CABEÇA NA AREIA

CÉSAR MACHADO Advogado

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por CÉSAR MACHADO
Advogado

Montado numa lambreta, carregando um saco de areia, um italiano vero,cruzava todos os dias a fronteira Suíça. Todos os dias os guardas obrigavam o italiano a descarregar a areia numa mesa, remexiam, peneiravam, analisavam, e…só areia. Juravam que um dia apanhariam o homem num qualquer flagrante. -Areia? Cheirava a esturro. Da areia sairia algo mais, e viria o dia em que a coisa havia de ficar em pratos limpos. No quadradismo dos vigilantes não encaixava tão ingénua actividade do motociclista;a passagem do homem da lambreta, a trazer um saco de areia, todos os dias, teria um desfecho pouco agradável para o italiano; a coisa seria descoberta. Sucede que a travessia durou anos. Até que um dia o homem da lambreta desapareceu. Sumiu. Mais tarde, entrou de novo na Suíça, passando a fronteira ao volante de um exuberante automóvel, um luxuoso topo de gama. Atónitos, os alfandegários suíços perguntaram -“Como? Todo este tempo a trazer sacos de areia dá nisto? A areia é assim tão bomnegócio?”. – “Areia? Que areia? Eu nunca negociei em areia. O meu negócio eram as lambretas. Foram sempre as lambretas”.
Em entrevista ao Público, acusa Assunção Cristas a falta de clareza dos motivos que levaram o PSD a não ir coligado com o CDS às autárquicas em Lisboa. “Para mim, é claro que não havia vontade”.  Afirma que Passos estava seguramente convicto que outras eleições viriam antes das autárquicas -as legislativas. Via sinais de crise no país que tornavam esse cenário mais que provável. Aos olhos de Passos, não seria possível manter o descalabro a que conduzia a actual governação e o desfecho estava à vista. Até a felicitou pela coragem de avançar para Lisboa, atento o risco do desconforto futuro, num acto eleitoral antecipado. A que cargo concorreria?

Sucede que as coisas não se passavam como Passos as via. E não viriam a passar-se como Passos as previa. No que se passava de bom, via Passos o mau. Onde todos viam sinais positivos no rumo do país, via Passos o caminho para o abismo. Zangado com os que diziam bem do que calhasse, rapidamente passou de zangado com o seu destino político –que nunca aceitou- à condição de zangado com o resto do mundo. Reduzido nos apoios partidário aos fiéis que, em condições normais, estariam nas últimas filas da bancada, não nas primeiras, somou recusas sobre recusas dos militantes mais destacados, avessos a concorrer aos principais municípios do país. Passos ficou mais zangado, menos respeitado, mais acossado, menos líder. Em suma, todo um programa a que não  será estranha a ameaça de um arrasador resultado eleitoral nas próximas autárquicas.

Como os suíços, com a cabeça na areia, Passos recusou-se a ver o resto. Viu e previu mal. Vendo o que corre bem, o povo não gosta que lhe atirem areia aos olhos. Passos apercebe-se. Vê isso a cada passo e mais zangado fica. De zangado a irado vai um passo muito curto que Passos passa muita vezes.  Ora, ninguém gosta de pessoas que passam a vida zangadas, iradas, no ”bota abaixo”. Passa mal, Passos. É cada vez mais provável a antecipação feita pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa de que o cenário político ficaria mais claro após as eleições autárquicas. Começa a ser pacífico que, se lá chegar, Passos passará ao passado nessas eleições. Há quem assegure que o comentador Marcelo é um águia. Vê e prevê bem. Ao jeito de Homero – “Muitas aves cruzam os raios do sol, mas nem todas prognosticam”

 

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