Margarida Vale e Rita Lima conhecemo-nos na cadeira de Social Entrepreneurship: Building Impact Ventures do mestrado em Gestão da Católica Lisbon School of Business & Economics. Foram desafiadas a selecionar um problema social ou ambiental que gostassem de ver resolvido para que, durante o semestre, o estudassem com profundidade e encontrassem uma solução que o minimizasse. São, agora, cofundadoras, do projeto maria.

Enquanto filha de pessoa com doença mental grave, a vimaranense Margarida Vale sugeriu, e o grupo aceitou, “o problema do pouco suporte dado aos familiares de pessoas com doença mental”. Contudo, frisa que este projeto não é sobre si própria, “nunca foi”.

“Quando falo sobre a minha história, não é só sobre a minha história que falo. A minha história é o espelho de muitas outras.”

Margarida Vale

“Quando recebemos um diagnóstico de doença mental de alguém que nos é próximo, queremos apoiar na recuperação e adaptação à vida com doença. Mas apoiar é difícil! Na maior parte das vezes, não nos sentimos preparados, informados, capazes de desempenhar esse papel de suporte”, confessou Margarida Vale. Um tema que ainda é considerado um tabu, e que leva a que as pessoas nesta situação se isolem.

Um estudo de 2015 da Federação Europeia de Associações de Famílias de Pessoas com Doenças Mentais (EUFAMI) revelou ao grupo que mais de 1 em cada 3 familiares estão no limite de atingir um ponto de rutura, que 88% destes querem mais informação sobre a doença mental dos seus, e ainda que 90% ambicionam ter mais oportunidades para conhecer e partilhar experiências com outros familiares.

Dar voz aos cuidadores de pessoas com doença mental

“Pareceu-nos que a maria teria que incorporar soluções de educação para a doença mental e experiências de interação entre pares”. Tudo isto, explica a cofundadora, “para que se aumentasse a literacia em saúde mental e a perceção sobre a capacidade para cuidar, e se reduzisse o isolamento e solidão”. A disciplina terminou com todas as ideias em papel, mas houve uma candidatura ao Fundo de Investimento Social +PLUS da Casa do Impacto. Foi aceite e assim nasceu a maria.

Atualmente, é uma rede de suporte online para familiares de pessoas com doença mental onde se aprende, reflete e partilha experiências. Oferecem workshops sobre as diversas doenças mentais e a forma de lidar com elas, assim como sessões de reflexão e partilha entre pares num formato 1-on-1.

“Todos precisamos de cuidados. Isso inclui os que cuidam.”

Margarida Vale

Para Margarida Vale cuidar de quem cuida é uma “importância que tem que ser dada, numa primeira fase, pelos próprios”. Quem apoia alguém na recuperação por doença mental, diz, “tem de se priorizar, de reconhecer que existem limites inerentes ao nosso papel que não devem ser ultrapassados. Temos de reconhecer que também precisamos de quem cuide de nós. Temos de entender quando é que também nós precisamos de ajuda”.

Já mais de 100 pessoas, numa lista de interessados de mais de 550, se juntaram a esta comunidade online. O feedback tem sido muito positivo! “A maria dá voz aos cuidadores de pessoas com doença mental, algo que muitas vezes não acontece. Dá também a oportunidade de ver a realidade de outros cuidadores e descobrir que não estamos sozinhos. Torna possível olhar para a história de um outro cuidador e ver as semelhanças nas vitórias e nos erros e com isso acabamos por nos sentir mais humanos”, quem o diz é uma participante.

A equipa

Margarida Vale e Rita Lima, cofundadoras, são da área da gestão e do empreendedorismo social, mas com o financiamento da Casa do Impacto conseguiram abrir um processo de recrutamento e seleção de forma a terem profissionais de saúde na equipa. Recrutaram uma médica, Ângela Azevedo, também vimaranense, uma enfermeira, Francisca Pinheiro Torres, e uma psicóloga, Inês Júdice Pargana. À equipa junta-se ainda um arquiteto, Fábio Fonseca, que presta serviços de design.

Facebook e Instagram: @maria.cuidadosamente
Site https://www.mariacuidadosamente.com