SEDES BRAGA quer agitar a consciência crítica dos cidadãos
Esser Jorge Silva é o novo presidente do Conselho Consultivo da SEDES Braga.

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O professor da Escola Técnica Superior Profissional do IPCA substitui Fernando Alexandre, atual Ministro da Educação. A posse dos novos órgão sociais da delegação de Braga da Associação para o Desenvolvimento Sócio deu-se no passado dia 8 de julho. Nesta entrevista o sociólogo vimaranense explica quais o objetivos do próximo mandato da delegação de Braga da SEDES – Associação para o Desenvolvimento Económico e Social. Numa entrevista onde se fala das alterações necessárias ao sistema eleitoral, Esser Silva afirma que a SEDES Braga quer “desassossegar os espíritos” de modo a afirmar um “distrito com quase 10% da população nacional”. São traços da estratégia desta associação nascida em 1970 para ajudar a transformar Portugal, numa conversa no Largo da Oliveira.
O que significa para si ser eleito Presidente do Conselho Consultivo de uma Associação com o historial da SEDES?
A SEDES tem, de facto um grande historial e contributos para o país. Nasceu em 1970 com o objetivo claro de contribuir para o desenvolvimento social e económico do país. E, embora as distritais só tenham sido instaladas há dois anos, por ação de Álvaro Beleza, é evidente que configura uma grande responsabilidade e um grande desafio presidir ao Conselho Consultivo. Quer dizer que terei de convocar pessoas com capacidade técnica, conhecedores da realidade da região, e trazer para a frente da discussão temas importantes para a nossa transformação a diversos níveis. E neste caso está sempre na ordem do dia os assuntos económicos como a inovação, o investimento, a qualidade do emprego, o impacto da Inteligência Artificial, entre outros. Isto, claro sem descurar o urbanismo e a qualidade de vida das nossas cidades, particularmente a mobilidade e o ambiente. Interessa, sobretudo ir ao encontro daquilo que tem impacto com a realidade e com a vida dos cidadãos.
Vai substituir Fernando Alexandre, agora Ministro da Educação…
Fernando Alexandre foi uma das pessoas que esteve na instalação da SEDES Braga há dois anos e que vinha de conceber um estudo para a Fundação Francisco Manuel dos Santos no qual advertia pela necessidade urgente da mudança de paradigma. Em vez de “made in” temos de nos reorientar para o “create in Portugal”. Esse estudo teve o concelho de Braga como ponto de partida. Ora, continua válido trabalharmos assentes nessa premissa, mas alargando-o a todo o território distrital. Já agora, o facto de o anterior Presidente do Concelho Consultivo da SEDES Braga ter sido chamado a Ministro só demonstra a assertividade que Carlos Vasconcelos, o anterior presidente do Conselho Coordenador, teve ao convidá-lo para a equipa. Mas, como digo, mais do oferecer nomes, queremos oferecer uma entidade capacitada para funcionar como elemento de pressão nos centros de decisão.
E a que se propõe, no imediato, a SEDES Braga?
O trabalho executivo ficará a cargo do Presidente do Conselho Coordenador, Eng. Francisco Costa. Mas trabalharemos em parceria. Pretendemos, desde logo, aumentar o número de associados e de profissionais capacitados tecnicamente para participar num projeto de exigência cidadã em todo o Distrito. Queremos que as empresas percebam que há aqui, um grupo de indivíduos que se propõe olhar criticamente para a região, estudar e agir, no sentido de pensar, propor e pressionar, para as transformações que se impõem. Pretendemos manter uma monitorização permanente da realidade socioeconómica da região pugnando por uma perspetiva ambiciosa e progressista do distrito mas que contribua para o desenvolvimento articulado e integrado entre regiões vizinhas. Isto é, a SEDES Braga não só funcionará como elemento produtor de soluções distritais como se articulará, como vaso comunicante, com as outras distritais vizinhas para pressionar soluções estruturais inter-regionais.

