PASSARINHA POR SARDÃO, NA FESTA DE SANTA LUZIA FAZ-SE POR CONTINUAR A TRADIÇÃO

Diz a tradição — e as vozes de quem a conhece sem falhas — que os rapazes devem oferecer o “sardão” à rapariga que pretendem “conquistar”.

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A romaria a Santa Luzia marca o calendário de dezembro em Guimarães há muito tempo — já não se precisa há quanto. As passarinhas e os sardões disputam o protagonismo com a santa e há quem se dedique à confeção dos doces há quase 40 anos.

Cidália Pereira confeciona os doces há 37 anos. © João Bastos/ Mais Guimarães

O casamento de Cidália Pereira dura há tanto tempo quanto a sua entrega aos doces que se dispõem, entrelaçados em fitas coloridas, na sua banca. Esta sexta-feira é dia da romaria à capela de Santa Luzia, em Guimarães, e já não se sabe quando tudo isto começou. Para Cidália, “foi há 37 anos”. “Já faço parte da festa desde que casei. Quem fazia parte era a minha sogra, agora sou eu. Vendo há 37 anos, casei há 37 anos”, explica. Debaixo de um guarda-sol que, esta sexta-feira, serve para abrigar os doces da chuva, são muitos os sardões e as passarinhas que saem (ou voam ou rastejam, dependendo da espécie) daquela banca para as mãos de quem se empenha em promessas amorosas.

“Comecei-me logo a enfarinhar nisto”, diz Cidália. © João Bastos/ Mais Guimarães

Diz a tradição — e as vozes de quem a conhece sem falhas — que os rapazes devem oferecer o “sardão” à rapariga que pretendem “conquistar”. Se a rapariga der, de volta, a “passarinha” ao rapaz, então mora ali um compromisso amoroso (ou algo mais). Cidália confeciona os doces que disputam o protagonismo com a mártir que dá o nome à festa desde os seus 19 anos. Não é a sua ocupação principal, mas é a que lhe mais preenche: “Comecei-me logo a enfarinhar nisto. Adoro isto!”, conta, entusiasmada. Mas levar as passarinhas, os sardões, os cãezinhos ou os relóginhos a bom porto não é tarefa para qualquer um: “É tudo à mão, dá para reparar que eles não estão todos feitos da mesma maneira. É mesmo a gente aprender e tem de se ter o jeito.” A massa de farinha centeio — “Só leva isso!”, explica Cidália — “vai ao forno” e “tem de secar bem”. Depois, “é coberta” com uma camada de açúcar que, repete, “tem de secar bem”. “Depois é que é enfeitada e está pronta para vir para aqui”, finaliza.

A fé também tem um papel de protagonismo na festa. © João Bastos/ Mais Guimarães

Para Emília Atilano, o dia é especial por duas razões: para além das “boas memórias familiares” que foi colecionando a cada ano por esta altura, celebra o seu aniversário a 13 de dezembro. E, por isso, “foi sempre tradição da família” a ida à capela de Santa Luzia. “Lembro-me do meu avô vir e comprar-nos sempre uma passarinha”, recorda. À porta da capela, explica o processo dentro da capela: “A Santa Luzia é advogada da visão e as pessoas têm muita fé. Dá-se a esmola, reza-se e coloca-se uma patena com os olhinhos no rosto. Faço isto todos os anos.”

Num local onde a fé e as manifestações profanas se fundem, são muitos os que se deambulam pelas ruas foras, com as bancas de doces regionais coloridos a exigirem atenção e as castanhas a afirmarem-se, por uma última vez, antes da chegada de todos os doces de Natal. O pedido de inscrição da tradição está já disponível no Inventário Nacional do Património Cultural e Imaterial, da Direção-Geral do Património Cultural.

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