A voz como fio condutor da segunda aventura de Dada Garbeck

Agora, a voz dilui-se nas camadas sonoras construídas pelo vimaranense Rui Souza.

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“Vox Humana” é o segundo disco da tetralogia “The Ever Coming”, iniciada com um lançamento no ano passado. Agora, a voz dilui-se nas camadas sonoras construídas pelo vimaranense Rui Souza.

© Rafael Farias

Nem sempre são necessárias palavras para preencher o espaço que habitamos. O queixume, a alegria, o desespero, enfim, todas as emoções que sentimos, podem ser vocalizadas. A voz é, se quisermos, o instrumento musical mais antigo. E, na volta, pode ainda ser transformada num sintetizador. Esse é o exercício a que Dada Garbeck, o projeto do vimaranense Rui Souza, se propõe em “Vox Humana”, o segundo álbum da tetralogia “The Ever Coming”, lançado no final de março.

No novo registo, a voz humana, a partir de um quarteto lírico, dilui-se “em composições contemporâneas e clássicas” embebidas numa “eletrónica circular”. Quem o explica é o próprio Rui Souza, que não gosta de se aventurar em categorizações do género: “Não penso muito em termos estéticos.” Mas a voz é sempre a linha que guia o ouvinte disco fora, no qual a voz ocupa o lugar central das escarpas musicais puramente analógicas de Dada Garbeck. Por isso, e tendo em conta a circularidade musical empregue, não se espere a presença de loops. “Gosto de trabalhar de modo repetitivo, mas todas as repetições são diferentes na medida que são todas tocadas. Não há um friso, mas têm essa caraterística de parecerem muito iguais”, diz.

E a circularidade é tão vincada que existem continuações de faixas do primeiro disco. A primeira denuncia-o — “This Is Not Mysanthropy Pt II”, assim se chama —, bem como “Kali Yuga Pt II”, que abre outra camada nesta descoberta sonora. Já lá vamos. É que Rui Souza diz existir “uma narrativa bastante fixa” no projeto — mas isso não quer dizer “que as pessoas tenham de estar presas”. No primeiro álbum, a viagem solitária de um homem, inspirada num conto argentino, guiava a narrativa; no mais recente, continua presente, “mas não é o foco”.

Em “Kali Yuga Pt II”, o cantar das almas acompanha o órgão, sendo gradualmente preenchido por sintetizadores que tornam a experiência cada vez mais eletrónica: “Levo comigo o saco de pão co’a merenda”, ouve-se logo no início da canção. A tradição que habita naquelas vozes em que parece estar encapsulada a ancestralidade de um povo difunde-se nos caminhos mais eletrónicos, numa junção que nos transporta muito para lá da memória associada a estes cantares — mas sem nunca realmente os deixarmos.

Há momentos em que a imaginação nos leva para um baile num qualquer salão de há séculos, como acontece em “Repeat”, mas também há espaço para momentos mais crus, como aquele que fecha o álbum (“Canto de ordeño y tomada de luna”, com Arianna Casellas). Talvez esse seja o resultado da mescla que habita em Dada Garbeck: “A minha formação é clássica, estudei piano clássico. Depois, estudei jazz. Mas andei sempre à volta dos sintetizadores e da eletrónica e, por isso, Dada Garbeck é a junção dessas linguagens todas.”

Mas há muito mais para explorar em “Vox Humana”. E se, nestas circunstâncias em que uma pandemia toma conta de todos os momentos do dia, o novo disco do vimaranense pode ser um demorado escape. “Acho que [o isolamento] pode ser uma oportunidade para se ouvir melhor um álbum, algo que está cada vez mais em desuso. Por isso, é uma oportunidade. Não só para este álbum; é um novo paradigma”, defende

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