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Recordar… o Vitória #46

Por Vasco André Rodrigues.

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Por Vasco André Rodrigues, Advogado e fundador do projeto ‘Economia do Golo’Nené recupera a bola. Imediatamente distribui para o seu parceiro de defesa Bené, que fruto da sua boa capacidade em sair a jogar, coloca mais à frente em René para organizar o ataque do Vitória.

No final dos anos 80, um relato nas nossas rádios locais poderia ser mais ou menos assim. Um festival de sons similares de três brasileiros que deixaram saudades aos adeptos vitorianos pelas suas qualidades futebolísticas, mas, também, humanas.

O primeiro a chegar a Guimarães, proveniente do Athletico Paranaense seria o defesa central Nené, corria a temporada de 1986/87. Imediatamente, ganharia o lugar e faria dupla de respeito com Miguel. Tratava-se de um defesa feroz, com exímio jogo aéreo, implacável nas marcações e com uma voz de comando, que o faria tornar-se um dos capitães dos Conquistadores na temporada seguinte. Foi, na verdade, basilar na inolvidável temporada realizada pelo clube nesse ano, tendo “secado” alguns dos melhores pontas de lança europeus, nas contendas em que o Vitória se superiorizou ao Sparta de Praga, ao Atlético de Madrid e ao Groningen.

Aliás, Nené, que liderou a defesa do Vitória na final da Taça de Portugal perdida para o FC Porto, no final da temporada de 1987/88, chegaria inclusivamente a assumir as funções de treinador-jogador dos Branquinhos. Corria a temporada de 1988/89 e, depois de Geninho ter sido despedido, ainda que tenha entrado na história por ter vencido a Supertaça Cândido Oliveira, o brasileiro seria convidado por António Pimenta Machado a assumir a duplicidade de funções supra-mencionadas. Assim, nos últimos seis desafios dessa época, com Mister Nené a comandar do banco, e a apostar no também brasileiro Jorge, para ocupar o seu lugar, o Vitória haveria de vencer por três vezes para perder por outras três. Insuficiente para a direcção vitoriana manter a aposta em si, decidindo contratar Paulo Autuori. Nené, esse, continuaria por mais um ano de Rei ao Peito, ainda que na temporada de 1989/90, que seria a do seu ocaso na cidade onde nasceu Portugal, não tivesse sido utilizado. Regressaria ao Brasil para terminar a carreira e desempenhar as funções de empresário, tendo feito, inclusivamente, alguns negócios com o Vitória. Nomes como Gustavo Lazzaretti ou Marquinhos chegaram ao D.Afonso Henriques por intervenção do central brasileiro.

Este, a partir da temporada seguinte à da sua chegada a Guimarães, faria dupla com Bené. Nené e Bené, uma dupla de respeito! Proveniente do América do Rio de Janeiro faria quatro temporadas no Vitória, sendo imprescindível, depois da partida do vimaranense Miguel Marques para representar o Sporting. Era um atleta forte na marcação, de implacável jogo aéreo e que, com facilidade, se assumiu como uma voz de comando no último reduto. Além disso, nos pés dele a “redondinha não chorava”. Por essa razão, era encarregue de sair a jogar na primeira fase de construção do Vitória, ligando o jogo com o meio campo da equipa. Além disso, marcaria alguns golos na cobrança de grandes penalidades, o que demonstrava os seus dotes com a bola, bastante superiores a muitos dos seus colegas de função.

Porém, seria fruto desta capacidade que teria o episódio mais infeliz na sua história vitoriana. Na sua primeira temporada no clube, em jogo a contar para os oitavos de final da, então, Taça UEFA, depois de ter ganho em caso aos, então, checoslovacos do Viktovice por dois golos sem resposta, os branquinhos seriam desfeiteados pelo mesmo resultado. Para desempatar, o ter-se-ia de recorrer ao famigerado desempate dos pontapés da marca da grande penalidade. Ironia das ironias, o único a desperdiçar o seu ensejo seria o especialista vitoriano. Ele que na eliminatória anterior, houvera sido um dos heróis que ajudara a eliminar os belgas do Beveren do mesmo modo. Daqui partiria para fazer duas temporadas no Torrense, uma delas na primeira divisão, sob o comando de um jovem Manuel Cajuda.

Com Bené, do mesmo clube, ainda que com um histórico no Fluminense, chegaria René.

Um médio que pautou o meio campo vitoriano, com mestria e classe. Um talentoso jogador que conjugava a técnica brasileira com o ritmo europeu, num tratado de bem interpretar o futebol.

Aliás, o jogador que, tal como os seus dois colegas, faria parte do grupo que venceu a Supertaça Cândido Europeia, fica ligado a um momento marcante da história vitoriana.

Na temporada seguinte, com os Branquinhos a terem os mais altos sonhos no então Campeonato Nacional, fruto de uma violenta entrada do jogador do FC Porto, António André, pai do nosso actual capitão André André, sofreria uma grave lesão, terminando aí a sua época. Ele que, no desafio anterior, tinha marcado o golo, que seria o seu último com a camisola do Vitória no triunfo sobre o Penafiel, por duas bolas a zero, acabaria aí a sua participação nessa época. E, juntamente, com a lesão de Neno, mataria os sonhos dourados de título dos Branquinhos… bem como a sua falta se fez notar no famigerado desafio das meias finais da Taça de Portugal, em que Basaúla, jogador dos quadros do clube, mas cedido a título de empréstimo ao Estrela da Amadora, ajudaria a fazer-nos a maior das desfeitas.

René estaria mais de um ano sem poder pisar os relvados, algo que todos os vitorianos lamentaram, ainda para mais com a temporada seguinte a ficar muito aquém das expectativas. Haveria de voltar em Janeiro, para actuar em 10 desafios até ao final dessa época. Despediu-se dos vitorianos na penúltima jornada de época 1990/91, quando entrou a dois minutos do fim da partida com o Tirsense, para substituir João Baptista, num jogo vencido com um golo do malogrado Caio Júnior, que há-de merecer a nossa atenção em escritos futuros.

Eram outros tempos… os tempos dos brasileiros do ye-ye…

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