Processos burocráticos atrasam habitação, diz Município perante críticas da oposição

Na reunião do Executivo Municipal realizada esta segunda-feira, 16 de junho, o vereador Bruno Fernandes, da coligação “Juntos por Guimarães”, manifestou preocupação com os atrasos no arranque da construção das 111 habitações previstas no âmbito da Estratégia Local de Habitação (ELH), financiadas pelo Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

© CMG

Na reunião do Executivo Municipal de Guimarães, realizada esta segunda-feira, 16 de junho, o vereador da coligação “Juntos por Guimarães”, Bruno Fernandes, voltou a criticar o atraso na concretização da Estratégia Local de Habitação (ELH), em particular na construção das 111 habitações previstas no plano. Segundo o autarca, Guimarães está a ficar para trás relativamente a municípios vizinhos como Famalicão e Póvoa de Lanhoso.

“A Câmara assumiu o compromisso de construir 400 casas num curto espaço de tempo. O mandato está a terminar e, infelizmente, Guimarães não terá uma única casa construída, ao contrário do que acontece em quase todo o distrito”, afirmou Bruno Fernandes. O vereador referiu que, embora o processo de adjudicação das 111 habitações tenha sido concluído em abril, as obras ainda não arrancaram, devido a “problemas burocráticos recorrentes”.

Bruno Fernandes destacou o contraste com Famalicão, onde já decorrem obras de 220 habitações, com acompanhamento regular do Executivo local. “Em Guimarães, continuamos presos em procedimentos administrativos”, lamentou. Questionou ainda a capacidade da autarquia em planear e executar projetos desta dimensão, levantando dúvidas sobre a qualidade da preparação dos concursos e dos estudos prévios. “As leis são nacionais e aplicam-se a todos. Se noutros municípios as obras avançam, algo aqui falhou — e a responsabilidade é do município”, vincou.

Sobre a proposta do presidente da Câmara, Domingos Bragança, de transferir competências na área da habitação para os municípios, Bruno Fernandes sublinhou que a sua coligação sempre defendeu essa descentralização, tanto do Estado para as autarquias como destas para as freguesias. Contudo, frisou que isso não pode servir de justificação para o atraso atual. “O senhor presidente tem de trabalhar com as regras que existem. Se há obstáculos burocráticos, têm de ser ultrapassados, como acontece noutras autarquias”, afirmou.

Presidente da Câmara responsabiliza o IHRU e insiste na descentralização

Na sua resposta, Domingos Bragança atribuiu os atrasos à complexidade do processo burocrático-administrativo imposto pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU). “O IHRU não tem culpa. Foi-lhe entregue uma responsabilidade muito superior à sua capacidade operacional. Está sobrecarregado de processos e não consegue dar resposta às autarquias de todo o país”, afirmou.

Para o presidente da Câmara, a solução passa por seguir o modelo já adotado nos setores da educação e da saúde, com a delegação de competências para os municípios. “Temos um orçamento aprovado de 135 milhões de euros para a construção de 1000 casas. Conseguimos os financiamentos, mas os concursos ficam desertos porque o emaranhado burocrático limita a autonomia da Câmara”, salientou.

Domingos Bragança explicou ainda que parte das 111 habitações previstas estava inicialmente planeada para as freguesias de Creixomil e Fermentões, mas o concurso acabou por abranger apenas esta última, o que gerou divergências com o IHRU. Apesar disso, garantiu que a obra não está formalmente atrasada e que o empreiteiro  mantém o compromisso de cumprir o prazo definido no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), até 30 de junho de 2026, adiantando que a autarquia está a agir em contacto com a Secretaria de Estado.

“O que queremos é que o Governo diga: ‘Aqui está o orçamento, construam’. Estamos prontos. A habitação é uma prioridade e é preciso agilidade e proximidade. Só os municípios podem garantir essa resposta com eficácia”, reforçou o edil.

Câmara confirma entraves burocráticos e insiste na necessidade de descentralização

Num comunicado enviado à imprensa durante a tarde, a Câmara Municipal confirmou que os atrasos no processo resultam de um “burocrático-administrativo complexo”, que está a comprometer a resposta da habitação pública no concelho. O executivo municipal reiterou o apelo à transferência de competências do Governo para as autarquias, defendendo que “as Câmaras estão mais bem posicionadas para responder com eficácia aos desafios locais”.

O projeto de aquisição das 111 frações habitacionais, destinadas a responder às situações de indignidade habitacional identificadas na Estratégia Local de Habitação, conta com financiamento do PRR, mas tem sofrido constantes atrasos devido a procedimentos administrativos exigentes e morosos.

Face à urgência habitacional que o país enfrenta, Domingos Bragança insistiu que “a habitação é uma prioridade nacional” e que “a agilização de procedimentos e a atuação coordenada entre Estado central e poder local são fundamentais para garantir o acesso célere e digno à habitação”. Segundo o presidente da autarquia, há capacidade financeira para construir 400 habitações em Guimarães, com potencial para atingir as 1000, mas os obstáculos burocráticos continuam a travar a concretização dos projetos. “O problema não é de vontade política nem de financiamento. É de execução. E para isso, precisamos de mais autonomia”, concluiu o presidente da Câmara de Guimarães.

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