“Se você não quiser, alguém há de fazer”. Trabalhadores encerram 30 cantinas de escolas vimaranenses
Paralisação total dos trabalhadores da Uniself, S. A.

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Os trabalhadores das cantinas escolares de Guimarães estão, esta terça-feira, em greve. Trata-se de uma paralisação total dos trabalhadores da Uniself, S. A., que afetou largas centenas de alunos das escolas vimaranenses.

Concentrados em frente ao edifício da Câmara Municipal de Guimarães, esta manhã, os cerca de quatro dezenas de grevistas reivindicaram melhores condições contratuais e aumentos salariais.
Segundo Francisco Figueiredo, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte, houve uma “grande adesão dos trabalhadores”, que permitiu o “encerramento de mais de 30 cantinas, ou seja, mais de quatro mil refeições não foram servidas”.
A greve surge como “uma resposta a uma situação de grande precariedade no trabalho, salários baixos e fracas condições de trabalho”. “A esmagadora maioria são trabalhadores precários que todos os anos assinam contratos e todos os anos são despedidos”, detalhou ainda o dirigente sindical.
Francisco Figueiredo explicou ainda que uma anterior greve resultou na efetividade de mais de 50 trabalhadores, mas desta vez a empresa não aceitou fazer o mesmo.

“Se eles entram ao serviço em setembro, saem em julho e estão de “férias” durante o mês de agosto, não tem cabimento que não pertençam aos quadros da empresa”, disse ainda, acrescentando que “as empresas não podem rasgar o contrato coletivo de trabalho como se ele não estivesse em vigor”.
Os direitos dos trabalhadores, as categorias profissionais e as baixas cargas horárias foram outras das reivindicações.
A Uniself S.A. reuniu, esta segunda-feira, com o sindicato e recusou qualquer aumento salarial. A seu ver, tratou-se de “uma posição intransigente” perante as tentativas de negociação. A empresa admitiu apenas corrigir algumas categorias, mas, ainda assim, com efeitos a setembro. “A empresa deve dinheiro a estes trabalhadores, que já deviam estar classificados há muito tempo. Aliás, já fizemos uma denúncia à inspeção do trabalho”.
O dirigente sindical não poupou nas críticas à Câmara Municipal de Guimarães. Na verdade, durante a manifestação, os trabalhadores voltaram as costas ao edifício em sinal de protesto.
Nas palavras de Francisco Figueiredo, o município “não exerce as suas atribuições e competências, não fiscaliza o caderno de encargos, nem os direitos dos trabalhadores. Sendo uma entidade pública, devia interceder junto da empresa para pôr termo a esta precariedade extrema”.
O responsável lamentou ainda a “cobertura a uma manobra para substituir os trabalhadores em greve, dando-lhes feijão frade e atum, que só a intervenção do sindicato pôs termo”. “A Câmara, em vez de se pôr ao lado dos trabalhadores, pôs-se ao lado do patrão”, vincou.
Do universo de trabalhadores da Uniself S.A. , cerca de 200 trabalhadores encontram-se atualmente em situação de precariedade. Destes, 150 estão com contratos a termo.
Nos próximos dias, o sindicato adiantou que vai solicitar uma nova reunião à empresa. “Se a empresa não ponderar as suas posições, em setembro já está marcado um novo plenário para discutir a situação dos trabalhadores e encontrar novas formas de luta”, finalizou.

Pressão e ameaças
O Mais Guimarães conversou com algumas das trabalhadoras da Uniself S.A. que confirmaram a existência de muita pressão e até ameaças por parte da entidade patronal.
“Eu estou efetiva, mas estou aqui devido à necessidade de aumentar os salários e também em solidariedade com as minhas colegas que são empregadas de refeitório. Elas são discriminadas, ameaçadas, recebem muito pouco e não têm um contrato de trabalho definitivo”, começou por explicar uma grevista.
“Muitas funcionárias com contrato de setembro a junho, são ameaçadas que não serão contratadas de novo no início do ano letivo. É completamente inaceitável”, acrescentou.
Outra das manifestantes disse não ter dúvidas de que “a empresa devia olhar mais aos trabalhadores”. Garantindo que foram aumentados os lanches de manhã, de tarde e reforços – o representa uma sobrecarga de trabalho – , a empresa não aumenta as cargas horárias aos funcionários.
Entre gritos de manifesto, chega-nos o outro testemunho. Desta vez, de alguém com 18 anos de carreira. “São 60 refeições, com reforços da manhã, e faço tudo sozinha. Não há ninguém que faça pressão, nem os diretores da escola. Não nos dão qualquer hipótese. Apenas dizem: se você não quiser, alguém há de fazer”, concluiu.
O Mais Guimarães tentou contactar a direção da Uniself S.A. que, até momento em que a notícia foi publicada, não se mostrou disponível para prestar declarações.


