“As nossas famílias não podem vir cá e vocês podem ir e vir todos os dias?”

Enquanto grupo de risco, é pedido aos idosos que se mantenham em casa, saindo apenas em casos excecionais.

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Enquanto grupo de risco, é pedido aos idosos que se mantenham em casa, saindo apenas em casos excecionais.

A APAV, tendo registado um aumento de violência contra idosos, deixou algumas dicas para garantir que as pessoas idosas estão em segurança, nomeadamente:

• Manter o contacto diário através de chamadas telefónicas regulares, monitorizando o bem-estar e sinalizando algumas necessidades que possam ter;

• Reconhecer as emoções que nós próprios sentimos e regular a forma como comunicamos;

• Dar informação com calma e paciência;

• Informar-se sobre a rede de apoio comunitária;

• Encoraje o idoso a manter-se ativo, mas lembre-se que ninguém gosta de ser obrigado a fazer algo de que não gosta;

• Seja compreensivo e sugira algumas distrações, mas deixe que seja a própria pessoa a escolher como passa o seu tempo.

Cláudia Meira, gestora da Linha de Apoio à Vítima, relatou, em maio, um caso de uma mãe que, para evitar cruzar-se com o filho dentro de casa, tinha um fogão de campismo na varanda do quarto. Geralmente estes idosos têm entre 60 e 90 anos. “Sofrem agressões físicas e negligência. Muitas vezes são acamados. Há filhos ou cuidadores que não deixam as assistentes das equipas de segurança social, que fazem apoio domiciliário de higiene e alimentação, entrarem nas residências”.

“Em lares as coisas não estão fáceis”, foi como Diana C. Pereira, psicóloga numa Estrutura Residencial de Pessoas Idosas (ERPI), começou a conversa com o Mais Guimarães. “Nem para os idosos, nem para os colaboradores, nem para as famílias, nem para ninguém”, acrescentou. Enquanto psicóloga, Diana Pereira, trata das questões da gestão emocional com idosos e colaboradores, e fornece estratégias de gestão emocional, e estimulação cognitiva.

“O medo continua, mas o cansaço e a saturação já prevalecem”

Em março, quando havia pouca informação sobre o vírus, “havia muito medo por parte dos idosos, porque também viam os colaboradores assustados”. Era tudo novidade e desconhecido e, portanto, os idosos tinham muito medo do que ia acontecer. “Alguns achavam que era o fim deles, que era a hora de morrer”.




A psicóloga relembra que havia muita revolta, por não serem permitidas visitas. “Muita tristeza, porque eles estavam a notar uma aproximação do fim deles e nem da família se podiam despedir. Havia um bocadinho a noção de que o tempo estava a acabar e estavam sozinhos”. Num lar, sem a família, os colaboradores tentam ocupar esse espaço e esse lugar na vida dos utentes.

Oito meses depois, “o medo continua, mas o cansaço e a saturação já prevalecem”. Os idosos começam a ficar cansados por não poderem sair, principalmente aqueles que são mais autónomos e estavam habituados a sair, ir ter com os amigos ou ir às compras. “As atividades deixaram de ser realizadas em grupo, é tudo muito individualizado”, e os utentes não gostam disso por serem atividade menos lúdicas.

As visitas aos lares voltaram a ser permitidas, com todas as restrições. “Os lares são uma bomba relógio”, explica Diana Pereira. Há uma preocupação extra com idosos: “se o vírus entra aqui, o que é que acontece?”. O medo de morrer, e de não haver uma despedida, foi como que uma “consciencialização do tempo dos familiares”.

“Pessoas com dependência a nível físico e também cognitivo, considero que estão a sentir um bocadinho menos o impacto da pandemia, porque não têm tanta noção do que se passa”. A psicóloga fala da doença alzheimer, acreditando que a agitação que idosos com a doença às vezes têm, “é por não verem os familiares há muito tempo”. A verdade é que todos sentem o impacto, mas os que estão plenamente conscientes daquilo que se está a passar, e entendem as notícias, entendem que os colaboradores estão diferentes, que estão equipados e porquê, “sentem mais”.

Diana acredita que, nos idosos que estão em lares, as consequências a nível psicológico, podem não ser muitas. Estão agora mais em baixo e mais tristes, “já com alguma sintomatologia ansiosa e depressiva”. A socialização foi altamente diminuída com a família, mas também com os colegas do lar e do exterior, o que pode levar a todas essas consequências. “Voltando ao normal, às atividades de grupo, às visitas, o impacto pós pandemia pode não ser muito grande”, acredita.

A conversa muda quando se fala em idosos que não estão em lares. “O impacto, quer atual, quer futuro, será maior, porque estão menos protegidos. Estão mais sozinhos, porque não podem visitar as famílias, nem estar com colegas.

Alguns idosos não sabiam o que era um vírus e, a maior dúvida era “porque é que as nossas famílias não podem vir cá e vocês [colabo- radores] podem ir e vir todos os dias?”. Os utentes perceberam, com o tempo, que o trabalho era realizado de uma forma segura e era feito para o bem deles.

Contactos:

Linha de emergência | 112
Linha SOS Criança | 116 111
Linha de Apoio à Vítima | 116 006
Linha da Segurança Social | 300 502 502
Linha Nacional de Emergência Social | 144
Serviço de informação a vítimas de violência doméstica | 800 202 148

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