CIDADANIA PRECISA-SE

Por José João Torrinha.

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Por José João Torrinha, Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães 1.A decisão de um casal de impedir os seus filhos de frequentarem as aulas de cidadania pode ser vista sob vários prismas. Sob o ponto de vista legal, a decisão não tem ponta por onde se lhe pegue. Goste-se ou não, a disciplina é obrigatória. Se algum Tribunal viesse a dar razão aos progenitores, pergunta-se o que impediria qualquer pessoa de decidir que os seus filhos não frequentassem as aulas de português ou de matemática.

Mas mais do que a questão legal, importa realçar a questão política e a humana que lhe está subjacente. Ninguém duvida que o que estes pais pretendem é fazer passar uma mensagem de cunho político. A mensagem é a de que a escola dos dias de hoje é um perigoso veículo de promoção de ideias que eles entendem ser perniciosas.

Contudo, parece claro que aqueles pais não estão verdadeiramente preocupados em que os seus filhos venham a derivar perigosamente para o regaço do marxismo cultural. A sua preocupação é pura e simplesmente ideológica, a um ponto de estarem dispostos a sacrificar a progressão escolar de duas crianças no altar do seu ativismo político.

Pela parte que me toca, sou completamente favorável à existência da referida disciplina e da sua obrigatoriedade. Se é certo que a escola manifestamente não serve para doutrinar os alunos nesta ou naquela ideologia, ela não é nem pode ser neutra.

Não é neutra no sentido de que ela se insere e é parte integrante de um regime democrático, o qual se funda num conjunto de valores que a escola deve efetivamente fazer por transmitir aos seus alunos. A pedagogia da democracia é também ela uma arma de que regimes políticos como o nosso de deve munir para se defender das pulsões autoritárias que o atacam pelas mais variadas formas.

2.Para além disso, a outro nível, viver em sociedade implica que todos assumamos uma série de comportamentos socialmente responsáveis que importa sejam apreendidos desde muito tenra idade e que nem sempre são devidamente transmitidos em casa.

A esse respeito, ninguém pense que na nossa sociedade já se fez o caminho todo no que toca à prevalência de valores que às vezes nos parecem tão consensuais que se diriam indiscutíveis e unanimemente postos em prática. E isso vê-se nas grandes, mas também nas pequeninas coisas. Pense-se em algo tão primordial como o respeito pelo espaço público e pelo outro.

Dois exemplos que podemos ver nas ruas da nossa cidade. Não faltam espaços na nossa malha urbana para se depositar o lixo doméstico. Ecopontos, moloks e contentores encontram-se um pouco por toda a parte. O que é que explica então que encostados a esses locais muitas pessoas insistam em deixar o seu lixo fora dos locais adequados para o efeito?

Outro caso: recentemente, Guimarães passou a ter um serviço de disponibilização ao público de trotinetes e bicicletas. Pois logo começamos a ver esses equipamentos estacionados no meio de passeios públicos, num sinal claro de desrespeito pelos transeuntes, com especial acuidade para os invisuais ou pessoas de mobilidade reduzida.

Falo deste dois casos porque são um flagrante exemplo de desprezo pelo próximo. Pede-se tão pouco a todas as pessoas: que levantem uma tampa, ou estacionem uma trotinete um metro ao lado e nem assim alguns o fazem. E se nas pequenas coisas a cidadania nos falha… imagine-se nas grandes.

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