A SÍNDROME DO HOMEM PEQUENO
PAULO NOVAIS Professor de Sistemas na Universidade do Minho

por PAULO NOVAIS
Professor de Sistemas na Universidade do Minho
O termo síndrome tem vindo a entrar no nosso quotidiano e pela porta principal, existindo síndromes para tudo e para todos os gostos e feitios. Sendo que síndrome caracteriza-se como um conjunto dos sinais e sintomas que definem uma condição ou situação.
Permitam-me que lhes apresente dois deles.
A Síndrome de Napoleão descreve posturas, geralmente associadas a indivíduos de baixa estatura, que se caracterizam por terem um comportamento social excessivo, agressivo ou mesmo dominador. Na psicologia é identificado como um estereótipo social e claramente depreciativo, já que carrega, em si, a implicação de que tal comportamento é um contrapeso para a estatura. O termo, numa utilização mais lata, serve para descrever pessoas que são movidas por uma qualquer percecionada desvantagem que compensam excessivamente por outros aspetos nas suas vidas. Reza a história que Napoleão compensava a sua suposta baixa estatura com uma insaciável busca pelo poder e glória, mas na verdade ele teria até uma estatura mediana para a sua época.
Uma outra postura é a Síndrome do pequeno poder, que se caracteriza por uma postura de despotismo de um indivíduo que, ao ser detentor de um poder, exorbita a sua autoridade e a utiliza de forma autoritária, sem se preocupar com os problemas que possa vir a provocar. A este propósito aliás, Abraham Lincoln (século XIX) afirmava que “Se quiser por à prova o carácter de um homem, dê-lhe poder”.
A conjunção destas duas posturas ajuda-nos a compreender melhor aquilo que se pode descrever como a Síndrome do Homem Pequeno e que caracteriza uma postura cada vez mais comum na nossa sociedade. Homens (pequenos) que se rodeiam de homens “pequenos” para se sentirem “grandes”. O qualificador, neste contexto, reflete uma postura associada a capacidades e a comportamentos e não, obviamente, a uma qualquer referência a extensão ou ao volume.
Existe hoje uma tendência, nos que detêm o poder (os decisores) nas mais variadas atividades mas particularmente na política, de criarem equipas nas quais se sentem a estrela da companhia. Estrelas não por serem homens com extraordinárias capacidades mas porque não existe nem se rodeiam de gente capaz. Gostam dos “yes man”, daqueles que não fazem barulho nem apontam caminhos alternativos, mas que (eventualmente) fazem o trabalho que se lhes pedem para executar e, assim o Homem logra ser o centro de toda a atenção e obséquios. Afinal ele conhece bem o ditado popular “Em terra de cegos, quem tem um olho é rei“.
Esta atitude é em si, fruto de um certo pragmatismo e fatalismo que domina os nossos tempos, a inevitabilidade de um qualquer destino ou fado, que não é possível alterar. Se assim é, para quê ter gente que pensa (diferente)? Até porque dá trabalho ouvir e analisar a opinião de outros (cá entre nós; é uma maçada).
O problema é que a Síndrome do Homem Pequeno leva ao desenvolvimento de líderes fracos e limitados e, tendencialmente, a pequenos ditadores, mais preocupados com a imagem, a carreira e o bem-estar do que com o futuro da comunidade, o futuro de todos nós.
Temos todos, pois, muito a apreender com Charles Chaplin em “O Grande Ditador” (1940), numa das últimas cenas deste famoso filme, num eloquente discurso afirmava “Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível…”.
“Para ser grande, sê inteiro”, como diria Ricardo Reis (heterónimo de Pessoa) i.e., ser verdadeiro, dar sempre o máximo, buscar a excelência no que se faz e evitar e não aceitar a mediocridade.
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