Economia, um instrumento de paz…e de guerra

Por Rui Armindo Freitas.

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por Rui Armindo Freitas
Economista e Gestor de EmpresasEscrevo esta coluna há quase 7 anos. Mas o facto curioso é que nos últimos três, mais ou menos pela mesma altura do ano, dou por mim a escrever mais um artigo que fala sobre improbabilidades, todas elas negativas, mas que ano após ano se vão superando na surpresa com que nos arrebatam. Se em Março de 2020 antevia com pouca profundidade ainda, os efeitos do SARS-Cov2 na economia global, em 2021, na mesma altura do ano, escrevia uma crónica intitulada “O ano dos cisnes negros”, numa alusão clara à teoria de Taleb, para classificar acontecimentos improváveis e à quantidades de improbabilidades que nos assolaram em tão curto espaço de tempo. Este ano, uma vez mais, a realidade volta a surpreender e a superar a capacidade de antever o futuro, e a toda a incerteza que experimentávamos veio juntar-se uma guerra bárbara no coração da Europa, onde o modo de vida democrático e liberal, fundado nas cicatrizes profundas de conflitos passados, nos faziam acreditar que jamais, a crueldade a que temos assistido nos últimos quase dois meses, se repetiria.

De facto, o maior período de estabilidade no ocidente, deveu-se à consubstanciação de uma visão saída dos anos 40 do século passado, de que pela economia se obteria a paz duradoura. Assim foi. Assistimos a uma influência clara e positiva dos Estados Unidos na Europa fragilizada pela 2ª Guerra Mundial, e décadas mais tarde, o colapso da URSS, permitiu sonhar que o modo de vida ocidental também poderia ser expandido mais a leste. Contudo há um lado perverso quando apenas a economia é o elemento central da tomada de decisão política. O foco nos objectivos económicos imediatos de cada país, faz com que, não raras vezes, se fechem os olhos ao que é estratégico, com o objectivo táctico de apresentar resultados para vencer as eleições seguintes. Esta realidade fica exposta, quando cada vez mais, cada um de nós toma consciência de que a guerra a que assistimos foi em grande medida financiada pelo ocidente, onde a principal responsável pelo financiamento do regime de Putin foi e continua a ser a Alemanha, numa dependência tóxica da energia russa, que lhe continua a garantir, acesso a gás natural do qual depende largamente a sua economia fortemente industrializada. Assim, alarde-se em torno de sanções ao regime russo, e pouco se diz, do facto das importações de gás russo continuarem, com ameaças envergonhadas ao seu corte, sem que ele aconteça na realidade. Fica assim demonstrado que a economia como instrumento de paz no ocidente financiou a guerra, por falta de visão estratégica para fazer o que muitas vezes foi já abordado nesta coluna, e que deverá ser a base de qualquer boa gestão caseira ou familiar, que é colocar não os ovos todos no mesmo cesto, no que dizia respeito à maior economia da Europa, e á sua dependência energética de um país que pelo seu regime autocrático, sem respeito pelas liberdades individuais, sem respeito pela liberdade de imprensa, seria sempre o antónimo da estabilidade que se deveria garantir quando se discutiam as bases da economia europeia. Assim, é exposta uma das debilidades da nossa sociedade: quando é rentável, viramos a cara ao lado. A guerra na Ucrânia, apesar de surpreendente, está longe de improvável, quando se assistiu à actuação da Federação Russa no mundo e ao nível doméstico, nos últimos 20 anos. Saibamos tirar os devidos ensinamentos, que tão caros estão a custar em sofrimento humano, e esse, não há valor económico que o compense.

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