StampDyeing não abre após férias e lança 100 pessoas para o desemprego

O patrão da Mabera-Coelima tinha dito que a empresa não iria fechar, mas, esta quarta-feira, os trabalhadores encontraram o portão fechado a cadeado.

© Rui Dias/Mais Guimarães

Os 96 trabalhadores da tinturaria e estamparia StampDyeing, do Grupo Mabera-Coelima, em Ponte, Guimarães, encontraram, esta quarta-feira, o portão da empresa fechado a cadeado, quando se apresentaram ao trabalho, depois do encerramento para férias. As dificuldades da empresa já eram conhecidas dos funcionários que foram para férias com o salário de julho e o subsídio de férias em atraso. Entretanto, já venceu o salário de agosto que também não foi pago. Este momento é o culminar de um longo mal-estar na empresa, com penhoras de contas bancárias, falta de higiene por não pagamento da limpeza, cortes de gás, entre outras situações. Os trabalhadores dizem que os problemas começaram com a aquisição da Coelima, em 2021. A StampDyeing entrou com um pedido de Processo Especial de Revitalização, no Tribunal de Guimarães, no dia 27 de agosto, já depois de um fornecedor ter requerido a insolvência.

Os trabalhadores eram conhecedores dos problemas que a StampDyeing atravessa, até porque muitos deles tinham que lidar com “a fúria” dos fornecedores, negociar com os bancos ou pedir planos de pagamento à Segurança Social, mas não esperavam ter o acesso às instalações barrado. “Há ali mais duas empresas a funcionar: Uma fábrica de corte e uma oficina, ambas do filho do proprietário da StampDyeing. Não estão a trabalhar para nos cortar a entrada”, queixou-se um funcionário, apontando, por cima do portão de ferro fechado a cadeado.

Apesar  de ter garantido, numa reunião com o coordenador do  Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes, Francisco Vieira, que iria pagar e que a empresa continuaria a laborar, o administrador da StampDyeing, Dâmaso Lobo, agora, enviou uma carta a “dispensar os trabalhadores de comparecerem no seu local de trabalho”. Sem poderem trabalhar e sem receberem, “aos trabalhadores não resta senão suspenderem o contrato e irem para o Fundo de Desemprego”.

Viaturas usadas pela empresa são de uma firma que está no nome do filho do sócio-gerente

O mal-estar na StampDyeing já vinha a acumular-se. “Uma altura vieram aí com uma grua para levar os empilhadores”, conta uma funcionária. “Tivemos de explicar que os equipamentos não eram da empresa”, acrescenta. “Os carros foram todos passados para o nome de uma firma do filho do senhor Dâmaso Lobo”, conta outro empregado. As faltas de pagamento aos fornecedores eram de conhecimento geral: “Quando vinham cortar o gás, o senhor Dâmaso punha carrinhas em cima da tampa do contador para impedir”, conta António Neves, funcionário desde a fundação da empresa, em 2017.

Francisco Vieira acha estranho que a Goldenergy não estivesse disponível para negociar um plano de pagamento e que agora esteja pronta para aceitar o PER. Para o sindicalista “a empresa foi conduzida propositadamente para a insolvência”. Os trabalhadores são da mesma opinião que o representante sindical.”Havia 80 toneladas de tecido de clientes, que garantia trabalho até ao final do ano”. Segundo alguns funcionários, se a empresa estivesse a produzir, poderia ter faturado 1,5 milhões até ao dia 15 de agosto, quando encerrou para férias.

© Rui Dias/Mais Guimarães

Casas de banho sem serem limpas por falta de pagamento

Com uma dívida avaliada em 3,5 milhões de euros, a StampDyeing parou a produção no dia 24 de junho, depois de um corte de gás pela Goldenergy, a quem deve 680 mil euros. “Fomos obrigados a estar na empresa, a cumprir horários, sem produzir nada”, queixa-se António Neves. Além de serem obrigados a estar no interior de uma fábrica parada, os trabalhadores tinham de usar casas de banho insalubres, por falta de pagamento à empresa de limpeza.

Prometeu que pagava e depois apresentou um PER

“Não percebo como é que nós é que trabalhávamos para a Mabera e para a Coelima e ainda acabamos a dever-lhes dinheiro”, queixou-se um trabalhador, quando foi informado que a Mabera (empresa do mesmo grupo) é outro dos grandes credores da StampDyeing. As divídas da empresa ficaram a conhecer-se depois de ser apresentado um PER, no dia 27 de agosto, já depois das promessas de pagamento dos salários e de continuação da atividade.

A maioria dos trabalhadores tem salários a rondar os 900 euros e há vários casos de famílias com mais do que um elemento na empresa.  Não sabem se podem acreditar na palavra de Dâmaso Lobo, quando diz que a estamparia/tinturaria vai continuar a funcionar. “A decisão do PER levar quatro ou cinco meses”, referiu Francisco Vieira, “entretanto, os trabalhadores não podem ficar sem receber, têm de suspender o contrato”. Apesar de haver um pedido de insolvência por parte de um fornecer, por uma dívida de 200 mil euros, o PER suspende esse processo. “Contudo”, explica o coordenador do sindicato, “se o PER não for aprovado, avança a insolvência”.

© Rui Dias/Mais Guimarães

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Problemas começaram com a compra da Coelima

“Antes de comprar a Coelima, pagava a dia 2 ou 3, depois começou a pagar a 5 ou 6, mais recentemente passou a ser a  8, 9 e agora não paga”, referiu o funcionário João Leite. Os trabalhadores relacionam  os problemas que a empresa vive com a aquisição da Coelima e lembram que quando Dâmaso Lobo comprou a StampDyeing esta não tinha dívidas. Recorde-se que Dâmaso Lobo adquiriu a centenária Coelima (fundada em 1922), através da Mabera, em 2021, por 3,6 milhões de euros, no âmbito de um processo de insolvência.

Pelo jornalista Rui Dias

 

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