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A luta da comunidade LGBTI numa cidade onde o assunto “ainda é tabu”

Hoje celebra-se o Dia a Internacional de Luta contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia. Em Guimarães, há memória apenas de uma marcha de apoio à comunidade LGBTI, que se realizou em 2018, e, para alguns, este ainda "é um assunto tabu".

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Hoje celebra-se o Dia a Internacional de Luta contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia. Em Guimarães, há memória apenas de uma marcha de apoio à comunidade LGBTI, que se realizou em 2018, e, para alguns, este ainda “é um assunto tabu”.

© Mais Guimarães

No dia 17 de maio de 1990 a homossexualidade foi retirada da Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde (OMS). Este foi, por isso, escolhido como o Dia Internacional de Luta contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia. 30 anos depois, o 17 de maio continua a servir para lutar contra a discriminação das pessoas que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros, transexuais, queer, intersexuais ou pansexuais.

Por um lado, em Portugal, expressões ofensivas ou atos de violência em função de orientação sexual ou identidade de género são crimes e os atos discriminatórios, ainda que não violentos, são ilegais. Além disso, Portugal estava, em 2019, empatado com o Canadá e a Suécia no primeiro lugar de destinos mais hospitaleiros para a comunidade LGBTI, de acordo com o índice do Spartacus International Gay Guide. Por outro lado, também em 2019, Portugal foi considerado um dos oito países europeus da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) onde a comunidade homossexual denunciava o maior nível de discriminação, de acordo com o relatório “Society at a Glance 2019”. O país partilha a lista com a Áustria, a Estónia, a Grécia, a Hungria, a Itália, a Polónia e a Eslovénia, conforme revelam os últimos dados estatísticos disponíveis (2012).

“Não vou para a rua celebrar a minha heterossexualidade porque não sofro com ela”

Relativamente à realidade vimaranense, são poucos os sinais ou informações sobre a comunidade LGBTI. No âmbito do trabalho da Associação de Defesa dos Direitos Humanos de Guimarães (ADDHG), eliminar rótulos também se aplica à comunidade LGBTI, uma das áreas em que a presidente da ADDHG, Tânia Salgado, pretende especializar-se. “Ainda acho que é um assunto tabu. Em Guimarães não conheço trabalho feito nesse sentido e quero dar resposta. Temos de estar preparados para intervir”, afirmava ao Mais Guimarães, em março, no âmbito da rúbrica “Perfil”. Perante os “grandes níveis de estigma” e o assédio constante que as pessoas da comunidade LGBTI sentem, Tânia diz que é “urgente” acabar com qualquer tipo de preconceito.

© Mais Guimarães

Na verdade, a 22 de setembro de 2018 foi realizada, pela primeira vez, uma marcha em defesa da comunidade LGBTI em Guimarães. Na altura, a iniciativa organizada sob o lema “Guimarães Tem Outras Cores” tinha como objetivo incentivar a população de Guimarães “a aceitar o próximo da maneira que ele é, assim evitando homofobia e preconceito”. “Isto é um protesto para as pessoas da cidade abrirem as mentes. É uma cidade com a mentalidade muito fechada e antiga. Acho que as pessoas desta geração não se sentem tão à vontade em se assumirem, de saírem do armário, porque têm receio do que os outros vão pensar”, dizia, na altura, ao Mais Guimarães, Iara Marques, da organização.

A Casa da Juventude apoiou na organização da marcha, assim como a Câmara Municipal. Alexandre Simões, membro da Casa da Juventude, fala agora ao Mais Guimarães apontando que “infelizmente” continua a ser importante celebrar este dia. “Em pleno 2020, continuamos, de alguma forma, a falar sobre temáticas que já não deveriam sequer fazer sentido”, considera.

O responsável, que trabalha com diversos grupos de jovens na Casa da Juventude, diz mesmo ter “alguma dificuldade em perceber porque é que [em Guimarães] ninguém fala sobre isso e ninguém quer saber”. “Os EUA tinham uma política que parece que Guimarães adotou, a do “Don’t Ask, Don’t Tell””, compara. Recorde-se que a política de “Don’t Ask, Don’t Tell” permitia que homossexuais servissem no Exército norte-americano apenas se não admitissem a sua homossexualidade. “Não vou para a rua celebrar a minha heterossexualidade porque não sofro com ela. Em Guimarães há pessoas que ainda sofrem discriminação, desde muito cedo, desde as famílias. As famílias têm um pavor de lidar com isto, medo do que os vizinhos pensam, por exemplo. Em Guimarães isto é um assunto tabu”, declara.

O responsável admite que a situação poderá “ser bem pior” noutros concelhos, mas acrescenta que, em Guimarães, “existem situações menos positivas”. “Gostava que Guimarães pudesse ser mais livre neste aspeto e pudesse conviver com este assunto”, aponta. Dos mais jovens chegam-lhe testemunhos de “discriminação psicológica”. “As pessoas são tratadas de maneira diferente, seja nas escolas, pelos colegas e até pelos pais”, relata. “Felizmente não nos chegam casos de discriminação muito significativa. Não estou a dizer que não existem, mas não têm chegado até nós”, confessa.

Relativamente a novas marchas em Guimarães, com 2020 fora dos planos, Alexandre Simões acredita que nos próximos anos poderão voltar a realizar-se. “Infelizmente ainda há essa necessidade e vamos certamente voltar a realizar. Na altura, foi um trabalho dos grupos informais. Com o passar do tempo, o grupo desuniu-se e fez com que o pessoal se desmobilizasse. Ainda não foi possível voltarmos a uma estabilidade, mas estou certo que, se não em 2021, em 2022, no máximo, terá que haver e se calhar terá que haver sempre que fizer sentido. Gostava que não fizesse sentido”, afirma.

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