“Se conseguir contribuir para melhorar a cura do cancro, vou ficar muito feliz”

Débora Ferreira é de Moreira de Cónegos e investiga tipo raro de cancro da mama na Universidade do Minho e é a procura da cura que a move, numa área com pouco financiamento.

© Débora Ferreira

Recentemente foi distinguida com o prémio EMBO Poster Prize, na 5ª Conferência Next-Generation Synthetic Biology, realizada na cidade de Gent, na Bélgica e sonha um dia ter a sua própria equipa de investigação.

Licenciou-se em Engenharia Biomédica, em Bragança, no Instituto Politécnico local, mas foi na Universidade do Minho (UM) que tirou mestrado em Bioengenharia. Nos anos seguintes, trabalhou numa empresa de biotecnologia, em Guimarães, e incluiu-se em bolsas de investigação na UM. No final de 2016, iniciou o doutoramento em Bioengenharia ao abrigo do programa MIT-Portugal e aqui, durante meio ano, esteve em Houston, nos Estados Unidos da América, para aprofundar conhecimentos.

Depois de concluir o doutoramento, em 2021, conseguiu uma bolsa de investigação da Liga Portuguesa contra o Cancro e, em 2022, alcançou a posição de investigadora júnior, no concurso de estímulo ao emprego científico individual, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) para trabalhar no Centro de Engenharia Biológica da UM. Começou em 2023 e é onde se encontra atualmente a jovem de Moreira de Cónegos.

A ciência esteve sempre na sua lista de preferências académicas, o perfil encaixava na certa: “Os meus pais sempre me disseram que eu era muito curiosa, que me interessava em perceber o porquê de tudo. E isso ajuda a explicar muito o meu percurso. Sempre gostei de ciência e desde o meu mestrado que sabia que queria fazer investigação, apesar de todas as dificuldades que sabia que, eventualmente, iria enfrentar”. Débora refere-se à falta de financiamento na área, até porque esteve “em bolsas de investigação, com vínculo precário, durante longos anos”. “Houve, inclusive, alturas em que fiquei sem rendimentos, mas não baixei os braços e, de alguma forma, a sorte sorriu-me”.

© Débora Ferreira

 

“É UM CANCRO EXTREMAMENTE AGRESSIVO, COM ELEVADA TAXA MORTALIDADE, POR TER OPÇÕES DE TRATAMENTO MUITO LIMITADAS”

Alcançar a bolsa da FCT “foi muito importante” para a investigadora vimaranense. “Foi muito gratificante profissionalmente porque consegui no ano seguinte a terminar o doutoramento, ainda para mais porque surgiu numa altura muito especial da minha vida”. A Débora encontrava-se sem qualquer contrato e grávida de seis meses. “Não tinha perspetivas de nada e o futuro preocupava-me bastante”, conta à Mais Guimarães.

Neste momento, Débora Ferreira integra uma equipa de investigação (desde alunos de mestrado, de doutoramento e a professora que financia a investigação), num novo tipo de partícula de origem biológica para conseguir fazer um tratamento dirigido ao subtipo de cancro da mama, triplo negativo. “Como sabemos, um dos principais problemas da quimioterapia é exatamente a questão dos efeitos secundários, como queda de cabelo, problemas gastrointestinais, etc. E isto acontece porque este tipo de terapias ataca todo o tipo de células, as cancerígenas e as saudáveis. O nosso principal objetivo é tirarmos partido destes mesmos agentes de quimioterapia, mas, com recurso às nossas partículas, tornar o tratamento mais eficiente, mais seletivo e mais específico, não afetando as células saudáveis e minimizando ao máximo os efeitos secundários”, explica.

Desde o mestrado que o foco de Débora tem sido o cancro de mama triplo negativo. “Porque é um cancro extremamente agressivo, com elevada taxa mortalidade, por ter opções de tratamento muito limitadas – não responde bem aos tratamentos mais convencionais, como a quimio e a radioterapia – e ainda por afetar maioritariamente jovens”. “Se com a minha investigação conseguir contribuir para melhorar ou entender melhor este tipo de cancro, vou ficar muito feliz”, diz ainda.

A motivação aumenta sempre que é possível mostrar trabalho, mas também quando há distinções. E foi o que aconteceu. A investigadora do Centro de Engenharia Biológica foi distinguida com o prémio EMBO Poster Prize, na 5ª Conferência Next-Generation Synthetic Biology, realizada na cidade de Gent, na Bélgica: “Teve uma grande importância e significado para mim, é sinal que a comunidade científica está atenta ao meu trabalho, que valoriza aquilo que tem vindo a ser feito no nosso laboratório, a investigação portuguesa, particularmente na área do tratamento do cancro da mama e na biologia molecular. E claro que esta visibilidade é muito importante porque nos ajuda a estabelecer novas colaborações, tão importantes para concorrer a projetos nacionais/internacionais para obter o financiamento tão importante/necessário para conseguirmos continuar a nossa investigação”.

Mas, atualmente, como é que a sociedade olha para a investigação? “Cada vez mais as pessoas percebem a importância da investigação, principalmente após a pandemia. Com o desenvolvimento das novas vacinas, muitas pessoas perceberam que a investigação/ciência é realmente algo muito sério e preciso, e muito importante e confiável para o desenvolvimento de novos tratamentos, de novas descobertas”.

A Débora tem outra ambição, à parte de encontrar a cura do cancro da mama.
“Ter a minha própria equipa de investigação e gerir o meu próprio laboratório, mas, até lá, ainda muitos desafios me esperam”.

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