António Lopes: “O aumento dos preços globais dos alimentos tem batido recordes”

António Lopes, sócio-gerente da Arcol, dá o seu testemunho sobre como o aumento generalizado está a afetar o pequeno comércio.

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Em entrevista ao Mais Guimarães, António Lopes, sócio-gerente da Arcol, dá o seu testemunho sobre como o aumento generalizado está a afetar o pequeno comércio. Na sua visão, é preciso dar mais valor à agricultura, ao trabalho e à autosuficiência.

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Viver em Portugal está a ficar cada vez mais caro. É sabido que a chegada do novo ano traz consigo um aumento generalizado dos preços. António Lopes, administrador da Arcol, empresa de comércio grossista sediada em Gondar, refere que o ano fica marcado “por uma brutal escalada desses preços”.
Além de sermos confrontados com o incremento do preço dos combustíveis e da energia, assistimos ao despoletar do conflito armado na Ucrânia, que veio afetar a realidade de todos os países do mundo, especialmente daqueles que integram a Europa.


Não é novidade que Portugal tem uma balança comercial negativa com os dois países em guerra, importando mais do que aquilo que exporta. Assim, os combustíveis minerais e produtos agrícolas essenciais ao consumo nacional são comprados a outros países, o que por si só acarreta custos mais elevados. Com o aumento da procura, naturalmente aumentam os preços. Trata-se, portanto, de uma “bola de neve” sem fim à vista.


Os sinais são bem evidentes no dia-a-dia e comprovados pela taxa de inflação em Portugal. Dados revelados na passada quinta-feira, pelo Instituto Nacional de Estatística, mostram que a taxa de variação homóloga do índice de preços no consumidor (taxa de inflação) passou de 4,2% em fevereiro para 5,3% em março. Este valor é o mais elevado registado em Portugal desde junho de 1994.


De todos os setores afetados, há um que, pela sua importância na vida dos consumidores, salta à vista diariamente, e, sobretudo, “salta-nos à carteira”: o setor alimentar. As idas ao supermercado estão cada vez mais caras, com carrinhos menos cheios e faturas mais elevadas. Nos produtos alimentares não transformados a taxa de inflação supera a média e chega aos 5,9%.


A verdade é que o consumidor final sente a escalada de preços, mas não o seu impacto total. Ainda são muitos os setores que têm tentado absorver esse aumento, reduzindo as suas margens de lucro nos produtos para manter a competitividade no mercado.

“Este aumento generalizado de preços não é proveniente apenas da guerra”


Em entrevista ao Mais Guimarães, António Lopes, administrador da Arcol, garante que “o aumento dos preços globais dos alimentos tem batido recordes, que chegam aos 20% quando comparados com o ano anterior”.
Mas nem só este aumento de preços preocupa a empresa vimaranense, que se dedica ao comércio grossista de produtos alimentares e bebidas. “O mais preocupante é a escassez. Por exemplo, o caso dos óleos alimentares, cuja maior componente é o óleo de girassol e que tem na Ucrânia um dos maiores países exportadores”, explica o administrador, acrescentando que para contornar o problema é necessário “recorrer a países mais longínquos, como é o caso da América”.


As soluções agora encontradas envolvem, na sua maioria, um grande aumento na despesa mensal com combustíveis, cujo preço também disparou. António Lopes critica os elevados impostos dos combustíveis, considerado as receitas dos mesmos “uma vergonha e um escândalo”. Não há uma “atuação rápida das entidades governamentais em criar mecanismos de defesa para evitar que este tipo de situações aconteçam”.


Na opinião do responsável, “Portugal poderia ser um bom produtor de cereais e óleo de girassol, entre outras culturas”, caso o país não tivesse desinvestido o seu interesse e aposta na agricultura e no trabalho em geral. Assim, António Lopes compara a crise que agora abala o setor alimentar com a crise que já se verifica há vários anos no setor da carpintaria, serralharia e pichelaria: a falta de mão de obra qualificada.
“A escassez vai ser talvez o maior problema que vamos viver. O caminho terá de passar,obrigatoriamente, pela autossuficiência. Só esse pode ser o caminho”, sublinha António Lopes, reiterando que é preciso incentivar a população a abraçar as profissões que, à primeira vista, possam parecer menos apelativas, como é o caso da agricultura.

Até quando e até quanto?

António Lopes salvaguarda que “este aumento generalizado de preços não é proveniente apenas da guerra”. Pelo contrário, trata-se de uma “correção de muitas situações mal geridas no passado, e que estamos agora a pagar por elas”.


O responsável diz não ter dúvidas de que os sucessivos aumentos vão continuar, assim como a especulação, que também “já se faz sentir de forma intensa”. “Isto não vai acabar tão cedo, até porque mesmo que a guerra acabasse hoje mesmo, iam demorar anos até que a Ucrânia conseguisse recompor-se e retomar a sua normal atividade como produtora”, sublinhou.


António Lopes acredita que grande parte dos consumidores só se vai perceber o impacto destes aumentos a médio prazo, quando verificarem que “levaram a sua vida com normalidade, sem gastos extraordinários, e, mesmo assim, o dinheiro no bolso é cada vez menor”.


Quanto à margem de aumento dos produtos, que já vai em 20%, o administrador não dá garantias que estabilize no futuro. A tendência é continuar a subir, caso não existam “medidas ajustadas às necessidades atuais dos portugueses”.
Para António Lopes, “falta liderança e estratégia” aos governantes do país, que “menosprezaram durante décadas o valor e importância da agricultura”.

Comércio de proximidade “mais barato e mais amigo do consumidor”

Também na Arcol é sentida a neTambém na Arcol foi sentida a necessidade de, “momentâneamente”, limitar a venda de determinados produtos, como é o caso do óleo alimentar. O racionamento poderá ser necessário “para que todos tenham acesso aos produtos, cujos preços tenderão a encarecer, caso as condições de acessibilidade continuem as mesmas”.


António Lopes refere que o objetivo da Arcol é criar condições ao retalhistas para assim “beneficiar o consumidor”, para que este tenha a possibilidade de no comércio de proximidade “comprar em preços mais baratos, comparativamente aos preços especulados das grandes àreas comerciais”.


Segundo António Lopes “é consensualmente sabido que as margens do comércio de proximidade são cerca de 20% inferiores àquelas praticadas pelas apelidadas grandes superficies”, razão pela qual, acrescenta “sempre foi mais económico para o consumidor a compra neste comercio de proximidade, o que é extremamente importante neste clima de aumento geral e anormal de preços”.


Ainda a sofrer os resquicios de pandemia Covid-19, agravada com as consequências duma “pandemia de guerra e destruição”, iremos, finaliza, “lamentávelmente, assistir ao sofrimento do setor da restauração, que será gravemente afectado, uma vez que as familias não terão alternativa que não seja a concentração dos seus rendimentos na educação, alimentação e no vestuário”.

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