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“A SEDES BRAGA não só funcionará como elemento produtor de soluções distritais como se articulará, como vaso comunicante, com as outras distritais vizinhas para pressionar soluções estruturais inter-regionais”
Esse papel não é dos municípios?
Absolutamente, mas não só. Quanto mais dinâmica for uma região, quanto mais reivindicativa e persuasiva for, quando mais atenção conseguir, melhor será o resultado final para todo o território. Há hoje problemas comuns que devem ser olhados de modo amplo e não particular. A ideia do quadrilátero é um exemplo de associação com resultados interessantes que devem ser melhorados. É preciso incentivar a ideia de associação porque há também recetividade por parte das entidades representativas do Estado em escutar, inclusive associações de cidadãos. Mas os cidadãos parecem alheados das decisões políticas. Geralmente acham que esse papel cabe aos políticos… Não é exatamente assim. Na tomada de posse, António Cunha deu o exemplo de um think thank de Bragança que conseguiu levar a CCRN a considerar determinada ideia de projeto que nem sequer tinha sido pensada pela própria CCRN. É nesse campo que deve operar a SEDES Braga. Aliás, exatamente com o mesmo espírito do mandato anterior em que debateu temas como o impacto energético, a mobilidade para a região e discutiu o estado da Justiça em parceria com a Universidade do Minho e com a participação de grande referências técnicas do país. O importante é, a propósito do Distrito de Braga, chamar temas de interesse nacional a serem discutidos na nossa região.
O que propõe de relevante para o próximo mandato?
De imediato temos questões internas a tratar. Como aumentar o número de associados a título individual e a título coletivo, nomeadamente empresas. Temos consciência que é importante crescer para ganharmos dimensão de modo a que possamos ter uma ação efetiva em todo o distrito. Almejamos reforçar parcerias tanto com a academia, com as associações importantes, assim como com as Câmaras Municipais. Queremos trabalhar com as forças vivas do distrito. Estamos interessados em trazer jovens com ideias para junto de nós. O nosso grande objetivo é termos iniciativas com impacto realizadas com a participação de todos os concelhos do distrito. E neste particular queremos intervir de modo a agitar a consciência crítica dos cidadãos.
E como é possível alcançar essa adesão tanto popular como institucional?
Desassossegando os espíritos locais, afirmando convictamente que aqui há gente e há ideias para o país! Demostrando-o na forma das nossas idiossincrasias, das nossas particularidades, das nossas necessidades, dos nossos desejos e da nossa vontade coletiva. Para isso temos de apresentar argumentos sólidos e irrefutáveis. Mostrar que as nossas afirmações têm base alicerçada e que são contributos importantes para nós, para as nossas vidas e para o futuro da nossa região.
Há alguns exemplos concretos que possa dar?
Claro. O distrito de Braga tem quase um milhão de habitantes, 10% da população nacional e a SEDES Braga quer explorar essa força criativa aqui existente. Por outro lado, temas que estão a ser trabalhados a nível nacional devem ser replicados regionalmente. Porque não aumenta a nossa riqueza? Porque temos impostos tão complexos? Como questionou Arq. André Fontes da Universidade do Minho, qual a razão porque se mede uma nova ponte de milhões sobre o Tejo pela redução do tempo de viagem entre Lisboa a Setúbal e se afirma ser inviável uma linha férrea entre Barcelos e Guimarães, entretanto medida em milhões de euros? Porque não se mede um investimento destes nos benefícios e na dinâmica que traria à região? A SEDES Braga quer convocar um espírito de cidadania ativa. Quer ser um espaço onde os cidadãos se realizem enquanto tal.
