Comércio tradicional, loja sim, loja não…
Por Rui Armindo Freitas.
por Rui Armindo Freitas
Economista e Gestor de EmpresasAo passear pela nossa cidade, nas principais artérias de comércio tradicional, bem entendido lojas de rua, comecei a prestar atenção, pois fruto da nossa exposição diária a determinadas realidades tendemos a deixar de as ver, à quantidade de espaços comerciais encerrados, livres, vagos, que outrora albergaram negócios. É de facto triste perceber que entre a rua de Santo António, Paio Galão, Gil Vicente e artérias adjacentes com proximidade e que foram referência de comércio, contam-se dezenas, sim dezenas, de espaços comerciais vazios, mesmo sem considerar as galerias comerciais há muito em semi abandono. Se no centro histórico, zona onde passei parte da minha infância, a realidade é inversa ao que se vivia nos anos 80 e início dos anos 90, nas nossas ruas de comércio o panorama é desolador. Mas mais do que constatar, procuremos explicações. Com a “Disneyficação” do nosso centro histórico, local onde os moradores deixaram de ser há muito os de antigamente, sinais dos tempos, os turistas, nacionais e estrangeiros, são fonte de riqueza a preservar, ajudando a fazer florescer a restauração e algum pequeno comércio. Já fora do centro histórico classificado, nas ruas do comércio vimaranense, a realidade é outra, vivem do poder de compra local e essas estão desertas. O estado em que se encontra o comércio local, apesar da garra dos comerciantes que continuam a acreditar na sua terra, reflecte opções tomadas ao longo de 30 anos de gestão socialista que nos trouxeram aqui. Poder de compra reduzido dos vimaranenses, uma estratégia de mobilidade errada, uma grande superfície às portas da cidade desde 1995 que ajudou a drenar o comércio tradicional para uma forma de comerciar mais ao estilo da América Latina, um constante trocar das pedras da calçada com encerramentos sistemáticos das artérias para embelezamentos sucessivos, numa lógica de “troca granito por granito”, mas sem dotar esta zona de novas valências. Sem uma estratégia activa de juntar proprietários e potenciais investimentos âncora para sedimentar o comércio de rua, com os novos negócios a ajudarem a preservar os históricos. É fácil culpar os comerciantes ou dizer que o vimaranense prefere fazer compras no Porto ou Braga. Logicamente que o mercado funciona, e os comerciantes, que mais do que ninguém são os que desejam que os seus negócios floresçam, não podem indefinidamente investir em stocks de produtos que por motivos que lhes são alheios, nunca conseguirão escoar. É fácil culpar o vimaranense, que se elogia como o mais bairrista quando dá jeito, mas que se apelida como pouco patriótico do ponto de vista económico por fazer compras noutras paragens… Mas tudo isto são justificações para a inacção política que nos trouxe até aqui. Aquilo que parece simples é, talvez, um pouco mais complexo. São opções políticas que nos levam a uma economia local pobre, é uma estratégia de transportes que afasta as freguesias do centro da cidade, é a política de estacionamento, que independentemente de se dizer que as pessoas são mais ou menos preguiçosas que querem levar o carro para dentro do destino, o que é um facto é que a realidade prova que não funciona, são munícipes sem dinheiro para gastar. Em suma o rei vai nú! É preciso assumir que este Partido Socialista conduziu Guimarães a um estado pré-letárgico da cidade, palco de festas, na lógica de pão e circo, mas com uma vivência que cada vez mais é uma sombra daquilo que já foi.
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