“O impacto da pandemia nos desportos amadores foi brutal”
As modalidades do Vitória movem 1.300 atletas , em 15 modalidades.

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A direção de que faz parte chegou ao Vitória SC em julho de 2019, depois de um processo eleitoral inesperado, numa altura que não foi a melhor para o clube. Num momento em que devia estar a lançar as bases da época seguinte, o clube esteve parado, voltado para dentro a resolver problemas internos. Na época seguinte, aquela que devia ser já de afirmação do trabalho, surgiu a pandemia e esta também não vai ser uma época normal. Pedro Guerreiro lidera as modalidades amadoras da maior coletividade do concelho e para ele é claro que a forma como um clube, que está tão fortemente identificado com a cidade, ultrapassar este problema será determinante para a imagem de Guimarães.

Como é que avalia o impacto da pandemia no desporto amador?
O impacto desta pandemia nos desportos amadores foi brutal. Ainda não fez um ano desde o primeiro estado de emergência em Portugal, mas já vamos na segunda época desportiva arruinada para milhares de jovens por todo o país e provavelmente por todo o mundo. É um dano irreparável.
Quando fala em dano irreparável, quer dizer que muitos atletas poderão não voltar?
Vamos em duas épocas sem competição, ou melhor, só há competição nas equipas equiparadas a profissionais. Sem competição não há o motor que motiva as crianças e os jovens para a prática. Naturalmente, durante este período vão adquirir outos hábitos. Já sabemos que o apelo das consolas de jogos e de outras atividades mais sedentárias é grande, não tenho dúvidas que muitos jovens estarão irremediavelmente perdidos. Temo até que o caso mais grave se encontre entre os mais pequenos, aqueles que ainda não adquiriram hábitos desportivos. A introdução da ideia de que a prática desportiva é fundamental na formação dos jovens, levou anos, é esse trabalho que vejo a desmoronar-se.
O Vitória SC, onde o Pedro Guerreiro tem especiais responsabilidades, teve um papel fundamental nessa tarefa?
O Vitória desempenhou e continua a desempenhar uma tarefa gigantesca na promoção de hábitos de vida saudáveis de inúmeras gerações. O Estado precisa de olhar para clubes como o Vitória como agentes que estão no terreno a desempenhar uma missão que está inscrita na Constituição, o direito ao desporto. De que forma é que esse direito ao desporto se poderia materializar se não fosse o trabalho, muitas vezes pouco reconhecido, dos clubes. Quando olhamos para uma instituição como o Vitória SC ficamos ofuscados pelo brilho do futebol e não vemos mais nada. O futebol é um mundo diferente, nas modalidades amadoras o trabalho faz-se à custa do sacrifício de dirigentes que não são remunerados, de treinadores e pais que fazem grandes sacrifícios em prol de um bem maior. O Vitória é a força que mantém toda esta gente unida em torno de um objetivo, é o chapéu debaixo do qual se abrigam 15 modalidades que de outra forma não conseguiriam ter as mesmas condições para fazerem o trabalho extraordinário que fazem.
O nosso objetivo central terá de ser ajudar os atletas a manterem-se no ativo
Como têm os pais reagido a estes problemas?
Infelizmente, nas funções que atualmente ocupo estou mais longe dos pais. Mas sei, pelos diretores das secções, que há muitos pais que, mesmo antes das medidas decretadas pelo Governo, já revelavam medo de deixar os filhos irem aos treinos. O que posso dizer a todos os pais é que o Vitória tem seguido as melhores práticas nesta matéria: uso de máscara, distanciamento, restrição dos espaços aos técnicos e atletas, disponibilização de álcool gel, desinfeção e limpeza das instalações ainda mais frequente. Os resultados estão à vista, nas equipas que estão a treinar e a competir temos tido pouquíssimos casos de infeção e conseguimos evitar que os casos se propagassem ao grupo.

De quantos atletas estamos a falar no universo das modalidades do Vitória?
Falando de números do ano passado, já que este ano, com tudo parado, não é uma referência, são 1.300 atletas distribuídos por 15 modalidades.
A prioridade será, logo que possível, recuperar esses atletas?
Claro. O nosso foco tem de ser nas pessoas. Havia um plano para o mandato que se focava em algumas infraestruturas de que o clube carece, mas perante esta tragédia inesperada isso tem de passar para segundo plano. As infraestruturas só são precisas se houver atletas, portanto, o nosso objetivo central terá de ser ajudar os atletas a manterem-se no ativo.
Estamos muito reconhecidos às empresas que continuam connosco e apelamos a outras que nesta altura se possam juntar a nós neste esforço
Como é que se faz isso?
São coisas simples, que se tornam complicadas no quadro em que vivemos. Trata-se de pagar salários, água, eletricidade. Para que, quando a tempestade passar, as pessoas possam voltar. É preciso manter a estrutura de pé. Com toda a atividade de formação parada e com os jogos das equipas dos escalões principais a decorrerem à porta fechada, as fontes de receita do clube veem-se muitíssimo reduzidas. Os patrocinadores estabelecem contratos de parceria com os clubes em troca de visibilidade. Que visibilidade é que lhes podemos dar com a porta fechada? Estamos muito reconhecidos às empresas que continuam connosco e apelamos a outras que nesta altura se possam juntar a nós neste esforço. Trata-se de lutar pelo futuro dos nossos jovens.

O Município tem apoiado os clubes na medida do necessário?
A Câmara Municipal aprovou um primeiro pacote de apoios, em novembro – os apoios extraordinários às entidades desportivas em tempo de pandemia – onde estava excluído o Vitória. Ao que parece, o erro já foi reconhecido e esperamos que possa ser corrigido. Sem o apoio dos Municípios e do Estado muitos clubes vão morrer. Instituições da dimensão do Vitória não vão desaparecer, mas podem ter de emagrecer, ter menos equipas, menos modalidades. Uma ajuda muito importante seria uma significativa redução do preço, ou isenção de pagamento do aluguer de instalações municipais. Recordo que, ainda no ano passado, estes preços foram aumentados. Acredito que o Município na medida das suas possibilidades não deixará de apoiar o Vitória para que possa fazer aquilo que sempre fez, por os jovens vimaranenses a fazer desporto.





