro muito bem escrito, porque nos situa em acontecimentos históricos que pertencem a uma espiral que nos recentra nos dias de hoje, em que vivemos perplexos com a violência da guerra. Antes, entre muitos escritos jornalísticos, Raul Brandão havia publicado outros livros, como “História de um Palhaço” (1896), “O Padre” (1901), “A Farsa” (1903) e “Os Pobres” (1906). Com os livros “Húmus” (1917), “Os Pescadores” (1923) e “As Ilhas Desconhecidas” (1927) afirma todo o seu trabalho intimamente ligado a questões laborais e sociais, numa inquietação interior diária. Descendente de pescadores, mistura-se com os mais vulneráveis. É um peregrino sempre emocionado com a fragilidade dos que com ele se cruzam. Também a natureza o move. Vive do por-do-sol, das árvores e da poesia. Em “As ilhas desconhecidas” oferece-nos um belíssimo livro de viagens! Coloca-nos a ouvir cada um dos nossos passos sobre o chão daquelas ilhas…olhos postos no céu, abraçados ao mundo natural. A vontade de conhecer os Açores ou de lá voltar aumenta a cada linha que lemos. “É uma luz que me acaricia, uma série de cinzentos que entram uns nos outros e desmaiam, apanham não sei que claridade e ficam absortos e quietos, ou criam nova vida e recomeçam uma gama de tons que faziam o desespero dum pintor, porque a paisagem a esta luz extraordinária ganha sombras, variedade e frescura que os pincéis não sabem reproduzir…”. Para além dos seus livros, outra inadiável leitura é “Raul Brandão Íntimo”, de Vitorino Nemésio. Este livro reúne um conjunto de escritos de Vitorino Nemésio sobre Raul Brandão. Ao lê-lo é como se estivéssemos com os dois, em conversas, sobre memórias literárias. Viajamos de comboio e de barco…e sentamo-nos à mesa a ouvi-los. “Quem vem do Porto, depois de ter mudado de comboio na Trofa e passada a estação de Vizela, se vem a casa de Raul Brandão desce no primeiro apeadeiro.” Um outro inadiável é “A pedra ainda espera dar flor, Dispersos”. Nesta proposta encontramo-nos com textos publicados em jornais e revistas literárias, textos sobre escritores, pintores…Guerra Junqueiro, Camilo, Bordallo Pinheiro, Abel Cardoso, Almeida Garret…, uma organização de Vasco Rosa. E sempre os pobres, e sempre os pescadores, e sempre a Primavera, essa Primavera que lhe fixou os olhos em Henry David Thoreau que “(…) ao deparar com uma árvore cheiinha de flor, fugiu das pedras da cidade, dos exasperos, dos egoísmos, da vida aborrecida, contraditória e inútil, e foi viver sozinho para uma floresta. Este simples facto: o ter encontrado por acaso nessa esplêndida manhã de Março … um ramo tombado de um quintal para a rua bastou para revolucionar toda a sua existência. Por fim, a não perder, o livro “Raul Brandão e a Casa do Alto”, de Secundino Cunha que nos transporta para a intimidade do escritor que celebramos neste mês de março. Com fotografias atuais e antigas, este belíssimo álbum faz-nos reviver o quotidiano de Raul Brandão e daqueles que com ele conviveram, ao mesmo tempo que nos introduz no ambiente e nas paisagens que o inspiraram.
Atravessaram o inverno com sonho contido,
com o sonho humilde com que carregam há séculos.
E até esses sonhos se transformaram em realidade.
Realizou-se enfim o milagre: as árvores chegam ao céu.”
Húmus, de Raul Brandão
Partiu só e livre enfim!”
Inadiáveis Leituras: “A pedra ainda espera dar flor”
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