Adelina Pinto: “Contratação de professores é algo que tem de ser pensado por parte do Ministério”

Adelina Pinto, vice-presidente da Câmara Municipal e vereadora com a pasta da Educação, diz concordar com grande parte dos motivos apresentados para a greve, à excepção da alegada municipalização da Educação.

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O segundo período do ano letivo já arrancou e muitos são os alunos que ainda não regressaram às aulas devido à realização de greves de professores, que se prolongam durante todo o mês de janeiro.

Entre outras coisas, os professores “exigem respeito” e estão a mobilizar-se nas diferentes formas de luta, dispostos a “intensificar estes e outros protestos”. Estas manifestações, referem, “têm o objetivo de fazer o Ministério da Educação recuar nas suas intenções de alterações profundas para o regime de concursos e abrir processos negociais para resolver problemas que têm vindo a desvalorizar a profissão”.

Adelina Pinto, vice-presidente da Câmara Municipal e vereadora com a pasta da Educação, diz concordar com grande parte dos motivos apresentados para a greve, à excepção da alegada municipalização da Educação.

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Enquanto professora e vereadora da educação, como é que vê esta greve?

Vejo esta greve com preocupação. Enquanto professora, percebo o desânimo e a desmotivação de muitos anos de alguma confusão, que agora está muito mais reforçada com a falta de professores e outras questões. Como vereadora, obviamente, também vejo com grande preocupação porque isto significa um mal-estar nas escolas, significa alguma desgovernação com a falta dos professores. Esperamos que haja um compromisso que se consiga fazer. Aquilo que eu não percebo é a questão que está subjacente da suposta municipalização da contratação de professores. Foi algo que nunca foi equacionado por nós, nos termos da descentralização e da transferência de competências. Eventualmente, há aqui algum ruído à volta disso. Guimarães está agora com a descentralização e foi sempre certo e seguro que ficaríamos com o pessoal não docente e que nunca ficaríamos com o pessoal docente, que haveria sempre uma contratação nacional. Há algum ruído que me parece estar a acrescentar alguns problemas a outros problemas reais, que estão relacionados, por exemplo, com as não subidas nas carreiras, com a colocação de professores em sítios onde é muito difícil encontrar casa ou mesmo as deslocações que os professores fazem. Acrescentou-se este problema que eu acho que, no caso de Guimarães, nunca foi um problema, nunca foi sequer aceite ou pensado por nós. Nunca quisemos ter algo a ver com a contratação de professores. Sempre achamos que isso deveria ser feito pelos serviços do Ministério da Educação.

Mesmo com a transferência de competências no domínio da Educação, isso não será uma realidade em Guimarães?

Não é, nem nunca foi, uma possibilidade. A questão da contratação de professores é algo que tem de ser pensado por parte do Ministério e tem de ser definido centralmente. Não pode estar sujeito a que municípios diferentes tenham visões diferentes. Em Portugal não estão ainda reunidas as condições para darmos este passo e, por isso, nunca esteve em cima da mesa.

Os professorem queixam-se das condições da escola pública e das condições de ensino lá praticadas. Concorda com isso?

Não. Eu acho que a escola pública está hoje diferente e é completamente diferente daquilo que era há dez anos atrás. Tem outra qualidade, outros serviços e outros equipamentos. Essa parte eu acho que não é verdade. O que é verdade é que a escola pública já teve, ao nível de recursos humanos e ao nível dos recursos docentes, outras capacidades. Foi perdendo por força das crises que fomos tendo, como por exemplo em 2011. Nota-se que os professores têm uma sobrecarga de trabalho muito grande, que afeta o normal serviço lectivo. Há um excesso de trabalho burocrático que as escolas têm, muito desse trabalho até “inventado” pela própria escola, como eu costumo dizer. Já fui presidente de uma escola e sei bem que às vezes se exige sempre mais um relatório ou outro tipo de coisas. O que é certo é que hoje os professores têm muito trabalho administrativo, muitas reuniões, muitos relatórios, e isso obviamente degrada a sua própria profissão e coloca-os menos capazes e menos disponíveis para aquilo que é essencial, que é a relação com os alunos.

Hoje temos também outro problema que não têm a ver com a escola pública, mas com a sociedade, que é a pressão exercida nas famílias a vários níveis, com horários de trabalho cada vez mais incompatíveis com a vida familiar. Deixam-se as crianças na escola cada vez mais tempo. Nós em Guimarães temos a escola a tempo inteiro, entre as 07h30 e as 19h00 e sentimos que as escolas ficam muito cansadas por este excesso de tempo. É uma resposta àquilo que é uma necessidade da sociedade. Isto é, se os miúdos não estivessem na escola, estariam num ATL ou em qualquer outro sítio, uma vez que os pais estão em idades de investimento na carreira, muitas vezes em empregos em que é preciso muito investimento nessa altura. As crianças estão a sentir esta pressão de tempo em todos nós e isso reflete-se muito na escola, que as acolhe por um tempo enorme. Acho que a questão da degradação da escola pública não é verdadeira. A verdade é que a escola vai sempre tentar adaptar-se àquilo que são os problemas sociais.

Obviamente que é um cansaço enorme para os professores, para o pessoal não docente e para os coordenadores da escola. Têm que ser dados os lanches, o almoço, os suplementos alimentares, e depois ainda há as AECs e as CAFs. A escola de repente deixou de ser o espaço onde se vai aprender entre as 09h30 e as 15h00 e passou a ser um espaço de acolhimento muito maior.

A greve vai prolongar-se até ao final do mês de janeiro. Preocupa-a a forma como isto poderá afetar o ensino dos conteúdos letivos que estavam programados para este período?

As escolas e os professores são responsáveis. Além dos direitos que os professores têm, obviamente que as escolas terão de refletir sobre a questão das aprendizagens, nomeadamente neste retorno de uma pandemia. Sou das pessoas que acho que não é por estarem muito tempo nas aulas, com aulas muito grandes, que os alunos vão aprender. Acho que aprendem melhor com metodologias diferentes. Acredito que as escolas e os professores vão ser capazes, como sempre foram e como foi provado na pandemia, de responder em tempo útil às questões mais catastróficas que nós nunca imaginaríamos viver. Portanto, vão ter em atenção que os alunos sejam os menos prejudicados em todo este processo de luta dos direitos que cada professor tem.

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