A FUTEBOLIZAÇÃO DE UM PAÍS

RUI ARMINDO FREITAS Economista

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por RUI ARMINDO FREITAS
Economista

Não se pode negar que o futebol, pela sua popularidade, muitas vezes ultrapassa as barreiras do desporto e se transforma num fenómeno social muito para lá deste. O futebol dá corpo a bairrismos e rivalidades, dá alegrias e tristezas, que muitas vezes fazem até esquecer o dia a dia que a todos ocupa e nem sempre é o mais fácil. O futebol consegue, para muitos, ser um escape, que durante 90 minutos, os faz transportar para dentro das quatro linhas e serem absorvidos pela magia que os craques conseguem fazer com a bola no pé. Até aqui parece-me tudo aceitável e socialmente saudável.

O problema é que nem sempre é assim. Assistimos em Portugal, principalmente nos últimos anos, a um tipo de dirigismo desportivo que tem levado a um escalar de uma envolvente para lá do desporto, que é a todos os títulos condenável. De domingo a domingo, somos bombardeados com programas sem fim sobre futebol, mas onde tudo é discutido menos o desporto, apenas se discute o que de pior o vai cada vez mais rodeando. Que exista uma classe de dirigentes desportivos que não tem dimensão para dirigir a instituições a que preside aceito bem, agora que as figuras mais altas do Estado se misturem nesta lama já me faz uma certa confusão. Ora vejamos, lá para os lados de Lisboa, há um clube que esta semana teve uns problemas, que terão de ser forçosamente resolvidos pela justiça.

Os factos todos conhecemos e dizem respeito aos associados desse clube, e às autoridades se for caso disso. Agora que um país fique durante uma semana, com a sua agenda política refém de um episódio destes, é que, para além de dizer muito dos dirigentes desportivos, também o diz dos dirigentes políticos. Custa-me assistir à segunda figura do Estado, o Presidente da Assembleia da República, com uma rapidez que se lhe não conhece noutras matérias, ser célere em criar mais confusão. Custa-me que o líder da bancada parlamentar na Assembleia da República do PS tenha vindo envolver-se no assunto. Mais, incomoda-me que todos os que não têm a tutela das áreas visadas tenham perdido mais tempo com “futebóis” do que com o que realmente interessa ao país.

A mim, não me interessa o que um tal Carvalho lá dos lados da segunda circular anda a dizer ou fazer, mas já me preocupa que tenhamos tido enfermeiros e professores na rua, e disso ninguém fala porque por mais importantes que sejam para o país estas classes, não devem saber jogar à bola. Ou melhor, se calhar até se torna mais claro que, para aqueles a quem o clube do Carvalho nada diz, toda esta algazarra dos políticos cheira a aproveitamento para desviar a atenção de assuntos mais incómodos. É que para além das classes profissionais que saíram à rua, Pinho deixou de ser arguido, a eléctrica nacional é alvo de uma OPA com contornos a apurar, apenas uma mão cheia de municípios cumpriu com os prazos para limpeza de florestas e a economia deu no primeiro semestre sinais preocupantes de abrandamento… Mas ao que parece isto não é nada comparado ao futebol lisboeta…O futebol lisboeta, esse sim, parece ser a verdadeira essência deste país à beira mar plantado. O país está parado em torno do futebol, e o mundial da Rússia ainda nem começou.

 

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