Natureza só ajuda se for vivida: Guimarães estuda impacto dos parques
Desenvolvido pelo Laboratório da Paisagem, pela Escola de Medicina da Universidade do Minho e pelo Instituto Superior de Saúde (ISAVE), o estudo envolveu 501 residentes nas imediações de áreas verdes municipais, analisando a relação entre proximidade, uso, perceção e impacto nos indicadores de saúde física e psicológica.

© Laboratório da Paisagem
Viver perto de um parque não basta: o que realmente conta para a saúde física e mental é a frequência com que esses espaços verdes são utilizados. Esta é a principal conclusão do estudo “Impacto dos espaços verdes na saúde mental e física”, apresentado esta segunda-feira, 21 de julho, no Laboratório da Paisagem, em Guimarães.
A sessão contou com a presença do presidente da Câmara Municipal, Domingos Bragança, da presidente do Laboratório da Paisagem, Adelina Pinto, do presidente do Conselho Português para a Saúde e Ambiente, Luís Campos, e do presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), José Pimenta Machado.
As conclusões dizem que viver próximo de um parque, por si só, não tem um impacto significativo na qualidade do sono ou na redução de sintomas psicológicos, como stress e ansiedade. Por outro lado, quem frequenta regularmente os espaços verdes revela melhorias evidentes nesses indicadores.
“A natureza só tem efeito terapêutico quando se transforma em experiência vivida, regular e ativa”, afirmou Pedro Morgado, da Escola de Medicina da UMinho, sublinhando que “viver ao lado de um parque pode ser irrelevante se não houver envolvimento da população no seu uso”.
Espaços verdes são mais usados por quem tem menos rendimento
O estudo destaca também um contraste socioeconómico relevante: os cidadãos com menores rendimentos são os que mais utilizam os espaços verdes, apesar de lhes atribuírem, em média, menos valor simbólico do que os mais favorecidos economicamente. A regularidade de uso está ainda diretamente relacionada com maior prática de atividade física, especialmente caminhadas e esforço moderado. Já a distância reduz a duração média de exercício por sessão.
As conclusões do estudo vêm reforçar a estratégia ambiental que Guimarães tem vindo a seguir, nomeadamente com o plano de criação de três cinturões verdes concêntricos, no âmbito da sua preparação para a Capital Verde Europeia 2026, refere o estudo.
Carlos Ribeiro, diretor-executivo do Laboratório da Paisagem, destacou que esses corredores verdes vão “ligar zonas verdes, parques e ecovias, melhorando a acessibilidade, um dos principais entraves identificados no estudo”. Quando concluído, o anel mais externo abrangerá 74% da população do concelho.
No terreno, o projeto “Bairro C” está já a criar o primeiro desses anéis, com 11 quilómetros de extensão na zona urbana. Guimarães aumentou em 95 hectares a sua área verde entre 2012 e 2023 e conta atualmente com dois grandes parques urbanos de 30 e 39 hectares.
Alterações climáticas afetam bem-estar emocional
O estudo avaliou também o impacto emocional das alterações climáticas nos vimaranenses: tristeza (32%) e impotência (23%) surgem como as emoções mais frequentes, seguidas por ansiedade, medo e mágoa. Curiosamente, os utilizadores mais frequentes dos parques são também os que demonstram maior preocupação ambiental e estão dispostos a contribuir financeiramente para soluções sustentáveis.
Guimarães já conta com medidas nesse sentido, como o projeto PEGADAS, que envolveu mais de 19 mil alunos e 1700 professores em ações de educação ambiental, inseridas no plano municipal para alcançar a neutralidade carbónica até 2030. O estudo segue uma lógica integrada de saúde pública, alinhada com os conceitos de One Health e Exposoma, reforçando a interdependência entre saúde humana, ambiente e contexto social. Foi financiado pelo programa POCTEP Green Gap, no âmbito do INTERREG Portugal-Espanha.