ESTAS COMPRESSAS SÃO AMIGAS DO AMBIENTE — E FORAM DESENVOLVIDAS POR UM VIMARANENSE
Raúl Machado, investigador do CBMA, na UMinho, explica a composição das compressas transparentes cuja composição é de base totalmente natural.
Raúl Machado, investigador do CBMA, na UMinho, explica a composição das compressas transparentes cuja composição é de base totalmente natural.
Uma compressa transparente, que permite acompanhar a evolução de uma ferida sem ser retirado e que recorre a proteínas naturais. Para além disso, representa uma solução ecológica: “É tudo natural, sem base de petróleo. São biodegradáveis e não tóxicas.” A garantia é dada pelo investigador por detrás deste método natural e que pode mudar a forma como encaramos as feridas e as cicatrizes: o vimaranense Raúl Machado, de 42 anos, que tem desenvolvido esta e outras investigações no Centro de Biologia Molecular e Ambiental (CBMA) da Universidade do Minho (UMinho).
O investigador iniciou o seu percurso académico com uma licenciatura em Biologia Aplicada, a que se sucedeu o mestrado em Genética Molecular. Depois, o doutoramento em Biologia, com especialidade em Ciência e Engenharia de Materiais. Para além de investigador do CBMA, o vimaranense é, também, professor de Empreendedorismo na Escola de Economia e Gestão da academia minhota — depois do doutoramento, decidiu apostar numa pós-graduação em Gestão. O investigador agradece à Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) pelo financiamento no âmbito do projeto FunBioPlas (ERA-IB-2-6/0004/2014).
Voltemos ao projeto. Raúl explica a composição da compressa: “Na natureza temos montes de diversidade de proteínas estruturais, caraterizadas por propriedades físicas. Por exemplo, a seda do bicho-da-seda tem grande resistência. Ou então a elastina, que dá elasticidade à pele, aos pulmões.” Foi a partir de proteínas dessas que, no laboratório, se chegou aos materiais para o filme transparente criado, que, pela translucidez, permitirão o acompanhamento de uma ferida sem ser necessário proceder à sua remoção. E quando chegar a altura de a substituir, não existirá dor, uma vez que “as células da pele não aderem ao filme”. Para além disso, e segundo os testes in vitro realizados em laboratório, as propriedades da compressa não são nocivas para as células da pele — ou seja, “não exibem citotoxicidade”.
Os materiais naturais conjugam-se com os péptidos antimicrobianos que se adicionam à “receita”, responsáveis “pela primeira linha de defesa das células a ataques de bactérias”. Estes péptidos são de “largo espetro” (ou seja, não diferenciam o tipo de bactérias na sua resposta imunitária) e não induzem resistência como os convencionais antibióticos. Como se não bastasse, os filmes transparentes produzidos também são antimicrobianos. E não pode este método aplicar-se, também, aos pensos? Poderá, sim, mas só quando o investigador encontrar um adesivo que se enquadre no âmbito biosustentável do projeto.
“A questão da sustentabilidade está sempre presente”, diz o investigador, acrescentando que existem, porém, “outros aspetos em consideração”: “Para além do menor impacto ambiental possível, também procurarmos tornar o resultado o mais economicamente viável possível.” A investigação, que vai a caminho dos oito anos, procura responder, também, à problemática das bactérias multirresistentes. É como se estas fossem um vilão duro de roer: como o tratamento antibiótico não as abala, encontram espaço no organismo e multiplicam-se. “É um dos problemas mais proeminentes da nossa sociedade. E esta pode ser uma resposta integrada para o mesmo”, salienta.
As compressas podem vir a estar presentes nos nossos kits de primeiros socorros. E substituir os pensos que, ao serem removidos, “fazem bem pior” porque podem voltar a abrir a ferida. Para já, aguardam-se novidades relativamente ao progresso da investigação. Fica o recado: ao cuidar-se de feridas, também se pode ser amigo do ambiente.
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