O passeio de Marcelo

Marcelo teve 61,8% dos votos vimaranenses, mais que no global.

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Marcelo Rebelo de Sousa venceu as eleições presidenciais em todos os concelhos do país e Guimarães não foi exceção. O Presidente, agora reeleito, até 2026, teve 60,7% dos votos no todo nacional. Os leitores vimaranenses foram um pouco mais generosos com Marcelo que, aqui, chegou aos 61,8%. A vitória de Marcelo foi tão expressiva que no concelho onde teve o pior resultado – Moura, no Alentejo – obteve, mesmo assim, mais votos que a segunda classificada, no concelho onde foi mais votada, Ana Gomes (no Porto, com 20,1%).

Foto: DR

O objetivo “secreto” de Marcelo era conseguir uma votação superior à de Mário Soares, em 1996 (70%). Ficou longe desse intento, contudo, em algumas freguesias de Guimarães atingiu e até superou a fasquia: Arosa Castelões (71,97%), Longos (71,95), UF Leitões, Oleiros e Figueiredo (70,87%), UF Airão Santa Maria, S. João e Vermil (70,67%), UF Sande S. Lourenço e Balazar (70,46%), UF Souto Santa Maria, S. Salvador e Gondar (70,28%) e UF Briteiros S. Salvador e Santa Leucádia (70,11%). Marcelo venceu em todas as freguesias do concelho e só em nove ficou abaixo da fasquia dos 60%: Caldelas, Fermentões, Pencelo, Pevidém, Urgezes, Creixomil, nas freguesias do centro da cidade, Costa e Azurém.

Tiago Mayan: um quarto lugar surpreendente

Note-se que, em cinco das freguesias onde Marcelo obteve resultados mais modestos, Tiago Mayan Gonçalves teve as suas melhores votações. O candidato apoiado pelo Iniciativa Liberal teve o seu melhor resultado na Costa (10,18%), mas superou a barreira dos 6% em mais quatro freguesias: Urgezes, Creixomil, freguesias do centro da cidade e Azurém. O advogado do Porto – um desconhecido a partida para estas eleições – teve um resultado surpreendente, em Guimarães. Tiago Mayan foi quarto (4,12%), superando candidatos aparentemente mais fortes, com presenças regulares na política nacional e com estruturas partidárias de apoio, como Marisa Matias (BE) e João Ferreira (PCP).

 Os territórios em que o candidato liberal teve uma votação mais fraca foram os mais afastados do núcleo urbano: UF Souto Santa Maria, S. Salvador e Gondar (1,29%), ou Arosa e Castelões (1,73%). Tiago Mayan teve, em Guimarães, uma votação superior à que logrou no distrito, em que foi sexto (3,25%), ou na contagem nacional, em que ocupou a mesma posição e com 3,22%.

A disputa entre segunda e terceiro

O candidato apoiado pelo Chega, André Ventura, foi terceiro classificado nas eleições presidenciais, no concelho de Guimarães como no resultado global. No concelho teve 11,9% dos votos, atrás de Ana Gomes, com 12,87%. Contudo, o candidato conseguiu ficar à frente de Ana Gomes em 15 das 49 freguesias, em Arosa e Castelões os candidatos empataram.

André Ventura foi mais votado que Ana Gomes, não só, mas principalmente nas freguesias a norte da cidade da cidade de Guimarães: Aldão, UF Atães e Rendufe, Prazins Santa Eufémia, Pencelo, S. Torcato, UF Selho S. Lourenço e Gominhães, Prazins Santa Tirso e Corvite, UF Leitões, Oleiros e Figueiredo, Barco, Gonça, UF Briteiros S. Salvador e Santa Leucádia, UF Sande Vila Nova e Sande São Clemente, Longos, UF Serzedo e Calvos, UF Abação e Gémeos.

Além destas freguesias, André Ventura só conseguiu ser o segundo mais votado em uma das nove vilas do concelho de Guimarães: S. Torcato (12,62% contra 10,55% de Ana Gomes).

