
Por Vasco André Rodrigues,
Advogado e fundador do projeto ‘Economia do Golo’
A temporada anterior houvera sido marcante!
Aquele Vitória, orientado por Augusto Inácio, e ainda que a jogar a temporada em campo neutro, em Felgueiras, tinha sido das equipas mais inebriantes daquela estação. Ao apostar num ousado sistema táctico de 3-5-2 em que a genialidade de homens como Pedro Mendes, Nuno Assis ou Fangueiro alimentavam a voracidade goleadora de Romeu, o ano foi de muitos e bons espectáculos.
No final da época o quarto posto foi o prémio justo para uma equipa que pusera o país a falar da qualidade e ousadia do seu modelo de jogo, ainda que soubesse a pouco… os Conquistadores, como resultado das paupérrimas prestações das equipas portuguesas nas provas europeias, seriam o último quarto classificado da história do futebol português a não participar em competições europeias!
Uma verdadeira injustiça para a equipa que melhor jogou nesse ano de 2002/03!
A época seguinte começaria sob o signo da festa… da grandiosidade… de um momento inesquecível para todos os vitorianos: a inauguração do estádio D. Afonso Henriques, que apesar de ter recebido o seu primeiro jogo em 1965, nunca houvera tido a festa de inauguração que merecia.
Por essa razão, o templo dos vitorianos seria inaugurado, apenas… em 2003, como prelúdio dos jogos que receberia, por altura, do inesquecível Campeonato Europeu de 2004, onde Guimarães recebeu por duas vezes a Squadra Azzurra.
Naquele 26 de Julho de 2003, o entusiasmo vitoriano estava em níveis estratosféricos! A festa trazia casa cheia, um adversário internacional e um Vitória com esperança de fazer melhor do que na temporada anterior.
Assim, 30 mil pessoas encheram as remodeladas bancadas do D. Afonso Henriques, para assistir a um espectáculo grandioso de luz, de cor e de pirotécnica, mas, acima de tudo, à apresentação do Vitória frente aos alemães do Kaiserslautern, na altura uma equipa de relevo na Bundesliga e onde pontificava o ponta de lança internacional Miroslav Klose.
O embate foi digno da festa… os branquinhos venceriam por quatro bolas a uma, cabendo a Afonso Martins, que chegava com Flávio Meireles de Moreira de Cónegos, a honra de apontar o primeiro golo no primeiro estádio do Euro 2004 a ver a luz do dia.
O dia foi tão grandioso, que António Pimenta Machado, o presidente que se aprestava para cumprir a última temporada como líder máximo vitoriano, referiria que “ Há uns séculos atrás nasceu em Guimarães o nosso primeiro rei, que fez nascer aqui a primeira capital do reino. Séculos volvidos nasce também nesta cidade a primeira obra do Euro 2004. Coincidências agradáveis”.
Porém, a época que se haveria de seguir nada teria de agradável…
Apesar de ter começado a vencer a União de Leiria por uma bola a zero, graças a um golo de Fangueiro, os Branquinhos viveriam um ano negro! Sofreriam seis derrotas seguidas, muitas delas com o inefável dedo da arbitragem, como sucedeu no jogo com o Porto, em que, de modo escandaloso, António Costa anulou um golo a João Tomás.
Mas, a verdade é que o Vitória resvalava para lugares perigosos e, por isso, Pimenta despediria Inácio, para escolher o seu último treinador enquanto presidente do Vitória: Jorge Jesus, que na altura ainda estava a trilhar a carreira que o levaria ao mediatismo de hoje!
A Jesus tudo aconteceu! Uma equipa descrente, a pisar ovos e a quem nada saía bem! Para piorar teria de lidar com a morte de Feher em campo no jogo contra o Benfica e com os momentos violentos ocorridos no jogo a seguir frente ao Boavista, e que obrigariam a equipa a jogar fora de Guimarães, na Maia!
Destaque, por esta altura, para o golo de baliza a baliza obtido por Palatsi que garantiu um ponto em Moreira de Cónegos.
Não obstante isso, parecia ser necessário um milagre para o Vitória se salvar… ou pelo menos, demonstrar a competência que nunca mostrara durante o campeonato.
Tal ocorreria, com a equipa a realizar uma sequência de sete desafios em que só foi derrotada por uma vez em Paços de Ferreira, obtendo preciosas vitórias frente ao eterno rival e na Amadora, onde um golo de Flávio Meireles pareceu tornar certa a manutenção.
Faltava o jogo com o Sporting, no D. Afonso Henriques, e a certeza que se o Vitória ganhasse ou se existisse uma conjugação positiva de resultados a equipa estaria a salvo.
Contudo, durante a semana, o choque: o Vitória teria de jogar o desafio da temporada sem adeptos, com as portas fechadas, fruto de supostos actos cometidos pelos seus adeptos. As forças da cidade mobilizaram-se em defesa da equipa de toda uma cidade… os juristas avançaram com procedimentos cautelares… manifestações pela cidade foram prometidas!
Não seria necessário.. o jogo desenrolar-se-ia no Afonso Henriques, cumprindo o Vitória um desafio longe de Guimarães na temporada seguinte!
Porém, o desafio seria uma desilusão… a equipa, a acusar a pressão, jamais conseguiria colocar em cheque o último reduto leonino!
Porém, a salvação chegaria, graças aos resultados de outros campos!
O alívio tomava conta dos adeptos no Afonso Henriques, que depois do glamour do início da temporada, terminaram a temporada lívidos!
Pimenta Machado, esse depois da alegria do início da temporada demitir-se-ia, abrindo um novo ciclo na história dos Conquistadores…mas isso já será outro capítulo da história!