NUNO MELO: “A UNIÃO EUROPEIA É O NOSSO DESÍGNIO”
Entrevista exclusiva a Nuno Melo, cabeça de lista do CDS às Europeias.

Para o cabeça de lista do CDS, o famalicense Nuno Melo, eleito eurodeputado em 2009, “a abstenção é a tragédia das democracias” e “cada voto abstencionista é um reforço dos extremismos que querem acabar com a União Europeia”.
Qual a importância, para a região, ter alguém do distrito a representar-nos no Parlamento Europeu?
A nossa região é talvez das principais beneficiadas de ajudas europeias que são fundamentais ao nosso desenvolvimento, do investimento público à iniciativa privada. 85% do investimento público é dinheiro da União Europeia. Por seu lado, em diferentes áreas, muito do investimento que tem que ver com a economia circular, o têxtil, a produção, é também de ajudas europeias. Depois, fundamentalmente, e falo de Guimarães que é um caso muito atual, 70% da legislação que nos afeta através de diretivas emana da UE. No caso da comissão do ambiente que integro, temos aqui em Guimarães uma das principais intra-empresas europeias, numa área que junta vinil e outros materiais, usada na indústria automóvel, que é a TMG, num processo produtivo e complexo, que demora tempo e dinheiro a aperfeiçoar, mas que hoje assegura emprego e pagamento de impostos. Numa comissão do ambiente, uma simples alteração é suficiente para parar a produção de uma empresa destas até conseguir arranjar um sucedénio, o que é sempre difícil. Portanto, tudo o que se trata hoje no Parlamento Europeu, afeta-nos do ponto de vista das infraestruturas públicas ou de iniciativas privadas, com reflexos para o emprego e para a criação de riqueza. Depois, falo para a geração dos jovens, que é a geração mais abstencionista. Há cerca de 65% de abstenção em eleições europeias, cerca de 80% entre os jovens. Esta geração tem oportunidades que a minha nunca teve, pois beneficia de um mercado de 500 milhões e a minha tinha 10 milhões. Livre circulação de bens, pessoas, serviços e capitais. Podem estudar em universidades de qualquer país da europa, pago pelos contribuintes, não tem fronteiras. A única possibilidade de sair de Portugal quando tinha essa idade chamava-se Inter Rail e tínhamos de pagá-lo. Nunca consegui juntar dinheiro para fazê-lo e esta geração vai ter um programa com o mesmo nome que é pago pelos contribuintes. Tudo isto deve motivar as pessoas do distrito e esta nova geração a começar a participar e a votar.
Quais as principais ideias do CDS nestas eleições? Quais as prioridades?
A primeira tem a ver com o aquecimento global e com as suas consequências. O último estudo do impacto das alterações climáticas para 2030 diz que Portugal será o país da UE que mais sofrerá. Se nada for feito, em 2030, teremos uma diminuição da chuva em 50% nos meses da primavera e verão e aumento de 20% nos meses de inverno. Teremos um prolongamento das ondas de calor por 50 dias, temperaturas médias acima dos 35 graus, que tornarão impossíveis culturas agrícolas, do tipo mediterrâneo, que hoje acontecem no Alentejo e terão de ser transferidas para Norte. Teremos uma diminuição dos recursos aquíferos e uma erosão da nossa costa de cerca de dois terços. Isto significa que se nada for feito, em muitas regiões do país será quase insuportável viver. Defendemos medidas específicas de adaptação dos fundos comunitários às realidades do sul da Europa, começando em Portugal. Precisamos de dinheiro que seja aplicado na preservação da água, em mecanismos de criação de água potável alternativa, que seja criado para reconstrução e construção de novas formas de condução da água para agricultura com poupança de água e poupança energética, também de sedimentação e solidificação das nossas escarpas e da nossa costa. Isto é para hoje! Depois o mar, que é um ativo que Portugal tem que muitos países da UE não têm. A limpeza dos mares é hoje uma prioridade, mas que deve estar à cabeça dessa preocupação, porque temos muito mar e o que fazemos é benefício para a humanidade, não só para Portugal. Temos o programa Mar 2020, que neste momento, infelizmente, só está aplicado a 20%. Defendemos uma requalificação destes fundos, de forma a que seja possível a descontaminação e despoluição do mar português, de todo o tipo de plásticos, de todo o tipo de material não-biodegradável e também a limpeza das praias, que hoje têm uma economia muito própria, para além do turismo. Relativamente à Proteção Civil, tivemos fogos muito trágicos em 2017 e foi agora reforçado o Mecanismo Europeu de Proteção Civil. A prevalência das tragédias está mais ou menos identificada, mas defendemos que, embora a sede esteja em Bruxelas, haja equipamento físico na Península Ibérica e também na região próxima da Grécia. Por fim, a Economia Digital, a nova realidade. Portugal tem que estar preparado para os desafios do futuro e há fundos específicos, como para a Política Agrícola Comum (PAC). Sem PAC não há agricultura nos países menos competitivos. Temos um problema de solos e um problema de água e temos agricultura porque é subsidiada. Defendemos que sejam corrigidas assimetrias nas ajudas diretas, que em 28 países, Portugal é o 24.º. Já no plano institucional, o CDS é profundamente europaista, mas não é federalista, ao contrário do PSD e PS. Acreditamos no projeto europeu como um projeto de nações e não na trasnformação de um país antigo como Portugal num região da Europa.
