
Estar do lado certo da barricada
Por José João Torrinha.

Por José João Torrinha, Advogado e Presidente da Assembleia Municipal de Guimarães Quem cresceu nos anos oitenta, fê-lo num meio ainda altamente politizado, filhos que éramos daqueles que tinham vivido o pré e o pós 25 de abril. Com doze anos, lembro-me de ir a comícios políticos. No dia eleições os meus pais tinham por costume reunir-se com amigos, de todos os quadrantes políticos, para assistir à noite eleitoral. No fim, uns vinham mais tristes do que outros, mas ninguém saía zangado com ninguém. Na escola, discutia-se política como faziam os adultos. Uns mais à esquerda, outros mais à direita. Curiosamente, alguns com que comigo debatiam nas escadas do Liceu mais tarde viriam a ser efetivamente adversários políticos a nível local. As voltas que a vida já.
Olhando para trás, constatamos que, apesar de todas as diferenças ideológicas que nos separavam, uma coisa nos unia a todos: éramos democratas. A democracia, uma conquista recente, estava acima do debate político. Que mais não fosse pelo que nos contavam sabíamos o que era viver sem liberdade de imprensa, com os tribunais sequestrados pelo poder, com fraude eleitoral, presos políticos e com um delator a cada esquina.
É por estas e por outras que quando a democracia está em perigo só pode haver um lado da barricada para se estar. Fico, por isso, estarrecido, quando vejo democratas pôr no mesmo prato da balança Lula e Bolsonaro, alguns chegando a dizer que votariam em branco se o pudessem fazer.
Note-se: acho perfeitamente natural que haja quem discorde radicalmente das políticas propostas pelo PT. Até posso perceber quem, apesar de tudo o que se sabe sobre o processo judicial que levou ao encarceramento de Lula e das suas inacreditáveis iniquidades, ponha em causa a sua honestidade. Mas nada disso muda o essencial: de um lado, joga-se o jogo democrático e do outro não.
No momento em que escrevo estas linhas sabemos que Lula ganhou e todos pudemos ouvir o seu discurso de vitória: conciliador e pela positiva. Dando primazia aos sentimentos positivos e pondo de lado o ódio, mesmo após umas eleições onde o argumentário escalou a níveis altamente tóxicos.
Do outro lado, quase 48 horas após o apuramento eleitoral, silêncio. Um silêncio que alimenta as mais delirantes teorias da conspiração. Um silêncio que em vez de apaziguar, faz medrar os instintos mais violentos daqueles que não sabem perder. Já vimos este filme. Em janeiro de 2021, em Washington, pudemos testemunhar em direto onde leva este caminho de desrespeito pelo mais sagrado que a democracia tem: o voto.
Já aqui o escrevi e não me cansarei de repetir: esta não é uma luta entre esquerda e direita. É uma luta entre democratas e aqueles para quem a democracia é descartável e um desagradável empecilho. Porque Maduro não é melhor do que Bolsonaro, da mesma forma que Ortega não é melhor do que Trump. A diferença está nas instituições dos respetivos países e a sua capacidade de resistir aos impulsos ditatoriais de uns e outros.
Para já, o Brasil soube resistir. E no entanto, ficou perto do abismo. Saibamos, os democratas, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que não seja dado o tal passo em frente que nos faça cair nessas profundezas.
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