Se, no concelho, a diferença entre os dois candidatos se fixou abaixo de um ponto percentual (0,97), em freguesias mais urbanas, onde vive mais gente, esta diferença foi maior e quase sempre favorável a Ana Gomes. Veja-se o caso da União de Freguesias do Centro da Cidade (16,07% para Ana Gomes, 12,69% para André Ventura), a Costa (15,65% para Ana Gomes, 13,5% para André Ventura), ou Azurém (16,81% Ana Gomes e 13,57% para André Ventura).

A diferença entre a segunda e o terceiro classificado, em valores absolutos, no concelho de Guimarães, foi de 1.160 votos: Ana Gomes (9.144), André Ventura (7.984).

Comparativamente com a votação das últimas legislativas, de outubro de 2019, em que o Chega não passou da 12ª força mais votada, atrás de partidos como o RIR, PCTP/MRPP e Aliança, com 0,48% (428 votos), só há duas leituras possíveis para o resultado de André Ventura: ou a votação de Ventura vai muito além do eleitorado do Chega, ou o partido está em grande crescimento no concelho.

Marisa Matias e João Ferreira: os derrotados

O resultado de João Ferreira parece confirmar a perda de influência do PCP no concelho de Guimarães, já denunciada, nas autárquicas de 2017, pela perda do vereador da CDU. O candidato apoiado pelos comunistas só superou a fasquia dos 7% em três freguesias: Gondar (8,03%), UF Conde e Gandarela (7,86%) e Serzedelo (7,03%). Mesmo nas freguesias em que teve melhores resultados, João Ferreira só atingiu o terceiro lugar em Gondar, uma praça forte do PCP onde, até 2017, a Junta era liderada pelos comunistas.

O resultado nacional de Marisa Matias foi um enorme tombo, dos 10,12% de 2016, para os 3,95%.  Em Guimarães Marisa Matias tinha sido terceira, nas presidenciais de 2016, com 10,33%. Nesta eleição, a candidata apoiada pelo BE foi superada pelo candidato liberal e só arrebatou o quinto lugar a João Ferreira pela ínfima diferença de dez votos.

Vitorino Silva: a fazer tremer os grandes

Vitorino Silva, sem a máquina partidária de Marisa Matias ou de João Ferreira e com um orçamento de campanha muito inferior, acabou por ficar muito próximo dos dois candidatos mais à esquerda. Tino de Rans, como é conhecido, teve 3,57% no concelho e foi quarto classificado em várias freguesias. O candidato, que ficou em último nos resultados nacionais (2,94%), superou a fasquia dos 5% em nove freguesias vimaranenses.

A abstenção em Guimarães ficou nos 47,3%, bastante abaixo da abstenção a nível nacional (60,5%).

E eleições presidenciais ficaram para trás, as autárquicas estão no horizonte. E agora?

Servirá de pequena consolação a Ana Gomes o facto de ter sido a mulher mais votada de sempre, em Guimarães teve 9.144, contra os 8.125 de Marisa Matias, em 2016. Num concelho que tem sido governado pelo PS, há 30 anos, Marcelo Rebelo de Sousa, com o seu resultado esmagador, demostrou que a sua influência vai muito além do PSD. Marcelo passeou por estas eleições, em Guimarães como no resto do país, no concelho teve mais subiu de 52,61%, em 2016, para 60,7%.

O resultado de André Ventura, que ainda se confunde com o Chega, levanta questões sobre o valor do partido nas próximas autárquicas. O candidato apoiado pelo IL, alcança o quarto lugar em Guimarães, numa altura em que o CDS nacional está em queda. Estes resultados levantam a possibilidade de uma reconfiguração da direita concelhia.

Se alguma leitura para as autárquicas se pode fazer desta votação, o PCP parece ter um duro caminho pela frente para voltar a colocar um vereador no executivo camarário.

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