“Defendemos medidas específicas de adaptação dos fundos comunitários às realidades do sul da Europa”
Como é que Portugal vê a Europa e como é que a UE vê o nosso país?
Portugal vê a Europa como deve ser vista. É o nosso desígnio, depois de muitos ciclos da nossa história. Tivemos um tempo de conquista continental, tivemos o tempo das descobertas ultramarinas, tivemos um império que acabou. Fim do ciclo do império, entrados na era da democracia, sozinhos não sobreviveriamos e a UE é o nosso desígnio, é a nossa sobrevivência, porque passamos a fazer parte daquele que é o bloco mais rico do mundo, onde se vive melhor no planeta. Na UE, cerca de 6% da população é reponsável por 50% das despesas sociais. Ninguém beneficia de serviços de saúde como na Europa. Nos EUA, se não tiver seguro de saúde, as coisas não correm bem. Na nossa lógica, somos um conjunto de nações, que beneficiam dessa junção, mas sem abdicar de parcelas de soberania que são decisivas. Em relação à UE, diria que estão a descobrir hoje Portugal. Muitos países, não só da UE, viam Portugal com preconceito e desconhecimento. Como um país pequeno, periférico, razoavelemente atrasado. Portugal é hoje dos países mais extraordinários da UE, dos melhores países para viver no mundo. Um país diverso na sua geografia, com um povo afável, seguro, com mar, rios, montanhas. Um país onde é bom viver e onde muitos estrangeiros hoje querem viver. Está a descoberto pelo mundo inteiro. A nossa preocupação como políticos deve ser também a de mostrar que Portugal significa oportunidades. Portugal é a porta de entrada de outras partes do mundo. Pensamos em Portugal como periférico, mas se nós pensarmos na conexão entre América, Àfrica e Europa, nós somos centrais. Devemos assumir a Europa de corpo inteiro e a Europa deve ter-nos como oportunidade.
Preocupa-lhe que a abstenção represente um grande número nestas eleições?
A abstenção é a tragédia das democracias e para o Parlamento Europeu pior. Sabemos que 65% das pessoas se abstêm e 80% dos jovens também. Cada voto abstencionista significa um reforço dos extremismos que querem acabar com a UE. Os extremistas de esquerda e de direita são militantes, vão às urnas. Quando a tolerância se abstem, os extremismos ganham prevalência. Têm vindo a crescer em todos os países da Europa e um dos receios a partir do próximo dia 26 é uma recomposição do Parlamento Europeu em que cresçam ainda mais. Se o espaço de tolerância entre os partidos de centro-esquerda e centro-direita tem sido maioritária, pode chegar o dia em que não seja. E quando não for, quem destruir o projeto europeu terá a maioria dos votos. Por isso, não se abstenham, que é o nosso presente que está em causa.
“A abstenção é a tragédia das democracias e para o Parlamento Europeu pior”
É um grande receio?
É um receio que devemos ter todos. Nunca houve um regime prepétuo à escala da humanidade. A nossa obrigação é fazer da UE o projeto mais longínquo que conseguirmos, mas um dia acabará. E pode acabar já, se ficarmos em casa e não votarmos, ou pode ter longevidade que pode servir os nosso filhos, os nossos netos.
Expetativas para o dia 26?
Melhorar ou igualar o resultado de 2009, em que elegemos dois eurodeputados. Em 2019, queremos eleger dois, sendo que para isso, precisamos de mais votos, porque perdemos três eurodeputados do ponto de vista nacional
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