Carregar o que te Sobrecarrega*
Este setembro confunde qualquer um. Ao acordar repete-se a sensação de que já não é verão, mas ainda não chegou o outono. Do mesmo modo, ali por junho os dias grandes já nada querem com a primavera, mas tarda o verão.
Aí, antes das férias, não raras vezes, dou conta da desordem completa a que chegam tantos de nós, de agendas a abarrotar, e sempre desejando descanso. E agora, reiniciando trabalhos observo os ciclos repetitivos de agendas a voltarem ao mesmo estado de sobrecarga.
Penso sobre estas questões, sobre o modo como nos organizamos e volto a folhear as leituras que fiz há já uns anos de um ensaio imperdível: O Enraizamento, de Simone Weil. Fico-me longamente nuns quantos parágrafos em que ela se refere à primeira “necessidade da alma” – a Ordem. A Simone Weil constatava, naquelas primeiras décadas do seculo XX e que continuamos a experimentar no século XXI, que havia “um enorme grau de desordem e de incompatibilidade entre as obrigações.”
Assistimos a reuniões sobrepostas com outras funções, formação profissional contínua depois de um longo dia de trabalho. Na maioria das profissões eis que surge esta sofreguidão de dar resposta a elevadas exigências e a extensos horários laborais.
Sem esta primeira, a Ordem, as outras necessidades ficam comprometidas: a Liberdade, porque não a desfrutamos; a Igualdade, porque nos habita a desproporção;…e por aí fora até à necessidade de Verdade, que, seguindo Weil, é a mais sagrada de todas.
Com ela, essa primeira, é possível avançar ainda que nos apaguem a luz, porque conhecemos cada centímetro da
folha de papel onde escrevemos o nosso pensamento. Ao sabermos da vital importância da Ordem, um dos primeiros
serviços que podemos prestar aos que nos são mais próximos é ajudá-los a ‘carregar o que os sobrecarrega’.
Simone Weil, filósofa, professora, operária na Renault, operária agrícola, mulher da Resistência Francesa, tratou de estudar e de viver estas avassaladoras questões das sociedades e do indivíduo e surpreende-nos ao tomar opções que são como um luminoso ponto de luz na obscuridade.
Neste livro há uma palavra que escreve incessantemente, ‘Amor’, por saber que será o Amor a peça que falta quando
tudo parece indicar ausência de soluções. Esta outra palavra que dá título ao livro, ‘Enraizamento’, é já o processo que levará cada ser humano a superar as possibilidades da sua inteligência e isso os salvará.
Leiam estas Inadiáveis Leituras e deixem que a genialidade de Simone Weil abrande os nossos dias.
* Ir. Roger, de Taizé
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