Mas a vida dos cidadãos parece exigir mais: a SEDES Braga terá, por exemplo, algum papel quanto ao preço das casas, à emigração dos jovens, à criação de empregos decentes…
A SEDES Braga fará como faz a SEDES nacional: estudará para que as conclusões dos seus estudos, por si só, revelem a realidade e pressionem os centros de poder. Graças à SEDES estamos hoje a saber, sem sombra para dúvidas, que enquanto a taxa de crime caía, as capas dos jornais tratando crimes aumentava. Portanto a realidade tem sido muito maltratada. À SEDES Braga interessará saber, com profundidade, as causas, as consequências e as soluções dos fenómenos que se apresentem a todo o momento. Claro que o problema da habitação interessa. Assim como é importante atrair capitais e projetos atrativos não só para criarem empregos e ajudarem a reter os jovens como para ajudar a fazer regressar jovens. À SEDES Braga caberá esmiuçar as razões do problema e propor soluções.
Em suma, é dizer que o Distrito de Braga existe…
Atenção, não é existir por existir, mas sim por diferenciar. Temos de estar à frente e não ter medo de pensar para o país a partir de Braga. Temos um dos melhores, se não o melhor, Politécnico do país, temos uma das Universidades mais dinâmicas de Portugal, importantes empreendimentos de Investigação e Desenvolvimento, continuamos a ser um distrito jovem, atraímos muita gente estrangeira para cá, portanto temos de estar presentes na construção do país. Veja-se, por exemplo, a intervenção da vereadora Olga Pereira da Câmara de Braga, a explicar os motivos porque os mandatos autárquicos de quatro anos estão desajustados para este tempo, uma vez que não permite planear e executar o, desde logo, condiciona o próprio mandato. O mesmo se aplica à lei eleitoral quanto aos executivos municipais monocolores. Ou no que diz respeito às Assembleias Municipais com menos gente mas mais capacitada tecnicamente e com um papel mais atuante na fiscalização. Como é que o órgão fiscalizador das Câmaras reúne à noite e a más horas sob a boa vontade de cidadãos trabalhadores que vão fiscalizar contratos de milhões?
Com executivos municipais entregues ao partido vencedor tal implicava uma espécie de Parlamento Municipal…
Exatamente. Diz bem, um Parlamento Municipal onde se dá a representação das cores políticas eleitas, num número mais reduzido de elementos, mas com uma clara e definida responsabilização individual dos seus membros. Precisamos muito deste tipo de alterações sob pena do nosso sistema político, a caminhar rapidamente para um fechamento, redundar em entropia e, consequentemente, numa implosão. Como ninguém quer isso, é preciso agir…
Teme que a crise do sistema político resulte numa revolução?
Diria que entendo que o nosso sistema político há muito que entrou em crise. E, como sempre, quando se instala a crise, postulase um tempo de mudança. Ora as mudanças ou acontecem porque se decide mudar ou impõem-se por si mesmas, neste caso descontroladamente. A nossa democracia tem 50 anos assente num sistema de representação política com muitas diluições. O sistema é representativos mas nunca sabemos quem nos representa. São todos os deputados e nenhum deputado. Elegemos deputados, cujos nomes desconhecemos, ao mesmo tempo que dizemos estar a votar para Primeiro Ministro. As Comissões Coordenadores de Regiões (CCR), formam regiões mas não temos regionalização. Precisamos ser mais claros. E a SEDES Braga terá aqui o seu papel…
E o que defende quanto ao sistema político? Círculos uninominais?
Eu defendo que é chegado o tempo de levarmos a sério alterações no nosso sistema político. Não apenas no que diz respeito às autarquias como também no sistema de representação eleitoral nacional. Sou a favor de um sistema eleitoral misto que conjugue círculos uninominais com um círculo nacional que possa garantir a representatividade de todo o território nacional. Penso, inclusive, que estarmos a fazer de conta que esta não é uma necessidade mas, na minha modesta opinião, é uma urgência quem não podemos descurar. Este será, seguramente, um dos temas que a SEDES Braga quererá desenvolver pensamento e fornecer contributos para uma discussão séria e objetiva a nível nacional.