Vindimas 2024: Produtores vimaranenses garantem “ano de excelência”
A colheita de uvas em Guimarães deste ano está marcada por desafios climáticos que resultaram numa quebra de produção. No entanto, os produtores locais, mantêm o otimismo graças à elevada qualidade das uvas colhidas.
Por esta altura os tratores já circulam nas vinhas, as luvas já estão calçadas e já se anda de tesoura na mão. Os cestos começam a encher e os sorrisos das gentes da terra invadem o cenário verdejante do Minho.
Guimarães, sendo parte integrante da região dos vinhos verdes, já sente o aroma da uva colhida, enquanto a viticultura se reafirma como um elemento vital da sua identidade cultural e económica. Com as vindimas em pleno andamento, os produtores locais partilham as suas perspetivas sobre o ano vitícola de 2024, marcado por desafios climáticos, mas também por uma qualidade promissora.
Sequeira Braga, presidente da Adega Cooperativa de Guimarães: Quebra na produção, mas com uma qualidade promissora
As uvas continuam a chegar à Adega Cooperativa de Guimarães em carregamentos avultados desde 5 de setembro. Sequeira Braga, presidente da Adega Cooperativa de Guimarães começa por afirmar, apesar de um início de ano complicado com variações de temperatura que afetaram a florada, a colheita atual apresenta-se em excelente estado. “As vindimas estão a correr muito bem À nascença da uva, foi fraco. A seguir, por causa das variações de temperatura no final do inverno e início da primavera, houve muito desavinho. Contudo, as uvas que sobreviveram estão em muito bom estado, sem podridões, equilibradas em acidez e graduação.”
Quanto à produção, perspetiva que haja “uma quebra de 20 %” em relação ao ano anterior, no entanto, a qualidade será suficiente para manter os padrões exigidos pelo mercado. “ Ainda não temos números finais porque ainda não acabamos, mas a nossa expectativa é que pode ser 20% menos que o ano passado”, afirma, garantindo que, apesar disso “a produção que temos será suficiente para garantir o abastecimento dos nossos canais de mercado. Estamos com uma perspetiva bastante boa apesar das quedas da produção”.
No que diz respeito a doenças, Sequeira Braga confere que “este foi um ano fácil”, admitindo que, comparativamente ao ano anterior, houve muito menos doenças.
Este ano, a intenção é lançar um vinho premium, mas para isso, o vinho tem de corresponder ao desejado. “Queremos lançar um vinho mais premium, mas só o faremos se o vinho justificar. Ainda é cedo para o dizer. Estamos a dar o nosso melhor para conseguirmos ter aqui o melhor vinho do mundo”, afirma confiante.
Paulo Mendes – Casa de Sezim: A Resiliência nas Vinhas Antigas
Na Casa de Sezim, as vindimas começaram a 28 de agosto. Os dias começam cedo e o calor que se tem vindo a sentir, não facilita o processo. Mas experiência e resiliência não falta às cerca de 30 pessoas, das quais duas são mulheres, que o fazem com um prazer inquestionável.
Paulo Mendes, técnico agrícola na Casa de Sezim confessa também ter observado algumas mudanças no clima deste ano. “As vindimas estão a correr normalmente, estamos com um clima muito bom. A maturação estava relativamente adiantada e então decidimos começar um bocadinho mais cedo as vindimas para termos vinhos mais equilibrados entre grau e acidez”, admite.
Reforça ainda que o ano tem sido favorável em todos os sentidos, assegurando que “não houve grandes problemas” em termos de doenças, garantindo, desta forma que “a qualidade da uva é excelente, apesar de não ser um ano de grandes produções.”
Questionado sobre o método de preservação da uva após a colheita, tendo em conta, os dias de calor que têm enfrentado, Paulo Mendes revela que “a uva é transportada rapidamente para fora da vinha, em caixas pequenas e arejadas, para que chegue à adega como se fosse uva de mesa pronta a comer”.
O técnico agrícola sublinha ainda que, este ano, perspetiva-se uma pequena quebra de produção, embora pouco significativa. “A produção não me parece que vá baixar muito. No geral, eu sei que vai haver uma quebra, mas nós, se tivermos uma quebra, não deve ser muito grande”, expressa com confiança.
O próximo ano, promete novidades. “Para o próximo ano, entra em produção numa nova vinha, uma casta que não tínhamos e que muita gente nos pergunta: o espadeiro”, admitindo que encontraram uma parcela ideal para a produzir, com perspetiva a inovar na quantidade de vinhos futuros.
Bernardo Vieira e Brito, do Valle dos Três Irmãos, Aposta na Qualidade Sobre a Quantidade
Na Quinta da Aveleira, em Penselo, a vindima ainda vai a meio, mas Bernardo Vieira e Brito, um dos produtores da marca, juntamente com os seus dois irmãos, considera que a colheita de 2024 é marcada por uma qualidade superior em comparação com o ano anterior. “Acreditamos que este ano, em termos de produção, as quantidades são semelhantes às do ano passado. Contudo, em termos qualitativos, há uma grande evolução. Perspetiva-se um ano de qualidade muito alta”, assegura. “A chuva inicial trouxe desafios, especialmente durante o desenvolvimento dos cachos, mas o verão seco e longo permitiu à uva amadurecer em condições ótimas”, reforça ainda.
Quanto às temperaturas que se fazem sentir, marcadas até pelo alerta do nível de incêndios, Bernardo confere que neste momento estão a colher as uvas “num ponto ótimo”, indicando que ao longo do mês de agosto, foram percebendo como estava o grau da mesma. “Quando as uvas chegam a um determinado grau, nós decidimos avançar para a vindima. Portanto, a uva da parte da manhã está em condições térmicas para ser processada de imediato, da parte da tarde temos um controlo de frio que nos ajudam a manter e a controlar o frio dentro das cubas de modo a que a parte do processo de vinificação corra da melhor forma. De outra forma, os arranques em termos de fermentação seriam muito mais rápidos. O frio ajuda-nos a conseguir tirar o melhor da uva”, explica como garantem o controlo de preservação da uva durante a colheita.
Para este ano, a produção é marcada por novas inovações técnicas que irá garantir uma maior qualidade do produto chegado ao consumidor final. “Na colheita, vamos manter dos métodos tradicionais, alicerçados na mão de obra nacional e local. Relativamente, à vinificação, recorremos a outros serviços externos que nos ajudam a ter vinhos de melhor qualidade, por isso em termos técnicos e mecânicos estamos muito mais salvaguardados este ano, que nos outros anos. Por isso, acreditamos que este ano há todas as condições para que o trabalho dê frutos.”
Após um ano de trabalho árduo e com condições climáticas favoráveis, graças à encosta onde está localizada a vinha, Bernardo assume esperar que o mercado corresponda às expectativas. ” A nossa equipa está preparada para garantir que a uva chegue à adega nas melhores condições e temos confiança de que a colheita deste ano será um sucesso tanto a nível nacional como internacional.”
O produtor quis ainda deixar uma mensagem a todos os produtores. “Quero desejar uma boa vindima a todos os meus colegas que corra tudo bem e que todos tenham vinhos de excelência”.
Em Guimarães, as vindimas deste ano confirmam um ano de desafios, mas também de grande potencial. No geral, denota-se uma quebra nas colheitas, mas é visível e percetível que a qualidade das uvas vingará em vinhos de excelência, perpetuando a tradição vínica da região do Minho.
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