Olhos postos no próximo Education Summit e na necessidade de repensar a escola
Terminou com chave de ouro, o primeiro Education Summit, em Guimarães, com um concerto de António Zambujo. A reter, a promessa de um regresso em 2026 - falta saber se em Guimarães - e da continuidade da luta por um renovado modelo educativo nas nossas escolas.

No último dia, destaque para Eduardo Sá, que provocou emoção na plateia que o aplaudiu de pé. Ele que veio admitir “que uma criança deve contar pelos dedos, falar pelos cotovelos e perguntar porquê” e que “Portugal é um país pouco amigo das crianças”. Frases como “o sistema educativo deveria ser à imagem dos jardins de infância” e as “educadoras de infância são pessoas estranhas que contam histórias, o que coloca as crianças a pensar”. Assumidamente crítico do sistema de ensino atual, Eduardo Sá defende que é “proibido” ensinar a ler e a escrever no jardim de infância, sendo este o local para as crianças “aprenderem a brincar com o corpo”. Aliás, Portugal é o país da Europa com mais crianças sedentárias. “Crianças que não brincam são crianças que não aprendem. Duas horas por dia a brincar é uma vitamina essencial ao crescimento. Brincar deveria ser Património Imaterial da Humanidade” defendeu, sublinhando que “escola de mais faz mal às crianças” e que “a escola não é o mais importante das suas vidas”. “As crianças crescem num stress enorme, pois exigimos todos resultados. Deveria ser proibido entrar na universidade sem ter tido alguma negativa”.
Eduardo Sá falou, ainda, da necessidade de pais que saibam dizer não. “O “não” não traumatiza as crianças. As pessoas confundem autoridade com autoritarismo” salientou. Manifestamente contra o uso de telemóveis nas escolas, o psicólogo refutou os rankings dos exames e pediu para pais e professores lutarem por escolas inclusivas. Nota ainda para Marcos Piangers, que esteve no último dia no Multiusos de Guimarães. O reputado autor brasileiro levou, por várias vezes, a plateia ao riso, com histórias familiares que culminam num mesmo objetivo: “Pais e professores têm o dever de criar seres humanos preparados para a vida”.

© Education Summit
“Gostaria muito que o evento pudesse continuar por cá, mas depende muito dos apoios”
Mais de 2.000 participantes, 60 oradores, workshops e exposições marcaram os três dias Education Summit, que teve lugar no Multiusos de Guimarães, organizado pela Nova Escola, que faz um balanço muito positivo desta primeira edição. “O evento superou todas as nossas expetativas, o feedback que recebemos de intervenientes e participantes foi muito positivo, pelo que viemos para ficar e voltaremos, certamente, em 2026” sublinhou Renato Pacheco.
No Education Summit participaram pessoas de todos os pontos do país, também dos Açores e da Madeira, muita gente do sul, ou seja, 50% pessoas do norte e outras 50% espalhadas por todo o país”, avançou ao Mais Guimarães.
Abordou ainda a importância de se discutirem questões relacionadas com a Educação: “Principalmente, tentarmos deixar esta escola tradicionalista que temos, implementarmos umas novas pedagogias, uma nova forma de fazer escola, muito mais colaborativa, quer entre os colegas, mas também nos alunos, ao nível do trabalho que podemos fazer entre eles”.
No entanto, Renato Pacheco alerta que o evento terá de ter a sua continuidade. “Haverá muito mais que podemos fazer em conjunto e isto, obviamente, pode depois também causar alguma pressão nas entidades políticas, que tipo de diálogo é que podemos estabelecer com essas entidades para melhorarmos a escola que temos desde o início”, adiantou.
Como o responsável pela Associação Nova Escola, revelou-se “muito feliz”: “Por podermos fazer este evento na nossa cidade, o primeiro deste género, e gostaria muito que pudesse continuar por cá, mas, obviamente, que depende muito dos apoios que possamos ter. Este ano tivemos um apoio do Quadrilátero, no entanto, temos ainda apoios insuficientes e acho que precisamos de ter alguns extras que penso que, no pós-evento, poderão também acontecer para que possamos dar continuidade a este projeto nos próximos anos”.
Em Guimarães pode estar a nascer uma onda para repensar a escola”, vereadora Adelina Pinto
A vereadora da Educação na Câmara Municipal de Guimarães, Adelina Pinto, parabenizou a Associação Nova Escola pela iniciativa. “Há aqui um conjunto de professores que se reuniram e que querem repensar a escola, o que é muito bom”, disso ao Mais Guimarães. “Ter esta massa crítica em Guimarães, um concelho onde a Educação é absolutamente prioritária, é muito bom, vindo de uma associação que, de uma forma ousada, arriscou”. “Eu própria tinha muitos receios sobre se conseguiriam alavancar este evento, mas meteram mãos à obra e deu nisto, um evento tão grande, 2.000 mil pessoas aqui hoje, este cenário tão moderno, tão contemporâneo”, referiu a vereadora.
O Education Summit significa “um ar de modernidade à Educação”, afirmou Adelina Pinto, considerando que é importante levantar a discussão de que “a Educação precisa de ser revista”. “Precisamos refletir sobre ela, e não é uma questão só de docentes, tem questões de parentalidade, tem funcionários, tem todos os psicólogos, assistentes sociais, toda a comunidade que gira em volta da escola”. Disse estar em crer que em “Guimarães pode estar a nascer uma onda para repensar a escola”. “As escolas fazem um trabalho imenso, as pessoas estão cansadas, exaustas e depois percebemos que falhamos em tanta coisa com os nossos alunos. A escola precisa de ser mais flexível, mais aberta, ter menos currículo, precisa de ser capaz de ter mais tempo para olhar a criança”, referiu.
Esta edição teve o apoio do Quadrilátero Urbano, composto pelas câmaras de Guimarães, Braga, Barcelos e Famalicão, e para que uma segunda edição avance, será necessário a Nova Escola garantir o mesmo apoio. “O que foi combinado foi que este era um evento apoiado pelo Quadrilátero e que podia estar rotativo nos quatro municípios, um protocolo verbal feito com os quatro vereadores, isto é, o primeiro ano seria em Guimarães e depois repensar-se-ia. Temos de ser honestos, justos, e depois, obviamente, se não houver vontade ou condições dos outros municípios, Guimarães estará disponível, certamente, para apoiar novamente”, afirmou a vereadora.
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