Abril com cantigas de maio
Recordar… o Vitória #92

Por Vasco André Rodrigues.

Recordar-o-Vitória

Por Vasco André Rodrigues, Advogado e fundador do projeto ‘Economia do Golo’Em Guimarães, para além de jogadores de curriculum assinalável, também existiram treinadores de méritos grandiosos. Homens como Manuel José, Paulo Autuori, Quinito, Manuel Cajuda, entre tantos outros sentaram-se no banco de suplentes do Municipal ou D.Afonso Henriques, consoante o tempo, para terem maior ou menor sucesso, sem contudo podermos colocar em causa as suas capacidades.

Porém, um dos técnicos com maior curriculum que passou pelo Vitória, terá sido um dos que menos sucesso teve, numa razão inversa difícil de explicar, ou, então, não!

Falamos do belga Raymond Goethals que, durante a sua carreira, haveria de inclusivamente vencer, em 1993, a Liga dos Campeões, quando orientava o Marselha e o golo de Basile Boli bateu Sebastiano Rossi e consequentemente o colossal AC Milan.

Porém, recuemos dez anos na história.

No início da década de 80, Goethals era o treinador do Standard de Liege. Falamos da melhor equipa daquela altura do futebol belga, com nomes como Michael Preud’Homme, Eric Gerets, Arie Haan, só para citar os mais conhecidos.

Pelos seus méritos, a equipa haveria de chegar à final da Taça das Taças frente ao Barcelona na temporada de 1982/83. Porém, antes desse grande desafio, havia um campeonato para vencer, e para isso era preciso bater o modesto Waterschei. Por essa razão o treinador chegaria à fala com atletas do clube adversário, corrompendo-os, para vencer o jogo, tornar-se campeão belga e chegar com as pernas frescas à decisão europeia.

Contudo, a tramoia seria descoberta e desencadear-se-ia um dos maiores processos na justiça desportiva belga, com vários jogadores a serem castigados e Raymond Goethals a ser proibido de treinar na Bélgica.

Sabendo dessa situação, António Pimenta Machado, então presidente do Vitória, não hesitou. Ele que já houvera resgatado no centro da Europa o prometedor Toni Blanker, voltaria ao Benelux para apostar num treinador polémico, mas que era consensual quanto ao facto de ser um mago da bola.

Goethals iria ser treinador do Vitória, depois do fracasso que fora a aposta no austríaco Herman Stessl que nem sequer acabaria a temporada, sendo substituído por Alfredo Murça na tarefa de liderar o onze vitoriano.

Porém, se para orientar a equipa, o presidente resolvera apostar num peso-pesado, para o plantel resolveu apostar em jovens oriundos da formação, que no ano anterior, haviam surpreendido o país ao golear o Benfica por quatro bolas a uma. Assim, nomes como o guarda-redes Lopes, o central Miguel, o jovem médio Soeiro, o recentemente falecido Neca Cunha, o esquerdino Paulo Viana, ou os avançados Jorge Machado e Sérgio Cunha, formaram o núcleo de uma equipa, em que desinvestimento rimava com a esperança de jovens potros afirmarem-se rapidamente nas mãos de um treinador que se esperava que tivesse o toque de Midas.

Goethals estrear-se-ia em Alvalade, ainda que fruto dos problemas vividos na Bélgica não pudesse sentar-se no banco, deixando para Djunga a tarefa de orientar a equipa em dias de jogo. Esse primeiro jogo indicaria o quão sofrida seria a temporada. A actuar com três defesas centrais e com os brasileiros Da Silva e Paulo Ricardo na frente de ataque, os Conquistadores seriam presa fácil para os leões. Uma derrota por três bolas a zero, uma exibição com poucos pontos positivos e muitas preocupações para o futuro!

A primeira vitória do técnico belga só ocorreria à terceira jornada no, então, derby concelhio frente ao Vizela, esse ano, na primeira divisão. Uma vitória por duas bolas a uma, graças aos tentos de Gregório Freixo e de Laureta, num prélio em que a equipa vitoriana teve de suar as estopinhas, pois o vizinho tinha-se adiantado no marcador logo na alvorada do desafio.

Na jornada seguinte dar-se-ia o eclodir da contestação ao treinador. Na verdade, a derrota caseira contra o eterno rival faria com que o projecto de António Pimenta Machado fosse posto em causa. Era a equipa que era muito jovem, era o treinador que não conhecia o futebol português, era uma época que estava em risco…

Assim, Pimenta Machado cederia. Numa primeira fase contrataria o nigeriano Isima e o chileno Tincho, para, por alturas de Natal, contratar os brasileiros César (já aqui lembrado) e o inesquecível esquerdino Roldão ao Guarani.

A equipa com estes retoques melhoraria. Os jovens, escudados em elementos mais experientes, começariam a sentir-se mais seguros. A mescla de juventude com experiência permitiria ao Vitória ganhar alguma estabilidade e vencer alguns desafios que o fariam terminar a temporada a meio da tabela, no nono posto, carimbado com uma vitória no penúltimo desafio da temporada por uma bola a zero frente ao Varzim, graças ao golo de Teixerinha. Goethals haveria de despedir-se de Portugal no jogo seguinte, numa derrota, por duas bolas a uma, em Penafiel.

Na verdade, António Pimenta Machado desiludido com o decorrer da época não renovaria o contrato ao belga conhecido por “Le Magicien”, apostando em António Morais que haveria de levar os Branquinhos a um meritório quarto posto.

Quanto a Goethals, partiria de Portugal desiludido afirmando que “era mais fácil ver o papa do que o presidente do Vitória” e “que houve jogos que o Vitória perdeu como juvenis e quem sofreu foi o meu estômago.”

Quanto à sua carreira, teria o seu ponto alto naquele fim de tarde em Munique, quando venceria a Liga dos Campeões… que, como na final que disputou com o Standard, seria eivada de polémica…pelos mesmos motivos da anterior!

Faleceria em 2004, com a certeza de o Vitória ter sido um dos únicos clubes onde não conseguiu ter êxito…contingências do futebol!

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